O
antigo secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, apelou hoje aos líderes
africanos para que abandonem os cargos no final dos mandatos e para que evitem
excluir a oposição nas eleições, contribuindo para diminuir os conflitos no
continente. A Angola a mensagem nunca chegará.
Odiplomata
ganês defendeu que, apesar de se terem reduzido alterações inconstitucionais na
governação no continente africano, políticas exclusivistas ameaçam reverter os
avanços registados.
“Eu
penso que África se tem saído bem, de uma forma geral os golpes acabaram, os
generais têm-se mantido nas suas casernas, mas estamos a criar situações que
podem trazê-los de volta”, alertou o Nobel da Paz de 2001, numa entrevista a
propósito do quinto Fórum de Alto Nível de Tana, dedicado ao tema da segurança
em África, que decorreu nos últimos dias em Bahir Dar, polo turístico na
Etiópia.
“Se
um líder não quer abandonar o cargo, se permanecer por demasiado tempo, e se as
eleições são vistas como viciadas para favorecerem um líder e ele se mantiver
mandato após mandato após mandato, é possível que a única forma de o retirar
seja através de um golpe ou o povo saindo à rua”, considerou, em declarações
divulgadas pela Organização da Imprensa Africana.
Por
mero acaso citem-se os exemplos de Angola e da Guiné Equatorial, onde os
respectivos reis estão no poder desde 1979. Coisa pouca, obviamente.
“Nenhuma
abordagem deve ser vista como uma alternativa à democracia, às eleições ou às
regras parlamentares. As constituições e as regras do jogo devem ser
respeitadas”, avisou Kofi Annan, mesmo sabendo que nada disso é praticado em
muitos países, desde logo no do seu amigo José Eduardo dos Santos.
O
antigo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), orador
principal do fórum deste ano, disse que abordagens totalitárias às eleições no
continente resultavam na exclusão de cidadãos opositores ao regime, aumentando
tensões em redor dos actos eleitorais.
Pois.
Palavras leva-as o vento. Aliás, sendo Angola prova disso tudo, a ONU deu-lhe
assento no seu Conselho de Seurança.
Kofi
Annan recordou ter sido o primeiro a defender, junto da União Africana, que não
aceitasse, no seu seio, líderes que estivessem no poder graças a golpes.
O
diplomata também sustentou que as soluções para os problemas do continente têm
de vir do seu interior. No entanto, o continente deve trabalhar a sua
capacidade para tal, incluindo o financiamento às suas instituições.
“Não
podemos estar sempre de mão estendida e insistir que queremos ser soberanos e
independentes. Devemos liderar e conseguir o apoio dos outros — esse apoio
aparecerá muito mais quando virem quão sérios e empenhados nós estamos”,
salientou.
Recordam-se,
por exemplo, do relatório Africa Progress Report 2013, elaborado por um grupo
de personalidades coordenada por Kofi Annan e do qual fez parte Graça Machel?
Nele se dizia:
“Enquanto
a elite angolana usa o rendimento do petróleo para comprar activos no
estrangeiro, em Angola as crianças passam fome”.
Além
disso a taxa de mortalidade infantil, até aos cinco anos, de Angola está no
topo da lista: é a oitava maior do mundo, com 161 mortes em 1000 crianças por
ano, o que representa 116 mil mortes todos os anos. A subnutrição explica um
terço destes óbitos de crianças.
“Em
nome do desenvolvimento económico, sob a égide do capitalismo, encontram-se
justificações para a prática da corrupção, a falta de transparência nas contas
do Estado e a falta de reconhecimento dos direitos de propriedade. A moral e a
ética não fazem parte da cultura da ‘burguesia angolana emergente’, o que
‘legitima’ a coarctação da democracia em defesa do status quo da elite
reinante”, afirma o economista José Dias Amaral.
“José
Eduardo dos Santos está há tanto tempo no cargo que passou a governar o país
como um autêntico monarca”, acusa por sua vez o cientista político Nelson
Pestana, da Universidade Católica de Angola, e dirigente do Bloco Democrático.
Folha
8
Sem comentários:
Enviar um comentário