Psicólogos
moçambicanos lamentam a "falta de aceitação" entre o Governo da
FRELIMO e a RENAMO. E dizem que é urgente avançar com propostas para resolver
um conflito que não precisa de desencadear violência.
A
psicologia pode ajudar a orientar os políticos e a sociedade em geral a
resolver a crise político-militar em Moçambique, afirmou, na sexta-feira
(05.02), a psicóloga Alexandra Melo durante uma conferência em Maputo
subordinada ao tema "Psicologia da Paz".
Há
meses que Moçambique vive momentos de instabilidade política. O líder do maior
partido da oposição, Afonso Dhlakama, ameaça, a partir de março, governar em
seis províncias do centro e norte do país, onde a Resistência Nacional
Moçambicana (RENAMO) reivindica ter vencido nas eleições gerais de 2014.
Tem
havido confrontos constantes entre as forças governamentais e homens armados da
RENAMO. Por isso, é urgente avançar com propostas para resolver um conflito
que, segundo Alexandra Melo, "é natural, mas que não queremos que
desencadeie violência."
"Falta
de aceitação"
"Qual
é o problema? O que reparamos é que há falta de aceitação", afirma o
psicólogo Hermenegildo Correia.
A
crise político-militar "é um jogo" entre o partido no poder, a Frente
de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a RENAMO. Mas esse jogo tem de terminar
para se "criar um país melhor", conclui.
A
chave para a tensão político-militar está nas mãos do Governo moçambicanos,
segundo Correia. "Eu acho e tenho fé que temos um partido FRELIMO bastante
maduro e com dirigentes competentíssimos. E sabem como terminar esta
instabilidade."
Já
o psicólogo Leonardo Ediesse considera que, para resolver a tensão é necessário
ter em conta um outro fator - interesses económicos de terceiros devido à
abundância dos recursos naturais.
"Muitos
dos recursos que temos não somos nós, moçambicanos, que consumimos. Será que
esses outros podem intervir na eclosão dos próprios conflitos? É uma questão
aberta em que todos nós devíamos pensar."
Os
"estrangeiros" lucrariam, pois, com a instabilidade no país ao invés
de lucrar com a estabilidade?, questiona Ediesse.
Auto-estima
Por
outro lado, psicólogos entendem que muitos políticos moçambicanos continuam a
não prestar atenção aos traumas que a guerra civil, entre 1976 e 1992, causou
em vários grupos sociais, sobretudo em crianças.
"Há
necessidade de os psicólogos tentarem trabalhar com as pessoas, para as ensinar
que já não precisamos da guerra", afirma o psicólogo Nataniel Moela.
Seria
necessário, principalmente, superar problemas de auto-estima no seio da
população. Segundo este psicólogo, a razão principal da origem dos confrontos
militares tem sido a inferiorização das pessoas. "Quando a pessoa perde a
sua auto-estima, fica violenta. E o que se espera de uma pessoa violenta são
percursos incalculáveis, decisões impensáveis", diz.
Porém,
a tarefa dos psicólogos não é fácil, pois as pessoas que sofrem com os traumas
estão em zonas de conflito. "Entrar no campo de trabalho" é difícil.
Na
foto: Local de ataque a líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, em setembro de 2015
Romeu
da Silva (Maputo) – Deutsche Welle
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