Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
Ao
que consta, Jorge Moreira da Silva, ministro do Ambiente de Passos Coelho, será
um dos candidatos finalistas a um alto cargo dentro da ONU para as alterações
climáticas.
Enquanto
ministro, Moreira da Silva concessionou metade do distrito de Faro e uma
parcela igualmente impressionante da orla marítima algarvia para a prospeção e
exploração de petróleo. A concessão foi feita com base numa lei caquética,
datada de 1994, quando o aquecimento global e as preocupações ambientais eram
considerados fantasias de doidos. Hoje sabemos que fantasia é ignorar a sua
existência, e é por isso que existe, aliás, um cargo na ONU dedicado à matéria.
Esta
lei permitiu então ao Governo de Passos entregar, sem concurso, o Algarve à
Portfuel, de Sousa Cintra, que terá cerca de 122 anos quando o contrato
terminar. Para além do absurdo de se estar a promover combustíveis fósseis
quando todos sabemos que esse caminho não é sustentável, há três coisas a dizer
sobre este negócio.
Em
primeiro lugar, viola leis e diretivas comunitárias que obrigam a consulta
pública, à participação das populações nestes planos ou à existência de uma
avaliação ambiental estratégica.
Em
segundo lugar, põe em causa a estabilidade ambiental e biológica da região. Os
contratos preveem explicitamente o recurso à fratura hidráulica como técnica de
exploração. Esta técnica é proibida em vários países da UE pelos seus perigos
para a qualidade da água, do ar, e pelos riscos de potenciar terramotos, entre
outros.
Em
terceiro lugar, é um mau negócio. Para a região, porque conflitua com as
atividades agrícolas, piscatórias e de turismo. Para o Estado, porque negociou
taxas de rentabilidade estupidamente baixas pelas concessões.
O
mais caricato da história talvez seja mesmo os nomes que deram às concessões no
mar algarvio: lavagante, lagosta, lagostim, santola, gamba, sapateira e
caranguejo. Quem sabe uma homenagem às espécies ameaças por estes contratos,
assinados pelo homem que agora poderá estar na ONU para nos proteger das
alterações climáticas.
*Deputada
do BE
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