Hong
Kong, China, 08 mar (Lusa) -- O livreiro de Hong Kong Lee Bo temia que o seu
colega Gui Minhai tivesse sido raptado por agentes chineses, demonstra um
e-mail enviado pelo próprio em novembro e que o jornal South China Morning Post
hoje revelou.
Tanto
Lee Bo como Gui Minhai, dois dos cinco livreiros de Hoong Kong que estiveram
desaparecidos desde outubro e este ano reapareceram sob custódia das
autoridades da China continental, negaram publicamente terem sido sequestrados
em confissões transmitidas por canais de televisão.
O
South China Morning Post (SCMP) teve acesso a um e-mail de Lee Bo, datado de 10
de novembro do ano passado, enviado à filha de Gui Minhai, Angela, em que
afirmava que o seu pai, que tinha desaparecido durante umas férias na Tailândia
em outubro, tinha sido "levado por agentes especiais da China por motivos
políticos". Este e-mail foi enviado antes de o próprio Lee desaparecer, em
finais de dezembro.
Gui
Minhai, com passaporte sueco, é dono da editora Mighty Current e tem como sócio
Lee Bo, com passaporte britânico. A Mighty Current está associada à livraria
Causeway Bay Books, que vendia livros críticos do Partido Comunista chinês.
Liu
Por era gerente da empresa, Cheung Ji-ping seu assistente e Lam Wing-kei
gerente da livraria. Na semana passada, a China anunciou que estes três últimos
seriam libertados em breve, o que já aconteceu com dois.
"Escrevo-te
acerca do paradeiro de Michael. Pergunto-me se sabias que está desaparecido há
mais de 20 dias, receamos que tenha sido levado por agentes especiais da China
por motivos políticos", pode ler-se no e-mail, em que Lee Bo se refere a
Gui pelo seu nome inglês.
"Falámos
pela última vez com o Michael por e-mail a 15 de outubro, e depois desse dia
ninguém conseguiu contactá-lo. Ele estava instalado no seu apartamento na
Tailândia", indica o e-mail, citando um relato do segurança do edifício,
que afirmou que a mulher de Gui disse que ele deixou o apartamento com vários
homens que alegaram ser seus amigos.
"Há
muito pouco que possamos fazer para ajudar Michael porque não somos familiares
diretos. Por isso pensei em ti, talvez possas fazer algo, há muitos amigos do
Michael que estão prontos para ajudar se precisares. Diz-me o que achas e o que
queres que façamos", escreveu Lee Bo.
O
e-mail contradiz a versão apresentada pelo próprio Lee semanas depois do seu
desaparecimento. Numa carta que alegadamente escreveu à sua mulher, Sophie Choi
Ka-ping, Lee culpou Gui pela situação em que se encontrava, descrevendo-o como
"uma pessoa moralmente inaceitável" que tinha "uma história
pessoal complicada".
No
mesmo mês em que Gui (nascido na China continental e mais tarde naturalizado
sueco) desapareceu, Lui Por, Cheung Chi-ping e Lam Wing-kee desapareceram
também na China.
No
final de dezembro, foi a vez de Lee desaparecer de Hong Kong, sem registo de
que tinha atravessado a fronteira.
O
desaparecimento dos cinco livreiros gerou receios de que tivessem sido
sequestrados por agentes chineses por a editora e a livraria se especializarem
em publicações críticas do Partido Comunista chinês.
Em
janeiro, Gui apareceu na televisão estatal chinesa, afirmando que se tinha
entregado às autoridades da China continental devido a um atropelamento fatal
de que tinha sido autor em 2004, na província de Zhejiang.
Gui
foi mais tarde acusado de ordenar os seus associados a vender cerca de 4.000
livros proibidos a compradores residentes no continente chinês desde outubro de
2014.
"Sem
dúvida que acho que ele foi pressionado a dizer as coisas que disse. Porque
nunca ouvi falar destas coisas, destas alegações", disse Angela Gui ao
SCMP numa entrevista telefónica a partir do Reino Unido, acrescentando que a
"confissão" do seu pai na CCTV "definitivamente parecia
encenada".
ISG
// MP
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