Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
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Não há político que não exiba o combate à pobreza e à desigualdade na lapela.
Todos têm a solidariedade entre as suas prioridades. Todos têm na manga um
punhado de medidas sociais, seja mais um subsídio ou mais dinheiro para a sopa
dos pobres. Seja o político da Oposição ou do Governo. Seja o Tino de Rans ou
Angela Merkel. É assim desde sempre, mas, curiosamente, a desigualdade e a
pobreza não lhes dão ouvidos. Os pobres são cada vez mais e cada vez mais
pobres, os ricos são cada vez menos e cada vez mais ricos. De duas uma: ou os
políticos nos andam a mentir sobre as suas prioridades, ou as suas políticas
não valem um tostão furado. Provavelmente ambas. Segundo o mais recente
relatório da Oxfam, os 62 indivíduos mais ricos do Mundo acumulavam, no ano passado,
tanta riqueza quanto a metade mais pobre do planeta (3600 milhões de pessoas).
Dito de outra forma, 1% da população mundial é agora mais rica do que os
restantes 99%. O combate à fuga e à fraude fiscal por parte das multinacionais,
a melhoria dos salários ou o fim dos paraísos fiscais são algumas medidas que,
diz a Oxfam, ajudariam a travar esta escalada. Aposto que os políticos, os
nossos e os outros, estão de acordo. Mas também que, no próximo ano, os números
serão ainda piores.
2
O Fundo Monetário Internacional, sempre atento às oportunidades de mercado,
aproveitou o Fórum de Davos, que reúne vários representantes dos 1% mais ricos,
para dar conta do impacto económico positivo da chegada massiva de refugiados à
Europa. Países como a Alemanha, a Áustria e a Suécia deverão registar um
razoável aumento do PIB, ou seja, vão ficar mais ricos. Mas isto é apenas no
curto prazo. Se os europeus quiserem que esse impacto positivo se prolongue no
tempo, vai ser preciso incorporar esta gente no mercado de trabalho. Como?
Eliminando temporariamente o salário mínimo a receber pelos futuros
trabalhadores, propõe o FMI. De refugiados passam a escravos.
3
Um grupo de 30 deputados do PS e do PSD conseguiu, junto do Tribunal
Constitucional, inverter a medida que suspendia os subsídios vitalícios dos
políticos. Não é justo, disseram, que políticos que vivem em agregados
familiares com rendimentos superiores a dois mil euros, continuem privados do
prémio a que têm direito, depois de tudo o que deram à nação. Sem essa ajuda,
seria certo e seguro que muita gente cairia na pobreza. Quem? Por exemplo
Ângelo Correia, Joaquim Ferreira do Amaral, Álvaro Barreto, Armando Vara, Bagão
Félix, Rui Gomes da Silva ou Dias Loureiro, para só falar de ex-ministros.
Graças à generosidade dos seus pares já não terão de recorrer à sopa dos pobres.
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