quinta-feira, 24 de março de 2016

Família preocupada com ativista angolano em greve de fome há duas semanas



A irmã do professor universitário angolano Nuno Dala, um dos 17 ativistas que respondem em tribunal à acusação de preparação de uma rebelião, alertou hoje para o agravamento do seu estado saúde, em greve de fome há duas semanas.

A irmã do ativista e investigador, que a 07 de março se recusou a comparecer ao julgamento contra a falta de assistência médica tendo então recolhido à prisão, afirma que Nuno Dala movimenta-se em cadeira de rodas, devido à sua debilidade, apesar de manter a lucidez.
"Estou a chegar do hospital-prisão de São Paulo, de estar com ele, e estou super preocupada, parece que a sociedade não está nem aí para a situação do meu irmão. Ele está muito fraco, debilitado, já não consegue caminhar ou ficar de pé. Movimenta-se numa cadeira de rodas", disse à Lusa Gertrudes Dala.

De acordo com a irmã, Nuno Dala, de 31 anos, apenas ingere líquidos desde 10 de março e está já a ser acompanhado por um médico e psicólogos dos Serviços Prisionais angolanos.
"Estive a conversar com ele algum tempo, mas está determinado em continuar com a greve de fome até que resolvam os seus problemas, da saúde, dos exames e do dinheiro das contas. Ele está preocupado porque tem uma filha de nove meses", recordou Gertrudes.

Para 25, 26 e 27 de março foram convocadas vigílias noturnas em Luanda, em solidariedade com Nuno Dala.

O 'rapper' luso-angolano Luaty Beirão, outro dos réus neste processo, em que 17 ativistas são acusados de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado contra o Presidente angolano, chegou a realizar uma greve de fome que se prolongou por 36 dias, entre setembro e outubro, em protesto contra a sua prisão preventiva.

Na carta em que anuncia a sua greve de fome, Nuno Dala justifica a decisão com as "violações" dos seus direitos, como a impossibilidade de ter acesso às contas bancárias "para fazer face às necessidades materiais e financeiras" da família. Diz também que ainda aguarda pelos resultados de vários exames médicos a que foi submetido no laboratório do Hospital Militar Principal ou pela devolução de verbas e documentos apreendidos aquando da sua detenção, em junho de 2015.

"Outros exames nunca sequer foram feitos. Por outro lado, continuo sem receber tratamento efetivo das patologias de que padeço", denuncia o ativista, garantindo que apenas suspende o protesto quando as exigências "forem satisfeitas", incluindo a "devolução de todos os valores eventualmente saqueados" das suas contas.

Juntamente com outros 14 ativistas - duas jovens também acusadas ficaram sempre em liberdade -, Nuno Dala esteve em prisão preventiva entre 20 de junho e 18 de dezembro, altura em que passou ao regime de prisão domiciliária, na revisão das medidas de coação pelo tribunal de Luanda.

Contudo, por se recusar a comparecer ao julgamento, que apelida de "uma mentira" e "uma demonstração clara de que não existe poder judicial independente" em Angola, o juiz do processo alterou a medida de coação de novo para prisão preventiva.

A leitura da sentença deste processo ficou agendada para 28 de março, na 14.ª Secção do Tribunal Provincial de Luanda, no Benfica.

PVJ // EL - Lusa

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