terça-feira, 29 de março de 2016

Seguidores da seita angolana "A luz do mundo" arriscam pena máxima de 24 anos



Os elementos da seita angolana "A luz do mundo" acusados do homicídio de nove polícias no Huambo conhecem na quarta-feira a sentença, mas nem a defesa acredita que o líder, José Julino Kalupeteka, escape à condenação.

Esta é uma semana que está a colocar à prova a Justiça angolana, com sentenças nos seus dois casos mais mediáticos e acompanhados internacionalmente, que começou com a condenação, na segunda-feira, em Luanda, de 17 ativistas angolanos a penas até oito anos e meio de cadeia.

Segue-se na quarta-feira a leitura da sentença de Kalupeteka e de mais nove dos seus seguidores, com o Ministério Público (MP) do Huambo a exigir a condenação dos dez homens - em cúmulo jurídico pode chegar aos 24 anos de prisão efetiva -, enquanto a defesa pediu a absolvição de todos por "insuficiência de provas".

O caso marcou a atualidade internacional desde abril de 2015, com as denúncias da oposição angolana e de algumas organizações - sempre negadas pelo Governo - apontando a morte de centenas de seguidores daquela seita nos confrontos com a polícia no monte Sumi, Huambo, matéria que o tribunal não analisou.

Durante o julgamento, que decorreu entre janeiro e fevereiro, o líder da seita e principal visado neste julgamento, José Julino Kalupeteka, também apelidado de "profeta" pelos seus seguidores e que advogava o fim do mundo em 2015, recusou a autoria dos confrontos ou dos atos de violência que terminaram com a morte dos agentes da polícia, que o tentavam prender, na altura.

"Num processo como este, muito mediático e com muita interferência política, não estou a ver a probabilidade de o tribunal absolver por exemplo o Kalupeteka. Mas há pessoas que ficou muito claro que não tinham nada que ver com o que aconteceu", disse o advogado de defesa David Mendes, em declarações este mês à Lusa.

Kalupeteka, de 46 anos e detido preventivamente desde abril de 2015, é o principal visado dos dez acusados e está indiciado pela coautoria material de nove crimes de homicídio qualificado consumado, crimes de homicídio qualificado frustrado e ainda de desobediência, resistência e posse ilegal de arma de fogo.

Os restantes elementos são visados igualmente por crimes de homicídio qualificado consumado e frustrado.

A defesa, assegurada pelos advogados da associação "Mãos Livres" e liderada por David Mendes, insiste que não ficou provado que o líder da seita terá desobedecido, resistido às autoridades ou orientado os seus seguidores a criarem postos de vigilância para, posteriormente, agredirem os agentes da Polícia Nacional.

Já o MP concluiu que antes do crime, a 16 de abril - confrontos que levaram à morte, segundo a versão oficial, de nove polícias e 13 fiéis, no Huambo -, os elementos daquela igreja prepararam machados, facas, mocas para atacar os "inimigos da seita ou mundanos".

Em causa estão os confrontos entre os fiéis e a polícia, cujos agentes tentavam dar cumprimento a um mandado de captura - na sequência de outro caso de violência na província vizinha do Bié e que também está a ser julgado - de Kalupeteka e outros dirigentes e alguns dos seguidores que estavam concentrados no acampamento daquela igreja, no monte Sumi, província do Huambo.

A defesa alegou anteriormente que na zona dos confrontos estariam cerca de oito dezenas de adultos, crianças e bebés, tendo a polícia apresentado em tribunal mais de 80 armas, como mocas e machados, apreendidos no local, suspeitando por isso da veracidade destas provas.

A acusação contra os homens, com idades entre os 18 e os 54 anos, refere que as mortes dos agentes da polícia resultaram essencialmente de agressões com objetos contundentes, inclusive paus, punhais e catanas, às quais alguns polícias responderam com disparos.

PVJ // VM - Lusa

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