O
general angolano, dirigente do MPLA e sobrinho de sua majestade o rei José
Eduardo dos Santos, Bento dos Santos “Kangamba”, deu hoje mais uma prova do
desespero terminal do regime.
Bento
dos Santos “Kangamba” acusou a UNITA de, através do líder da bancada
parlamentar, Adalberto da Costa Júnior, prejudicar a imagem de Angola com
entrevistas em Portugal, país que o general continua a pensar (e se calhar com
razão) que é um protectorado do seu tio.
Vai
daí, o general (são tantas as estrelas que ostenta) falava – mais ou menos em
português – aos jornalistas em Luanda sobre a entrevista do deputado da UNITA,
publicada pelo Diário de Notícias, em que afirma que em “eleições livres e
transparentes”, o MPLA (no poder desde 1975) “não iria além de 10% dos votos”.
Disse
o general (de acordo com a tradução para português): “Isto é uma chantagem de
um deputado que quer ser bem-visto em Portugal. Esses discursos deviam ser
feitos aqui em Angola e não em Portugal, manchando assim o nome do nosso país.
A UNITA quer é iniciar confusão para quando perder [as eleições] dizer que
houve fraude”.
Tido
como principal responsável pela mobilização de militantes do MPLA em Luanda
(onde o partido tem quase mais militantes que o número de angolanos existentes
em todo o país) e membro da cúpula do poder no país, esta posição aparenta uma
subida na crispação com o maior partido da oposição, a um ano das previstas
eleições gerais em Angola.
Revela
igualmente a carência que o MPLA tem em arranjar sipaios com alguma capacidade
intelectual, do tipo do embaixador itinerante Luvualu de Carvalho, para
defender as suas teses.
Na
entrevista ao diário português, comentada durante o dia de hoje em Luanda nos
círculos políticos, o deputado da UNITA – que integrava a comitiva do partido
que em Maio se viu envolvia em confrontos mortais com militantes do MPLA em
Benguela – afirma que “nunca como hoje o regime do MPLA esteve tão em baixa de
popularidade e se mostrou tão incapaz de responder aos problemas da sociedade,
e mesmo de ir ao encontro dos anseios da sua própria massa eleitoral”.
“A
UNITA é a UNITA. Nós conhecemos, a UNITA não está sozinha, nós estamos a
acompanhar a movimentação. A UNITA é um produto muito tóxico, pode-se lavar com
lixívia, com sabonete, que a nódoa não sai, é perigosa”, atirou Bento dos
Santos “Kangamba”, revelando mais uma vez o seu elevado gabarito intelectual,
provavelmente resultante das aulas de educação patriótica que são paradigma do
MPLA desde os tempos do partido único.
O
dirigente do MPLA garante que é preciso “dialogar” com o maior partido da
oposição, mas descarta que a UNITA venha a ser poder em Angola em breve:
“Ninguém aqui foge de dizer que as coisas não estão bem. Mas, honestamente, a
população de Angola não espera que a UNITA um dia melhore as condições, espera
que haja algum sacrifico do Governo para melhorar as condições sociais”, afirma
Bento dos Santos “Kangamba”, sempre recordando a destruição e mortos provocados
por quase 30 anos de guerra civil.
“É
claro que quando se entra em crise o partido no poder tem problemas, por falta
de água, de energia, de alguma coisa. Mas o Governo tem estado a criar
condições”, insiste o general angolano.
O
MPLA é liderado desde 1979 por José Eduardo dos Santos, igualmente Chefe de
Estado e Titular do Poder Executivo, que já anunciou o abandono da vida
política activa em 2018, quando as eleições gerais estão previstas para o
próximo ano.
Contudo,
é candidato à sua própria sucessão na liderança do MPLA no congresso do próximo
mês, em Luanda, faltando definir quem será o candidato do partido às eleições
gerais de 2017.
Acusar
é com ele
Recorde-se,
em muitos outros exemplos, que o general “Kangamba” tem uma alergia a tudo
quanto tenha a ver com Portugal, a começar pela própria língua. No dia 26 de
Outubro de 2015 acusou hoje Portugal de ingerência nos assuntos angolanos,
avisando que Lisboa não tem “consciência jurídica e política” e acrescentando
que Angola já não é “escravo” de Portugal.
Na
altura constou que o Estado-Maior das Forças Armadas de Portugal colocou os
militares portugueses em alerta máximo, não fosse o general “Kangamba” decidir
invadir pela via militar (pela económica e financeira já o fez há muito) o
Terreiro do Paço.
Bento
dos Santos “Kangamba” falava (sim, é verdade, o general também fala) sobre o
caso dos activistas detidos e do apoio que tinham na sociedade portuguesa.
“Se
eu fosse português pensava 20 ou 30 vezes antes de falar sobre um estrangeiro.
Primeiro tenho que arrumar a minha casa e depois falar sobre os outros.
Portugal é um grande país, tem grandes políticos, mas neste momento está em
debandada, não tem consciência jurídica e política para se defender nem
defender os angolanos. Há necessidade de haver calma que a Justiça será feita”,
apontou o dirigente do MPLA, general, empresário e figura de topo no que (não)
tange a honorabilidade cívica, política, social e militar.
Isso
mesmo foi, aliás, reconhecido pela própria Interpol que o incluiu no “quadro de
honra” dos procurados por tráfico de mulheres e prostituição.
Também
a Polícia francesa atesta que o general “Kangamba” é um impoluto cidadão.
Segundo a Polícia, em 14 de Junho de 2013, dois carros foram apreendidos, com
poucas horas de diferença, em portagens no sul de França. Num deles, foram
encontrados dois milhões de euros, em quarenta sacos de cinquenta mil cada. No
outro, foram encontrados mais 910 mil euros. Oito homens foram detidos. Pelo
menos cinco deles, angolanos, cabo-verdianos e portugueses, estariam
relacionados com o general “Kangamba”.
“Presos
políticos não há, nunca existiram. Não vejo a UNITA, a CASA-CE, a FNLA, o PRS,
a reclamarem os seus militantes presos. Os que estão presos são jovens que
algumas pessoas estão a incentivar para fazerem arruaça que não está prevista na
nossa Constituição”, afirmou “Kangamba” em Julho de 2015, acrescentando –
certamente à procura da 13ª estrela de general – que na base da agitação “com
cinco ou seis miúdos” estão “outros partidos que querem subir no poder a todo o
custo”.
O
também secretário do comité provincial de Luanda do MPLA para a Área Periférica
e Rural, cargo de relevância nacional e internacional, acusa Portugal de
continuar a ingerir-se nos assuntos angolanos, 40 anos depois da independência.
“As
pessoas são as mesmas, tirando duas figurinhas bonitinhas que estão a aparecer
aí no Bloco de Esquerda. Mas as pessoas que foram contra Angola são as mesmas
[agora]. Eles acham que Angola até hoje é escravo, que nós somos escravos de
Portugal (…) não podemos ser ouvidos e que Portugal é que manda, que Portugal é
que diz e que Portugal é que faz. Os portugueses têm que saber que Angola é um
Estado soberano”, apontou “Kangamba” na altura em declarações à Lusa.
Folha
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