O
mundo lusófono necessita, à semelhança do que sucede na comunidade britânica,
de um banco de desenvolvimento para que os Estados membros da CPLP possam
desenvolver o "grande potencial económico" existente, defendeu hoje
um académico português.
Bernardo
Teotónio Pereira, professor na Nova School Business of Economics (SBE) da
Universidade Nova de Lisboa, falava à agência Lusa na sequência da abertura da
terceira edição do mestrado "O Potencial Global do Mundo Lusófono",
totalmente lecionado em Português, e que se prolonga até sexta-feira.
"É
fundamental que a CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) seja vista
de forma global e integrada. O mundo tem de ser visto com as potencialidades de
cada região. Temos de montar os alicerces essenciais para fomentar o
desenvolvimento nas nossas comunidades e, para isso, é fundamental, a criação
de um banco de desenvolvimento lusófono", sublinhou.
Teotónio
Pereira lembrou o "bom exemplo" já existente com a criação da União
de Bancos, Seguradoras e Instituições Financeiras da CPLP.
"Esta
diferença dá-nos esse potencial. É essa a visão que temos de voltar a ter: a
nossa geração já não é a mesma da que viveu nas ex-colónias, pelo que temos de
recriar os alicerces e as amizades entre as pessoas e países que falam a mesma
língua. Temos de chegar aos países que falam a nossa língua com a humildade de
lhes perguntar: «em que vos podemos servir?», afirmou o académico português.
"Temos
de deixar aquele estigma da paternidade e voltarmos a essa pergunta base. O
nosso país (Portugal) tem história suficiente para deixar de parte o orgulho
porque, como diz o papa Francisco, «de pessoas importantes estão os cemitérios
cheios»", acrescentou.
Sobre
a cadeira do mestrado que idealizou, e destacando o facto de ser ministrado em
Português nas áreas da Gestão, Economia e Finanças, tradicionalmente em Inglês,
Teotónio Pereira realçou a importância da língua portuguesa no mundo e o
potencial de a usufruir num contexto globalizado.
Nesse
sentido, criticou a política externa portuguesa desenvolvida até hoje,
defendendo que a matriz deve assentar em quatro pilares - Europa, Atlântico,
interesses contíguos ao Mediterrâneo e uma presença que ultrapassa o que
território português.
"Isso
obrigará a que não tenhamos de optar exclusivamente por um deles. Isso é o que
tem acontecido nos últimos anos em Portugal. É ter apenas uma opção e esquecer
as restantes três, que são também essenciais como matriz da identidade",
salientou.
Para
Teotónio Pereira, é "fundamental" que, para uma faculdade internacional,
como a nova SBE, onde 46% dos que frequentam os mestrados é de origem
estrangeira, os alunos venham a Portugal e "consigam levar o sentido de
qual é o valor do sentido de falar a língua" portuguesa.
"Quantas
mais pessoas falarem a nossa língua, mais poder teremos enquanto civilização
lusófona. A ideia não é dizer o que está mal. Para rasgar o passado já bastou a
década de 1970 (independências das antigas colónias). Agora é olhar para um
futuro que tem obrigatoriamente de ser diferente", defendeu.
Dividida
em três partes - Dia da Língua, hoje, Dia do Mundo (quinta-feira) e Visão
Político-Constitucional (sexta-feira) -, o módulo de mestrado contará com a
presença de vários oradores, destacando-se, no último dia, as de António
Vitorino e de Paulo Portas.
Personalidades
ligadas ao empresariado e à cultura - como o Rock in Rio e Conexão Lusófona -,
historiadores e outros académicos são outros dos convidados para a iniciativa.
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