Felisbela
Lopes – Jornal de Notícias, opinião
Há
um grave impasse político em diferentes geografias por distintos motivos. Em
comum, o facto de os governantes não conseguirem largar a cadeira do poder.
Estão agarrados a ela de forma quase umbilical. O que torna os respetivos
países ingovernáveis e os cidadãos revoltados. Renunciem! Está na hora de dar
lugar a uma nova geração. Com outras ideias e sem vícios.
Brasil.
Depois de uma inenarrável tarde de domingo no Congresso dos Deputados, Dilma
Rousseff vê o seu processo de destituição subir até ao último degrau, o Senado.
Antes da votação dos deputados, a presidente do Brasil gritou reiteradamente
que "impeachment sem crime de responsabilidade é golpe". Sente-se a
determinação em ficar onde está, mas a sua vontade há muito que é comandada por
forças externas a si. Enfrentando o mesmo processo em finais de 1992, Collor de
Melo deixou o cargo em 48 horas. Dilma pode manter-se à frente do país quase um
mês e, quando for obrigada a descer a rampa do Planalto, promete uma guerra sem
tréguas ao seu substituto, Michel Temer. No entanto, aquele que, até há pouco
tempo, foi vice-presidente do Brasil não trará, decerto, um novo elã à política
brasileira. Com 75 anos, Temer conhece bem os corredores do poder. Tão bem os
domina que os usou com fina mestria a semana passada, quando fez entrar na sua
residência oficial um verdadeiro corrupio de reuniões para influenciar o voto
na Câmara dos Deputados. Ainda sem a decisão do Senado, ei-lo a preparar o
Governo. Na gestão da informação que veicula para os média, vai procurando
subtrair um assunto sensível: a forma como lidará com o Ministério Público e a
Polícia Federal. Porque nunca é demais lembrar que a operação Lava Jato atinge
mais o PMDB de Temer do que o PT de Dilma e Lula. O presidente da Câmara dos
Deputados e o braço-direito de Temer e seu substituto na presidência do PMDB
estão a ser investigados neste dedálico processo judicial que já meteu nas
prisões 155 pessoas, constituiu 179 réus e fez devolver aos cofres públicos 3
biliões de reais. A aposta nos velhos políticos traz como brinde um passado de
bastidores nem sempre transparentes...
Espanha.
Quatro meses depois das eleições gerais, o país vizinho ainda não conseguiu
formar Governo. O mais certo é repetir as eleições... com os mesmos candidatos.
Qualquer leigo em política poderia dizer que o mais avisado seria mudar os
líderes partidários. Os média noticiosos já discutiram eventuais substituições
de Mariano Rajoy e de Pedro Sánchez. No PP, circulam nomes como os de Soraya
Sáenz de Santamaria (vice-presidente do atual Governo), Pablo Casado (porta-voz
do partido), Cristina Cifuentes (presidente da Comunidade de Madrid) como
hipóteses de substituição, mas Rajoy só sairá à força e agora não há tempo para
o substituir. No PSOE, Susana Díaz, presidente da Andaluzia, lidera os
descontentes cujo número se vem avolumando. No entanto, Sánchez nunca deu
qualquer sinal de vacilação. Ora, a repetir-se o escrutínio eleitoral, há o
risco de se replicaram os resultados anteriores, o que fará mergulhar a Espanha
numa crise de consequências imprevisíveis.
França.
Nos corredores dos partidos, fala-se intensamente das eleições presidenciais de
2017. François Hollande e Nicolas Sarkozy preparam-se para uma corrida que tão
bem conhecem. Os média, no entanto, estão a criar uma vaga de fundo que dê
espaço a novos candidatos. Esta semana, "L"Express" coloca em
capa uma fotografia com aqueles velhos políticos, separando-os com o seguinte
título: renunciem! Em subtítulo, escrevia-se que é preciso um novo presidente.
No interior da publicação, apontam-se várias possibilidades e, entre elas,
destaca-se Emmanuel Macron, o promissor ministro da Economia que, aos 38 anos,
lançou um movimento intitulado "Em marcha". O jovem político é,
aliás, capa da edição desta semana do "Courrier International".
Os
partidos não conseguem apostar em novas gerações. Significa que a renovação
terá de fazer-se a partir de outros domínios. O campo mediático tem, a esse
nível, uma colossal influência, mas o poder mais decisivo está nas ruas. O
cidadão comum será sempre quem mais ordena. E todos já perceberam que o cansaço
dos velhos políticos é enorme.
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