Os
graves problemas que geraram a iniciativa de golpe contra o Governo de Dilma no
Brasil, desvendam os problemas de alianças partidárias feitas em torno de um
programa de ação. O oportunismo para ocupar o poder é moeda corrente em todo o
mundo. Com um pé no Governo os oportunistas usam o seu próprio poder no sistema
(económico, mediático, religioso ou outros) para alterar o programa que
norteara as alianças. Na Europa temos acompanhado a falência do Syriza na
Grécia e do PS na Espanha, com a tentativa de promover uma aliança
governamental entre os polos opostos: a esquerda e a ultra direita.
Lula,
em 2002, tinha um programa de desenvolvimento necessário para consolidar a
independência do país (sempre amarrado aos abutres imperialistas) e salvar da
fome 50 milhões de brasileiros que sofriam a habitual austeridade que enriquece
os representantes da elite capitalista. Em um primeiro momento aquela
contradição, do capital e o trabalho, ficava atenuada pela necessidade dos
empresários brasileiros sairem da coleira imperialista representada pelo FMI.
A
esquerda brasileira que apoiou aquela aliança foi criticada por muitos teóricos
como sendo "reformista" e "traidora dos princípios
marxistas". Distantes do conhecimento da realidade histórica, alguns
intelectuais pontificaram sem compreender o que Alvaro Cunhal afirmou em 2003
no texto "América Latina: sua potencialidade transformadora no mundo de
hoje": "os trabalhadores, os povos e as nações não podem aceitar que
a ofensiva global seja irreversível"(...)"e deverão organizar as
forças capazes de impedir que o imperialismo alcance o seu supremo
objectivo". Faz um alerta: "apesar de ser por caminhos diferenciados,
complexos e sujeitos a extremas dificuldades, é essencial para a humanidade que
alcancem com êxito tal objectivo".
Os
partidos aliados com o PT no Governo, à medida em que se assenhorearam de
importantes postos no Estado, abandonaram o programa essencial que era o de
consolidarem a democracia com uma perspectiva patritótica de independência.
Surgiram várias legendas partidárias saídas da direita, cuja matriz era o PSDB
e forças radicais herdeiras da ditadura de 1964, que se transvestiram em
populistas à esquerda e até mesmo partidos que desempenharam importante papel
no combate à ditadura fascista, como o PMDB, decidiram somar forças para
expulsar o PT com um empeachment contra a Presidente Dilma que fora eleita por
54 milhões de votos.
O
que ficou claro era que o apoio eleitoral estimulado por partidos
revolucionários e movimentos sociais organizados, era do povo pobre e
trabalhador e de grande parte da classe média patriótica e democrata, que não
controlava mais o Estado e suas instituições de poder. A corrupção se espalhara
como endemia natural ao sistema capitalista e os programas de apoio à
democracia - Bolsa Família, Casa Própria, bolsas de estudo universitário,
distribuição de energia elétrica nas regiões pobres, médicos para todos,
abastecimento de água na zonas de seca, e tantos programas que foram sendo
criados com o apoio governamental para reduzir as diferenças entre pobres e
ricos - tudo isso foi sendo sabotado pelos falsos aliados do programa criado
por Lula. O Brasil havia dado um passo histórico da luta anti-imperialista para
a luta de classes que exige uma reformulação das forças governativas que não
podem mais aceitar alianças com os defensores do capital contra o trabalho.
Neste
clima de traição à democracia, a direita perdeu muitos militantes que não
abandonam os princípios éticos que os norteiam diante da falência moral da
prática do capitalismo. Apesar de conservadores e acreditarem no capitalismo,
perceberam que a democracia é o esteio do humanismo e fora posta em perigo.
Mesmo alguns governantes de países que colaboram com o imperialismo recusaram
assumir uma postura contra o êxito de um programa humanista contra a fome que
ainda flagela o planeta. Então os traidores inveterados e inexcrupulosos da
direita brasileira vestiram-se com as fantasias da Igreja política-pentecostal,
para reunir frágeis pessoas malformadas
politicamente e dar um golpe com a ajuda dos meios de comunicação social
vendidos ao império.
Agora
as massas estão nas ruas acompanhadas e apoiadas por todos os que compreendem o
processo histórico e defendem com unhas e dentes a democracia institucional.
Não é hora de ficar em cima do muro!
Vivam
os brasileiros patriotas , democratas, éticos, corajosos e exemplares!
Viva
o Brasil!
*Zillah
Branco - Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de
vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde.
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