As
nomeações políticas incorporam sempre uma dose de confiança e, desde que
estejam em conformidade com a componente legal (a moral e a ética são devaneios
exclusivos das democracias e dos estados de direito), devem ser encaradas mais
pelos objectivos por detrás das mesmas e menos pelas implicações, sempre
discutíveis.
Victor
Ribeiro Queiroz de Carvalho*, opinião
É fundamental
que o foco, das análises e comentários em torno de determinadas nomeações
monárquicas e familiares, esteja virado sobre o interesse da realeza, sobre o
que se espera e o que o tempo sirva como bitola apreciada para futuras
avaliações. Se o país ainda existir.
Não
se pretende aligeirar o papel que os debates e discussões produzem sempre que
determinada nomeação filial e monárquica contribua para tal, determinando,
muitas vezes, a agenda dos meios de comunicação e temas de conversas um pouco
por todo o lado. Diríamos que se está perante o mínimo que se pode esperar num
regime esclavagista e unipessoal, em que o direito à palavra, dentro dos limites
consagrados pela monarquia, está “protegido” constitucionalmente.
A
nomeação da princesa herdeira Isabel dos Santos como presidente do Conselho de
Administração da Sonangol serviu para todos os aproveitamentos de índole
política e jurídica, sendo compreensível que se ponha em causa algo que ela e o
regime do paizinho não têm: ética, honorabilidade, probidade, honra, dignidade
etc. etc..
O
fundamental seria que Angola conseguisse reverter a actual espiral decrescente
das receitas ao nível da indústria petrolífera com uma gestão e liderança que
dê respostas aos desafios que existem. Seria agora, como é há 40 anos. Mas
todos nós sabemos, por amarga experiência própria, como é que a história acaba.
Era
bom que boa parte das intervenções tivesse em atenção este aspecto, a
necessidade urgente de transformação da empresa pública num instrumento
eficiente e rentável, devidamente modernizado e competitivo. Era. Não é. E não
é porque o filho do jacaré nunca terá asas mesmo que cresça numa gaiola rodeado
por galinhas do mato.
Atendendo
aos desafios que o sector petrolífero enfrenta, por via da baixa da procura do
crude e redução significativa dos preços em todo o mundo, não havia dúvida para
ninguém quanto à urgência de reformas. Tal como ninguém duvida que quando as
galinhas desaparecem do galinheiro, a solução não é colocar raposas lá dentro.
Os
modelos de gestão dos tempos modernos visam, em qualquer parte do mundo a
maximização dos lucros, a redução de custos, direccionar a atenção ao “core
business” da empresa, entre outras metas. Na verdade, é também isto que está em
causa relativamente à Sonangol e nesta altura em que urge recolocá-la como
líder e verdadeiro pilar da economia nacional. Mas poderá um maneta ser jogador
de basquetebol?
Afinal,
o mercado mundial, regional e o interno impõem exigências que devem ser
encaradas de frente tendo em atenção os objectivos no incremento da eficiência,
na redução de custos e no aumento dos lucros. Se tal fosse feito com lisura e
probidade, quem sairia a ganhar seria Angola. Assim, quem vai ganhar – tal como
acontece desde 1979, ano em que o monarca assaltou o país – é o clã de sua
majestade o rei.
Se
por um lado são saudáveis as opiniões convergentes e divergentes sobre a
nomeação da princesa herdeira Isabel dos Santos, que confirmam que ainda há
idealistas que acreditam no Pai Natal, por outro tais observações críticas
escapam do que se afigura como fundamental neste momento: preservar a monarquia
aumentando o número de escravos.
O
essencial neste momento é a busca de soluções, com “pessoas certas para os
lugares certos”, com tarefas precedidas de diagnósticos exaustivos sobre o
estado do sector dos petróleos e da Sonangol em particular, bem como metas bem
traçadas.
“Há
objectivos claros e que estão bem definidos e que têm que ver com o aumento da
eficiência no sector dos petróleos, permitindo que haja uma melhor utilização
dos recursos em exploração e também um melhoramento da previsibilidade dos
fluxos financeiros”, disse a princesa herdeira, recuperando de forma primária e
quase artesanal as mais elementares regras de uma qualquer chafarica.
Dizem
os bobos da corte que houve um amplo trabalho de diagnóstico por parte da
equipa nomeada para o trabalho de reestruturação da Sonangol, que contou com a
participação de prestigiados escritórios de consultores. Não há dúvida de que
foram devidamente avaliadas as forças, as fraquezas, as ameaças e oportunidades
para transformar a Sonangol numa ainda mais moderna off-shore privada de José
Eduardo dos Santos.
Como
sabemos, e fruto da actual crise financeira e económica, os custos de produção
do crude passaram a ser incomportáveis para o país e a necessidade de
reestruturação do sector petrolífero e da principal concessionária. Tratou-se
de algo previsível há décadas mas que, ao longo dos últimos 40 anos, nunca as
excelsas mentes do regime conseguiram enxergar.
As
forças e oportunidades da petrolífera do regime são por demais conhecidas,
razão pela qual faz todo o sentido uma avaliação das actuais ameaças ou
desafios para o estabelecimento de um modelo mais eficiente para a empresa e
para o sector petrolífero em geral. Tudo quanto se sabe que o regime quer é que
da parte da Sonangol, sob a presidência da princesa herdeira, é que as metas e
objectivos a que se propõem contribuam decisivamente para aumentar a eficiência
e as margens de lucro da monarquia, possibilitando a sua eternização no poder.
Do
ponto de vista de sua majestade o rei, é certo que a actual equipa da Sonangol
vai atingir os resultados que pretende, numa altura em que urge harmonizar o
sector do petróleo, e da Sonangol em particular, à actual conjuntura interna e
internacional, sem beliscar as multimilionárias mordomias do clã.
Pela
frente está o trabalho que a actual equipa vai fazer tendo em conta a
necessidade de salvaguardar a operacionalidade da empresa e o papel da indústria
petrolífera, sempre a bem do regime. Nesta conjuntura, é factual a ideia de que
não era sustentável o actual estado em que se encontrava o sector de uma
maneira geral. Como se sabe, o actual processo que tenciona tornar robusta a
petrolífera do regime só peca por tardia…
*Folha
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