domingo, 21 de agosto de 2016

Portugal. LUCROS DE EMPRESAS PRIVATIZADAS PAGAVAM METADE DO DÉFICE PÚBLICO



Cinco empresas garantiram 1,36 mil milhões de euros em lucros durante a primeira metade de 2016. A lista é encabeçada pela EDP, que lucrou mais de 600 milhões de euros no primeiro semestre. A energética portuguesa foi sendo privatizada entre 1997 e 2013. Depois da venda de pouco mais de 20% à China Three Gorges por 2,7 mil milhões de euros no final de 2011, o Estado saiu do capital da empresa em Fevereiro de 2013, vendendo 4,1% das acções por 356 milhões de euros.

A Galp é a senhora que se segue no top das empresas que mais lucraram no primeiro semestre de 2016, com 247 milhões de euros. O Estado deixou de ser o accionista de referência em 2006, quando vendeu 23% do capital por 1,1 mil milhões de euros. O maior accionista da petrolífero é a Amorim Energia, uma empresa do grupo Amorim sedeada na Holanda.

No sector financeiro, o Santander Totta destaca-se ao duplicar os lucros em relação ao mesmo período do ano passado. A sucursal do gigante espanhol fez 211 milhões de euros, superando o valor pago pelo Banif no final do ano passado (150 milhões) em apenas meio ano. A instituição nasceu em 2004, depois da fusão entre o Banco Totta & Açores e o Crédito Predial Português, ambos privatizados pelo governo de Cavaco Silva. Também o BPI fez crescer os seus lucros para acima dos 105 milhões de euros, muito à custa da sua sucursal angolana. Dois terços do capital do banco está dividido entre a Santoro, da angolana Isabel dos Santos, e os espanhóis do CaixaBank.

A Jerónimo Martins, dona da cadeia Pingo Doce, chegou aos 182 milhões de euros de lucro e é a outra empresa com resultados acima dos 100 milhões de euros de todas as que tornaram públicos os seus resultados semestrais. A holding da família Soares dos Santos em Portugal vendeu a sua participação na Jerónimo Martins à sua empresa na Holanda, um dos maiores paraísos fiscais da Europa.


A lista de empresas com lucros acima dos 10 milhões de euros conta, ainda, com outras cinco empresas privatizadas nos últimos anos. A Navigator (ex-Portucel) registou lucros de mais de 85 milhões de euros, depois de um longo processo de privatização que foi concluído em 2006. A maior fatia do capital da papeleira, 30% das acções, foi vendido em 2006 à Semapa por 334 milhões de euros.

A REN, empresa que gera a rede de distribuição eléctrica nacional, facturou 40,5 milhões de euros. A venda de 40% do monopólio em Fevereiro de 2012 foi concretizado por pouco mais de 590 milhões de euros à State Grid (China) e à Oman Oil. Um relatório do ano passado do Tribunal de Contas apontou para perdas na ordem dos 400 milhões de euros para o Estado português com o negócio e a perda de dividendos futuros. Também o caso da EDP é apontado no relatório, com uma perda estimada de 1,6 mil milhões de euros. Só a EDP Renováveis, subsidiária da energética, lucrou 71,9 milhões de euros nos primeiros meses do ano.

Os CTT – Correios de Portugal lucraram 31,7 milhões de euros, apesar do investimento na criação do Banco CTT. A empresa, que detém outro monopólio no País, foi vendida em duas fases de privatização durante os anos da troika por cerca de 900 milhões de euros. Já a Brisa, comprada pelo Grupo Mello no final dos anos 1990, teve uma das maiores subidas nos seus lucros: mais 27%, chegando aos 26,7 milhões de euros.

Em apenas seis meses de 2016, um conjunto de oito empresas privatizadas nos últimos 20 anos (EDP, Galp Energia, Santander Totta, Navigator, EDP Renováveis, REN, CTT e Brisa) tiveram 1,33 mil milhões de euros em lucros, quase metade do défice público no mesmo período (2,8 mil milhões de euros).

AbrilAbril – Foto: António Mexia lidera a empresa mais lucrativa, a EDP, com um salário de 2,5 milhões de euros anuais

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