Se
o golpe avança, a resistência não pode hesitar. E não hesitar implica em
primeiro lugar em ter clareza do que está em jogo nas próximas horas.
A
avenida Paulista amanheceu bloqueada nesta 5ª feira pela PM do governador
Geraldo Alckmin. Soldados em número superior ao de meia centena de gatos
pingados que impediam o trânsito fecharam as duas pistas em três quarteirões da
principal via da cidade.
O
nome disso é golpe.
O significado é claro: a direita paulista lidera a marcha da sedição contra o governo democrático da Presidenta Dilma.
Tevês
e jornais insuflam na mesma direção nesta 5ª feira decisiva.
A
edição vergonhosa da Folha de SP, por exemplo, veio encimada pela tarja que a
polícia de Alckmin tenta materializar na rua: 'Governo sitiado'.
Esse
não é o fato; é o vaticínio salivado pelo diário que na ditadura
franqueava viaturas à OBAN para a polícia política de Fleury colher suas
vítimas e desovar seus corpos.
Se
o golpe avança, a resistência não pode hesitar. E não hesitar implica em
primeiro lugar em ter clareza do que está em jogo nas próximas horas.
Foi
isso o que moveu centenas de intelectuais e juristas que afluíram ao TUCA, o
teatro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC) na noite desta 4ª
feira para uma reunião de planejamento da luta que agora urge.
Com
o auditório lotado, uma multidão tomou o lado de fora da Universidade para
acompanhar o ato por um telão.
Num
clima de tensão e engajamento ecumênico, personalidades e intelectuais de
diferentes correntes progressistas , desde a filósofa Marilena Chauí ao
economista e ex-ministro de Fernando Henrique Cardoso, Luis Carlos Bresser
Pereira , alertaram para a iminência de uma ruptura de ciclo histórico.
É
isso que está em jogo e, portanto, a resistência não pode ser acanhada nas ruas
e nos objetivos.
O
ato transcorreu em ambiente de elevado nervosismo com as notícias da tentativa
do juiz Moro de impedir a posse de Lula no ministério, ao divulgar grampo
ilegal de diálogo entre Dilma e o ex-presidente, transcorrido depois de já
confirmada a sua nomeação ao cargo de Chefe da Casa Ciivil.
A
divulgação das gravações foi a senha da sedição golpista e a evidência de que o
movimento golpista penetrou as entranhas do judiciário em clara ameaça às
instituições.
O
juiz-conspirador que se despiu de qualquer verniz de legalidade nas últimas
horas age claramente determinado a convulsionar o ambiente político.
A
sorte de Moro conflita com o destino da democracia no país.
Se
a Suprema corte e o CNJ, aos quais ele está subordinado, sancionarem seus atos,
a nação terá sido rebaixada à condição de um regime de beleguins e ele será
coroado seu imperador.
Na
corte dos beleguins, a diretoria da Fiesp comandada por uma sombria figura que
há muito não exerce qualquer atividade produtiva, empalmará o comando da
economia para implantar as reformas anti-trabalhistas e anti-sociais que
reivindica em defesa do capitalismo selvagem.
Foi
com essa sofreguidão que a Fiesp, de Paulo Skaf, ex-tudo, agiu em sugestiva
sintonia com Moro na noite faiscando a convocação de protestos na avenida
pela derrubada do regime, em frente a sua sede tumba, previamente equipada com
um palanque desde as primeiras horas da tarde de ontem...
Foi
essa percepção de um cerco arquitetado que marcou as intervenções dos oradores
no ato pela democracia no teatro da PUC na mesma hora.
Ao
exortar à resistência cívica contra o golpe em marcha, intelectuais
e juristas alertaram: o que está em jogo não é só defesa da legalidade
representada pelo mandato concedido por 54,5 milhões de votos à
presidenta Dilma, mas sim --explicitou Chauí em sua intervenção no TUCA-
impedir que se esmague o espaço público e os direitos sociais duramente
abrigados na Constituição de 1988 --agora acossados pelo 'alargamento da
lógica privada, com a qual o neoliberalismo fere de morte a democracia',
desnudou a filósofa.
A
resistência convocada pelas personalidades que afluíram ao TUCA terá um ponto
alto nesta sexta-feira, dia 18.
Atos
de uma frente ampla de forças democráticas, nacionalistas e progressistas vão
ocorrer em todo o Brasil contra a ofensiva golpista que pretende sitiar não
apenas o governo --como atiça vergonhosamente a Folha de São Paulo -- mas
as garantias de participação popular na democracia e nos frutos do
desenvolvimento, apenas esboçadas, mas já intoleradas, nos governos do ciclo
que começou em 2003.
Esse
processo desembocou na atual transição em que a decisão sobre o passo
seguinte da história brasileira expõe o conflito entre duas concepções de
sociedade e de democracia.
De
um lado, uma plutocracia que reserva a nação e as riquezas do crescimento
a 30% de privilegiados.
Na
outra ponta, a opção desassombrada pela construção de uma democracia social
na nação que se tornou uma das principais referências da luta pelo
desenvolvimento no mundo. E que por isso está sendo acossada por interesses gigantescos.
A
encruzilhada brasileira é uma questão de poder : foi isso o que disse a palavra
engajada dos intelectuais na PUC.
O
poder nesse momento será decidida nas ruas, onde a sociedade definirá seu
caminho caminhando.
É
essa caminhada que decidirá a permanência de Dilma e o espaço de ação de
Lula em Brasília.
Em
São Paulo, a manifestação da sexta-feira começa às 16 horas no vão livre do
MASP, na venida Paulista.
Não
há tempo para hesitar: essa é a hora em que a democracia se impõe ou os
tiranetes assumem o comando.
Dia
18, 16 horas, MASP/av. Paulista.
Carta
Maior
Sem comentários:
Enviar um comentário