Lembre-se
deste número: 1,5 grau. Esse é o limite máximo para o aquecimento global. É
abaixo desse número que os nossos governos vão tentar se manter, conforme o que
acordado nas negociações climáticas globais em Paris no ano passado. Tudo que
nós fizermos a partir de agora será medido em relação a esse aumento.
Samantha
Smith, do WWF Brasil*
Conseguir
o Acordo de Paris foi uma grande conquista dentro de uma luta maior. Agora, os
países precisam garantir que o acordo se torne uma realidade, primeiro,
assinando-o e, em seguida, tomando medidas nacionais para transformá-lo em
leis, regulamentações e políticas.
A
assinatura é importante porque o acordo não pode entrar em vigor até que pelo
menos 55% dos países membros o tenham assinado e ratificado, sendo que esses
países precisam representar pelo menos 55% de todas as emissões globais de
gases de efeito estufa. Assim, já que os países têm um ano para assinar o
acordo, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, está colocando todos os seus
esforços para assegurar que mais de 192 países assinem o acordo em uma reunião
de alto nível das Nações Unidas esta semana, em Nova Iorque.
Aqui
no WWF, esperamos que todos os países façam história com a assinatura do acordo
em 22 de abril. Esta seria uma indicação política poderosa. No entanto,
precisamos ainda mais. Assim como fizeram em Paris, os governos devem aproveitar
esta oportunidade para ir mais longe, anunciando novas ações em escala
crescente para sair de combustíveis fósseis rumo às energias renováveis,
proteger as florestas ou mudar de investimentos sujos para limpos. Eles também
devem anunciar seus planos para tornar suas promessas existentes mais
ambiciosas.
Eis
o porquê disso:
•O
mundo já está 1º Celsius mais quente em relação ao período Pré-Industrial,
então ficar abaixo de 1,5º C é um enorme desafio. Se os países não fizerem mais
do que prometeram em seus planos nacionais para o clima com o objetivo de
reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, estaremos no caminho certo
para mais de 3º C de aquecimento. Os cientistas afirmam que 1,5º C é um limite
máximo crítico, que determinaria o curso da elevação do nível do mar e o
destino dos países de baixa altitude, recifes de coral, florestas tropicais e
ecossistemas do Ártico. Os governos estão ouvindo e é por isso que vimos o 1,5º
C consagrado no Acordo de Paris.
•O
calor está se tornando normal. O ano de 2015 bateu 2014 como “o mais quente
registrado da história” e organizações meteorológicas já estão prevendo que
2016 será o novo “ano mais quente da história.” Janeiro e fevereiro deste ano
quebraram o recorde de “mês mais quente” e os meteorologistas classificaram os
recordes de fevereiro como “esmagador”, ” “sem precedentes” e “explosivo”.
Fevereiro de 2016 também marcou o 10º mês consecutivo em que o recorde mensal
da temperatura global foi batido. No geral, os seis maiores recordes mensais de
temperatura ocorreram todos nos últimos seis meses. Os nove maiores registros
mensais de temperatura global dos oceanos ocorreram todos nos últimos nove
meses (desde julho de 2015). O Ártico experimentou condições excepcionalmente
quentes em janeiro e fevereiro, sendo responsável por outro recorde: o de menor
extensão de gelo marinho que já houve.
•Os
impactos de um mundo mais quente já estão sendo sentidos, e os cientistas nos
dizem que a adaptação vai ajudar-nos apenas até certo ponto. Dr. Jeff Masters e
Bob Henson observaram que “fevereiro de 2016 trouxe uma série de eventos
climáticos extremos que se eram mais prováveis em um clima mais quente. E, como
advertimos repetidamente que provavelmente aconteceria, estes impactos vieram
principalmente em países menos desenvolvidos – aqueles com menos recursos
disponíveis para lidar com as perigosas mudanças climáticas”. Eles disseram
que, de acordo com o documento February 2016 Catastrophe Report, da seguradora
Aon Benfield, “três nações – Vietnã, Zimbábue e Fiji – sofreram desastres
climáticos extremos em fevereiro de 2016, o que custou pelo menos 4% do seu
PIB”. Eles ainda observaram que, segundo o Banco de Dados de Desastres
Internacional, “estes desastres bateram recordes como os mais caros desastres
relacionados com o clima de toda história em suas nações. Para ter uma ideia,
nove nações tiveram os seus mais caros desastres naturais de toda a história
relacionados ao clima em 2015. ”
•Os
níveis de CO2 na atmosfera tiveram o maior aumento ano-a-ano em 56 anos (desde
que estes números começaram a ser registrados pelo Observatório Mauna Loa, no
Havaí). E 2015 foi o quarto ano consecutivo em que as emissões de CO2 cresceram
mais de duas partes por milhão. Pieter Tans, cientista-chefe da estufa global
Rede de Referência em Gases de Efeito Estufa de NOAA, chama esses registros de
“explosivos em comparação aos processos naturais” e observou que “os níveis de
CO2 estão aumentando mais rápido do que em centenas de milhares de anos”.
Sejamos
claros: Nós estamos vendo um mundo de rápido aquecimento, com um clima de
desestabilização. A ação decisiva pode nos tirar deste caminho, mas não há
tempo a perder. Os países devem aumentar os compromissos assumidos em Paris e
transformá-los em ações concretas e rápidas de volta a um passado que produza
menos poluição climática e uma transição justa para pessoas e comunidades. Isso
começa com a assinatura do Acordo de Paris em 22 de abril, mas não termina aí.
Pessoas
de todo o mundo estão mais preocupadas com as alterações climáticas do que
nunca. E deveriam estar. Mas a boa notícia é que nossos líderes políticos estão
preocupados também. Vimos isso em Paris e esperamos que vamos que se repita em
22 de abril. Vamos fazer história pela assinatura do Acordo e mostrar como os
governos vão transformar suas grandes ambições em ação. (WWF Brasil/
#Envolverde)
*Envolverde
- Publicado originalmente no site WWF
Brasil.
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