A
irmã do professor universitário angolano Nuno Dala, um dos 17 ativistas que
respondem em tribunal à acusação de preparação de uma rebelião, alertou hoje
para o agravamento do seu estado saúde, em greve de fome há duas semanas.
A
irmã do ativista e investigador, que a 07 de março se recusou a comparecer ao
julgamento contra a falta de assistência médica tendo então recolhido à prisão,
afirma que Nuno Dala movimenta-se em cadeira de rodas, devido à sua debilidade,
apesar de manter a lucidez.
"Estou
a chegar do hospital-prisão de São Paulo, de estar com ele, e estou super
preocupada, parece que a sociedade não está nem aí para a situação do meu
irmão. Ele está muito fraco, debilitado, já não consegue caminhar ou ficar de
pé. Movimenta-se numa cadeira de rodas", disse à Lusa Gertrudes Dala.
De
acordo com a irmã, Nuno Dala, de 31 anos, apenas ingere líquidos desde 10 de
março e está já a ser acompanhado por um médico e psicólogos dos Serviços
Prisionais angolanos.
"Estive
a conversar com ele algum tempo, mas está determinado em continuar com a greve
de fome até que resolvam os seus problemas, da saúde, dos exames e do dinheiro
das contas. Ele está preocupado porque tem uma filha de nove meses",
recordou Gertrudes.
Para
25, 26 e 27 de março foram convocadas vigílias noturnas em Luanda, em
solidariedade com Nuno Dala.
O
'rapper' luso-angolano Luaty Beirão, outro dos réus neste processo, em que 17
ativistas são acusados de atos preparatórios para uma rebelião e um atentado
contra o Presidente angolano, chegou a realizar uma greve de fome que se
prolongou por 36 dias, entre setembro e outubro, em protesto contra a sua
prisão preventiva.
Na
carta em que anuncia a sua greve de fome, Nuno Dala justifica a decisão com as
"violações" dos seus direitos, como a impossibilidade de ter acesso
às contas bancárias "para fazer face às necessidades materiais e
financeiras" da família. Diz também que ainda aguarda pelos resultados de
vários exames médicos a que foi submetido no laboratório do Hospital Militar
Principal ou pela devolução de verbas e documentos apreendidos aquando da sua
detenção, em junho de 2015.
"Outros
exames nunca sequer foram feitos. Por outro lado, continuo sem receber
tratamento efetivo das patologias de que padeço", denuncia o ativista,
garantindo que apenas suspende o protesto quando as exigências "forem
satisfeitas", incluindo a "devolução de todos os valores
eventualmente saqueados" das suas contas.
Juntamente
com outros 14 ativistas - duas jovens também acusadas ficaram sempre em
liberdade -, Nuno Dala esteve em prisão preventiva entre 20 de junho e 18 de
dezembro, altura em que passou ao regime de prisão domiciliária, na revisão das
medidas de coação pelo tribunal de Luanda.
Contudo,
por se recusar a comparecer ao julgamento, que apelida de "uma
mentira" e "uma demonstração clara de que não existe poder judicial
independente" em Angola, o juiz do processo alterou a medida de coação de
novo para prisão preventiva.
A
leitura da sentença deste processo ficou agendada para 28 de março, na 14.ª
Secção do Tribunal Provincial de Luanda, no Benfica.
PVJ
// EL - Lusa
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