Mohamedou
Ould Slahi, nascido na Mauritânea em 1970, está detido há 14 anos na prisão de
Guantánamo sem nunca ter sido formalmente acusado de qualquer crime
Mohamedou
Ould Slahi, detido na prisão de Guantánamo desde 2002, sem nunca ter sido
formalmente acusado, vai ser libertado.
“Estamos
satisfeitos com esta decisão. Vamos agora fazer tudo para que ele seja
libertado o mais rápido possível e regresse para junto da sua família.
Esperávamos há muito tempo por isto”, afirmou Nancy Hollander, uma das
advogadas de Slahi. A decisão foi tomada após recomendação do Periodic Review
Board (PRB), organismo responsável por determinar se os detidos em Guantánamo
estão em condições de ser transferidos ou libertados da prisão ou se, pelo
contrário, continuam a constituir uma ameaça, devendo por isso continuar nas
instalações da prisão militar de Cuba.
Nascido
em dezembro de 1970 numa pequena cidade da Mauritânea, Mohamedou Ould Slahi
partiu para a Alemanha aos 18 anos, depois de lhe ser atribuída uma bolsa de
estudo. Frequentou os primeiros anos do curso de Engenharia Eletrónica, mas
depois abandonou o país para se juntar à insurreição contra o governo de facção
comunista no Afeganistão. Frequentou um campo de treino e fez um juramento de
lealdade à Al-Qaeda. Ter-se-á depois afastado do grupo terrorista, como conta
em “Diário de Guantánamo”, mas os Estados Unidos continuarão a suspeitar
durante muito tempo da sua ligação ao grupo.
Em
2000, Mohamedou Ould Slahi regressa à Mauritânia. Um ano depois, é detido pelas
autoridades mauritanas, a mando dos Estados Unidos, e enviado para a prisão de
Amã, na Jordânia; será depois reencaminhado para a base das Forças Aéreas de
Bagram, no Afeganistão e, finalmente, para a prisão de Guantánamo, na ilha de
Cuba, onde permanecerá durante os 14 anos seguintes.
“Estamos
felizes por Mohamedou e pela sua família, mas este novo capítulo da sua vida só
terá início quando o Pentágono autorizar a transferência, e isso tem de
acontecer imediatamente”, afirmou Hima Shamsi, advogada e diretora da American
Civil Liberties Union’s National Security Project, alertando para “as dezenas
de homens” que ainda se encontram detidos em Guantánamo sem terem sido
acusados. “Obama prometeu encerrar a prisão durante o seu mandato, mas o tempo
está a esgotar-se”, acrescentou a advogada.
Durante
os seus primeiros anos na prisão, Mohamedou escreveu um diário. Nele, descreve
com extraordinário detalhe as dezenas de interrogatórios a que foi submetido e
as humilhações, tortura e ameaças de que foi alvo. O documento foi publicado no
início deste ano num livro intitulado “Diário de Guantánamo” (editora Vogais).
Larry Siems, escritor e ativista dos direitos humanos, que durante muitos anos
dirigiu o Freedom to Write Program da PEN American Center, editou o manuscrito
original de Mohamedou Ould Slahi. A versão final mantém os cortes feitos pelo
Governo norte-americano. Mais de 2500 linhas foram censuradas.
Helena
Bento - Expresso
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