José
Eduardo Agualusa – Rede Angola, opinião
À
data em que escrevo esta crónica, uma quinta-feira, 24 de Março, Nuno Dala
entrou no 15º dia de greve de fome. Dala está no Prisão de São Paulo. Tem uma
filha com apenas nove meses. Não consegue ajudar a família, não apenas por
estar preso, mas porque a polícia reteve os seus cartões Multicaixa, dinheiro,
e documentos pessoais.
Na
próxima segunda-feira, 28 de Março, deve ser lida a sentença do processo dos 15
+ 2. A acusação inicial era de tentativa de golpe de Estado e atentado contra o
Presidente da República. Mais tarde mudou para “actos preparatórios de rebelião
e atentado contra o Presidente da República”. Nas alegações finais, a mais
famosa franja do país – a maior franja do mundo! – que representa no tribunal o
Ministério Público, reconheceu o disparate das primeiras acusações, mas avançou
com outra acusação e com um inédito disparate: os acusados constituíram uma
associação de malfeitores.
Ao
longo dos últimos nove meses aconteceu o que era previsível – a justiça
angolana perdeu credibilidade e o regime cobriu-se de um ridículo magnífico e
carnavalesco. Os jovens, esses, fortaleceram-se ao longo do processo. São hoje
figuras conhecidas dentro e fora do país.
A
esta altura dos acontecimentos já ninguém acredita na independendência do
tribunal. Trata-se de um espectáculo político, com um roteiro de tal forma
insensato que não permite sequer prever o desfecho. Quando escrevo que o
roteiro me parece insensato não me refiro apenas ao facto de ofender o simples
bom senso; a verdade, como se viu ao longo destes meses, é que nem sequer
resulta em benefício do próprio regime, muito pelo contrário. Não beneficia
nada nem ninguém.
Se
houvesse um mínimo de bom senso, para não falar em justiça, os jovens
recomeçariam a vida na segunda-feira, após todos estes meses de privação de
liberdade. Assim, não sabemos. Devemos estar preparados, todos quantos combatem
pela democracia e pela justiça em Angola, para uma nova etapa de luta. A
Amnistia Internacional (AI) e a Liberdade aos Presos Políticos em Angola
(LPPA) anunciaram, para a próxima segunda-feira, uma marcha em Lisboa. O mais
natural, caso os jovens não sejam imediatamente libertados, é que este tipo de
projectos se multiplique e ganhe um novo fôlego.
Num
país como o nosso, um cronista não pode queixar-se de falta de assunto. O
problema é escolher qual o assunto mais urgente. Hoje escolhi falar de Nuno
Dala e dos seus companheiros. Podia ter escolhido falar do destino de muitos
outros angolanos inocentes, vítimas da Injustiça Oficial, ou seja, da má
governação, da corrupção, da incúria, do deprezo de quem tudo pode, tudo manda
e tudo tem. Escolhi falar de Nuno Dala e dos seus companheiros porque não posso
ficar em silêncio diante do sofrimento de jovens que se juntaram para lutar por
todos nós. Que se atreveram a lançar um pouco de luz – um gesto de esperança –
no meio da mais deprimente escuridão.
Associação
de malfeitores?! Agora
entendo a razão da franja. É como enfiar a cabeça na areia, não de medo, mas de
vergonha.
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