terça-feira, 8 de março de 2016

LIVREIRO DE HONG KONG TEMIA RAPTO DE COLEGA POR AGENTES CHINESES



Hong Kong, China, 08 mar (Lusa) -- O livreiro de Hong Kong Lee Bo temia que o seu colega Gui Minhai tivesse sido raptado por agentes chineses, demonstra um e-mail enviado pelo próprio em novembro e que o jornal South China Morning Post hoje revelou.

Tanto Lee Bo como Gui Minhai, dois dos cinco livreiros de Hoong Kong que estiveram desaparecidos desde outubro e este ano reapareceram sob custódia das autoridades da China continental, negaram publicamente terem sido sequestrados em confissões transmitidas por canais de televisão.

O South China Morning Post (SCMP) teve acesso a um e-mail de Lee Bo, datado de 10 de novembro do ano passado, enviado à filha de Gui Minhai, Angela, em que afirmava que o seu pai, que tinha desaparecido durante umas férias na Tailândia em outubro, tinha sido "levado por agentes especiais da China por motivos políticos". Este e-mail foi enviado antes de o próprio Lee desaparecer, em finais de dezembro.

Gui Minhai, com passaporte sueco, é dono da editora Mighty Current e tem como sócio Lee Bo, com passaporte britânico. A Mighty Current está associada à livraria Causeway Bay Books, que vendia livros críticos do Partido Comunista chinês.

Liu Por era gerente da empresa, Cheung Ji-ping seu assistente e Lam Wing-kei gerente da livraria. Na semana passada, a China anunciou que estes três últimos seriam libertados em breve, o que já aconteceu com dois.

"Escrevo-te acerca do paradeiro de Michael. Pergunto-me se sabias que está desaparecido há mais de 20 dias, receamos que tenha sido levado por agentes especiais da China por motivos políticos", pode ler-se no e-mail, em que Lee Bo se refere a Gui pelo seu nome inglês.

"Falámos pela última vez com o Michael por e-mail a 15 de outubro, e depois desse dia ninguém conseguiu contactá-lo. Ele estava instalado no seu apartamento na Tailândia", indica o e-mail, citando um relato do segurança do edifício, que afirmou que a mulher de Gui disse que ele deixou o apartamento com vários homens que alegaram ser seus amigos.

"Há muito pouco que possamos fazer para ajudar Michael porque não somos familiares diretos. Por isso pensei em ti, talvez possas fazer algo, há muitos amigos do Michael que estão prontos para ajudar se precisares. Diz-me o que achas e o que queres que façamos", escreveu Lee Bo.

O e-mail contradiz a versão apresentada pelo próprio Lee semanas depois do seu desaparecimento. Numa carta que alegadamente escreveu à sua mulher, Sophie Choi Ka-ping, Lee culpou Gui pela situação em que se encontrava, descrevendo-o como "uma pessoa moralmente inaceitável" que tinha "uma história pessoal complicada".

No mesmo mês em que Gui (nascido na China continental e mais tarde naturalizado sueco) desapareceu, Lui Por, Cheung Chi-ping e Lam Wing-kee desapareceram também na China.

No final de dezembro, foi a vez de Lee desaparecer de Hong Kong, sem registo de que tinha atravessado a fronteira.

O desaparecimento dos cinco livreiros gerou receios de que tivessem sido sequestrados por agentes chineses por a editora e a livraria se especializarem em publicações críticas do Partido Comunista chinês.

Em janeiro, Gui apareceu na televisão estatal chinesa, afirmando que se tinha entregado às autoridades da China continental devido a um atropelamento fatal de que tinha sido autor em 2004, na província de Zhejiang.

Gui foi mais tarde acusado de ordenar os seus associados a vender cerca de 4.000 livros proibidos a compradores residentes no continente chinês desde outubro de 2014.

"Sem dúvida que acho que ele foi pressionado a dizer as coisas que disse. Porque nunca ouvi falar destas coisas, destas alegações", disse Angela Gui ao SCMP numa entrevista telefónica a partir do Reino Unido, acrescentando que a "confissão" do seu pai na CCTV "definitivamente parecia encenada".

ISG // MP

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