Os
escritores brasileiros Marcelino Freire, Felipe Munhoz e Carol Rodrigues
criticaram hoje, num debate em Macau, as manifestações de domingo no Brasil,
falando num "movimento reacionário" de "caça à esquerda" e
aos "avanços sociais" no país.
Os
três estão em Macau para o Festival Literário Rota das Letras e participaram
hoje num debate sobre "A nova literatura brasileira", manifestando
preocupação com o momento político que o Brasil atravessa.
"Estar
longe do país num momento em que o país está precisando de você é complicado. O
tempo inteiro a gente está discutindo isso: que país vamos encontrar? Volto no
domingo, não sei se Dilma Rousseff ainda é Presidente, se Lula foi preso, se
esse avanço conservador venceu, se vou ter de pegar em armas", disse
Marcelino Freire, autor de "Angu de Sangue", Contos Negreiros" e
do premiado "Nossos Ossos", que ganhou o prémio Machado de Assis 2014
para o melhor romance.
"Tem
uma caça à esquerda, aos avanços sociais no Brasil", afirmou o escritor,
referindo-se ao que considera "uma onda conservadora, muito perigosa"
que recusa "os avanços que o governo de esquerda fez".
Sublinhando
que os políticos corruptos "têm de ser depostos", Felipe Munhoz
afirmou que não pode haver "uma atitude violenta, uma perseguição
direta" como está a acontecer com esta "oposição reacionária"
vinda de um "movimento muito conservador e ligado à religião".
"Tudo
tem de ser investigado. Não se pode inverter essa ordem", frisou.
Para
os três escritores há uma ideia falsa de que se trata de um reação aos casos de
corrupção no Partido dos Trabalhadores.
"A
corrupção sempre existiu e nunca foi investigada. O que sentimos é que está
tudo a ser manipulado, a haver um aproveitamento muito grande. Claro que todo o
corrupto tem de ser afastado, mas pelas vias legais", defendeu Carol
Rodrigues, cujo primeiro livro, "Sem Vista para o Mar", ganhou os
prémios brasileiros Jabuti e Clarice Lispector de 2015 na categoria de contos.
Para
Marcelino Freire, acreditar que "acabou a corrupção" é "muita
ingenuidade".
"A
corrupção não acaba com Lula. Há uma perseguição ferrenha. Claro que o partido
deve explicações, mas que não seja uma coisa de manipulação para que se pegue o
poder de volta e não se faça nada, como no tempo do governo de direita",
afirmou.
Pelo
menos 3,6 milhões de pessoas protestaram nas ruas de todo o Brasil, no domingo,
pedindo a saída da Presidente Dilma Rousseff do Governo, segundo dados da
polícia militar.
Os
protestos também tiveram como alvo o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
fundador e principal líder do PT, investigado pela Operação Lava Jato e pelo
Ministério Público de São Paulo (investigação da Polícia Federal sobre
corrupção, branqueamento de capitais e desvio de dinheiro, inclusivamente na
Petrobras).
ISG
(CSR)// APN
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