Rui Peralta,
Luanda
A
Era do Petróleo barato e do gás começou. No período 1970-2013 os preços do
barril de petróleo aumentaram cerca 900%. Para termos uma ideia do que isso
representa em termos de impacto na produção e no consumo (na oferta e na
procura), através da comparação com outros recursos finitos, observe-se que o
índice de preços para os minerais e metais indica um aumento dos preços - no
mesmo período - de 68%. A cartelização (mais politica do que económica) da
produção petrolífera foi responsável por esse absurdo aumento de preço e pelas
distorções criadas nas relações entre oferta e procura.
Aparentemente
esse período de alta de preços parece ter chegado ao fim. No entanto, pelo
facto de a cartelização continuar a persistir e a dominar este mercado – a
solução encontrada entre os principais Estados produtores (e aqui reside o
cerne da questão) – as distorções continuam a causar instabilidade no sector e
a gerarem grandes incógnitas que ultrapassam o bom senso de uma análise
realista. Por outro lado a propagação e as dinâmicas causadas por duas
revoluções em curso asseguram uma mais ampla produção petrolífera e a preços
muito mais módicos do que os praticados entre 2010-2014: a extracção a partir
do xisto e a aplicação de novas tecnologias (ferramentas inteligentes) na
extracção convencional (perfuração horizontal).
Iniciada
nos últimos 10 anos a extracção a partir do xisto contornou, nos USA e no
Canadá (países onde se desenvolveu), o declínio a longo prazo das respectivas
produções. Apesar dos actuais preços baixos e dos danos que estes provocam nos
lucros, um excedente criado pelos altos índices de produtividade obtidos nesta
técnica extractiva gera um optimismo moderado no sector. Foram identificados
uma série de impactos ambientais negativos e as pesquisas estão agora viradas
para a ultrapassagem desses problemas, para que este método de extracção se
torne compatível com a legislação ambiental e não tenha impactos negativos no
ecossistema.
Quanto
á introdução de novas tecnologias, principalmente ao nível de
máquinas-ferramentas inteligentes, avança gradualmente e sem grande alarido na
perfuração horizontal (o seu expoente encontra-se na Rússia, Austrália e Noruega).
Os seus resultados acabarão por fazer-se sentir a longo-prazo, mas
representarão uma significativa redução nos custos de produção.
A
única solução viável para o sector petrolífero gira em torno dos baixos preços
e estas duas silenciosas revoluções em curso poderão ser lucrativas e com
margens razoáveis, a preços médios de 40 USD/barril, daqui por 10 a 15 anos. A
propagação global destas revoluções e o subsequente preço baixo poderão trazer
grandes vantagens á economia mundial, mesmo apesar da quebra de receitas nos
países produtores. Estas quebras serão compensadas por factores diversos
(politicas de diversificação das exportações e das entradas de divisas)
externos ao sector petrolífero, ao mesmo tempo que as margens de lucro
(proporcionadas pelas reduções dos custos de produção) normalizam.
Aparentemente
estas duas revoluções cimentam e prolongam a dependência petrolífera e as
políticas climáticas. Os esforços para desenvolver energias alternativas e
renováveis com o objectivo da estabilização climatérica tornar-se-ão mais
dispendiosos – uma vez que requerem mais subsídios – do que os baixos preços do
petróleo. Petróleo barato e abundante gerará novos equilíbrios no mercado
mundial e nas relações internacionais.
Para
África este é um desafio que poderá representar uma oportunidade única. Uma vez
mais a questão coloca-se no eixo da unidade e da integração africana. As
petrolíferas estatais africanas são autênticos elefantes-brancos, máquinas
colossais de burocratização e centros de custos exacerbados, além de grandes
bancos experimentais de incompetência e de negociatas.
Inicialmente
constituídas para dar respostas ao desenvolvimento das economias africanas as
companhias petrolíferas estatais acabaram por fazerem parte da grande
maquinação neocolonial que perpetua a situação periférica do continente e nos
Estados neocoloniais não passam de grandes centros de subsidiarização das
oligarquias locais. A integração das petrolíferas africanas (públicas, mistas e
privadas) num grande conglomerado de capitais continentais, a constituição de
grandes projectos regionais e de uma rede continental de oleodutos, gasodutos e
rede petroquímica, e a criação de uma bolsa petrolífera para o mercado africano
são passos fundamentais para o desenvolvimento do continente e para a afirmação
de África no mundo.
No
fundo, meus caros, trata-se de retomar o lema fundamental dos movimentos de
libertação nacional da África progressista: “resolver os problemas do Povo”.
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