Em
sessão pública em Lisboa, Catarina Martins afirmou: “A aplicação de residentes
portugueses em offshores se pagasse 10% de imposto dava para pagar todo o
défice de 2016 e o Estado ainda era superavitário”. Na próxima semana, o Bloco
apresentará um pacote legislativo sobre offshores, incluindo a praça financeira
da Madeira.
Realizou-se
nesta quarta-feira à noite uma sessão pública do Bloco de Esquerda sobre o tema
"Que mudanças para o país?", onde intervieram Catarina Martins, Pedro
Filipe Soares, José Gusmão e Ricardo Paes Mamede. Neste artigo, tratamos a
intervenção da porta-voz do Bloco de Esquerda, noutros artigos divulgaremos as
intervenções dos restantes oradores.
Endividamento
estrutural e como lhe responder
Na
sua intervenção, a porta-voz do Bloco de Esquerda começou por salientar que
Portugal tem um problema na economia, o endividamento externo.
Reafirmando
a necessidade de reestruturação da dívida, Catarina Martins apontou que é
preciso “atacar o endividamento externo” e denunciou que a “direita tentou
fazê-lo com a austeridade, mas falhou redondamente. Porque não alterou nenhum
dos problemas estruturais e apenas os agravou”.
“A
estratégia da direita foi ruinosa. O ajustamento da balança comercial aconteceu
sempre à custa de crescimento. Conseguimos ter uma balança comercial melhor, se
formos mais pobres. No Bloco achamos que este não é o caminho. Não podemos
achar que o problema do endividamento externo é resolvido empobrecendo a
população”, realçou a deputada.
“O
Bloco recusa a ideia de que o problema do endividamento externo se resolve
empobrecendo as pessoas. É com as pessoas a viver com dignidade que se resolvem
os problemas estruturais”, sublinhou ainda Catarina Martins.
Nesse
sentido, o Bloco apresenta propostas em diversos campos para “devolver
rendimentos às pessoas sem desequilibrar a balança corrente, sem isso provocar
endividamento externo”.
A
porta-voz do Bloco apresentou vários temas, os quais foram desenvolvidos pelos
restantes oradores da sessão.
“Como
é que criamos emprego? Como é que esse emprego é de qualidade? Como isso é
feito reduzindo o endividamento externo do nosso país?”, questionou e apontou
outras temáticas: “endividamento das instituições financeiras e problemas
fiscais”, “problemas da fatura energética que pesam muito em Portugal” e as
“questões da balança alimentar porque as questões da soberania alimentar (…)
são essenciais para equilibrar produção nacional”.
“Se
as transferências para offshores pagassem 10% de imposto o Estado era
superavitário”
“A
União Europeia (UE) em 3 anos perdeu [com os offshores] três vezes mais do que
todo o programa da troika para Portugal”, denunciou Catarina Martins.
A
porta-voz do Bloco salientou que “tendo em conta os dados que existem, que não
são todos e queremos conhecer mais”: “A aplicação de residentes portugueses em
offshores se pagasse 10% de imposto dava para pagar todo o défice de 2016 e o
Estado ainda era superavitário”, sem precisar de mais nenhuma medida.
Lembrando
que o problema dos offshores não é apenas um problema português é sim um
problema global e que Portugal sozinho não pode resolver, Catarina Martins
afirmou que, no entanto, cada vez que isto é dito, isso “significa que nada vai
mudar e isso não pode acontecer”.
A
deputada denunciou que os offshores são um”assalto organizado dos mais ricos
dos mais ricos do planeta contra os povos e contra as nações”, e, perante as
diferentes interpretações existentes sobre o que é um offshore, Catarina
Martins propôs uma definição simples: “Qualquer sítio onde alguém vai pôr
dinheiro para esconder a sua proveniência ou para não pagar imposto é um
offshore”.
“Portugal
devia dar o exemplo com a Madeira”, apontou a deputada, lembrando que o centro
internacional da Madeira tem empresas que produzem e criam emprego, e essas que
estão numa região europeia ultra-periférica, devem ser protegidas, mas tem
também empresas que são apenas um apartado e aí trata-se de um offshore.
A
porta-voz do Bloco anunciou que o partido vai apresentar na próxima semana um
pacote legislativo, onde se inclui medidas face ao offshore da Madeira.
Catarina
Martins falou também do peso dos encargos com as PPP e apontou que as
renegociações que existiram anteriormente, nomeadamente as conduzidas por
Sérgio Monteiro no governo PSD/CDS-PP ou significaram “tirar custos agora para
pagar mais no futuro” ou “reduziram custos de manutenção, mas não lucros de
privado”.
Assim,
o Bloco proporá “medidas diferentes de como o Estado age sobre transparência de
políticas públicas”, a criação de uma “unidade técnica do Estado”, em vez do
constante outsourcing para empresas e escritórios de advogados. Proporá ainda a
“obrigatoriedade do parecer vinculativo do Tribunal de Contas sempre que há
operações que podem aumentar o endividamento público”, o alargamento de
competências do Tribunal de Contas “no que diz respeito a fiscalização prévia”,
entre outras medidas.
“Criar
emprego porque é o principal problema em Portugal”
A
encerrar a sessão, Catarina Martins realçou que “o Bloco de Esquerda não falta
a nenhum debate, não falta ao debate do programa nacional de reformas”,
apontando que para “combater o endividamento externo” é preciso falar de
“coisas essenciais como a reestruturação da dívida pública, o sistema
financeiro e também a energia”.
“Criar
emprego porque é o principal problema em Portugal e é a necessidade a que temos
de responder. Se não formos capazes de criar emprego não estamos a fazer a
recuperação de rendimentos de quem vive do seu trabalho” destacou Catarina
Martins, apontando que “para isso é preciso investimento e estratégia, que deve
centrar-se nas questões da eficiência energética, na descarbonização da
economia, deve centrar-se nas questões da soberania alimentar. Aquelas matérias
em que ao mesmo tempo que se cria emprego se reduz o endividamento externo”.
Por
fim, a porta-voz do Bloco apontou: “ Se queremos criar emprego temos de criar
emprego de qualidade e, portanto, é preciso retirar a troika das relações
laborais. Isso exige recompor vínculos laborais, que respondam a quem trabalha
com a dignidade e o salário que merecem”.
Em
próximos artigos do esquerda.net daremos conta das restantes intervenções nesta
sessão pública.
Esquerda.net
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