Rafael
Barbosa – Jornal de Notícias, opinião
1 Quando
Passos Coelho era primeiro-ministro via sempre o copo meio cheio. Os
funcionários públicos e os pensionistas só recebiam parte do salário, mas pelo
menos havia dinheiro para lhes pagar. Os trabalhadores foram castigados com
brutais aumentos de impostos, mas pelo menos ainda havia quem tivesse trabalho
para pagar impostos. O desemprego aumentava, mas não faltavam oportunidades no
estrangeiro para quem quisesse emigrar. O número de pobres (sobretudo crianças)
cresceu como nunca, mas o Banco Alimentar não deixava ninguém morrer à fome. As
previsões de crescimento da economia, de défice e de dívida pública saíam
sempre furadas, mas isso era culpa partilhada pelos que nos levaram à
bancarrota e pela situação internacional.
Agora
que Passos Coelho é apenas líder do maior partido de Oposição, vê sempre o copo
meio vazio. Começar a repor salários e pensões ou a reduzir a carga fiscal
sobre os rendimentos do trabalho é sinal de que a "geringonça" só
sabe fazer o que é fácil. A redução da taxa de desemprego para 10,8% (a mais
baixa desde 2011, mas ainda a um nível inaceitável) não tem dignidade para
merecer uma referência. O facto de o país estar a crescer, mas menos do que o
previsto, significa que os socialistas só têm a estagnação para oferecer.
É
assim Passos Coelho, um político de meio copo: nem enche, nem fica vazio.
Marques Mendes pediu no fim de semana, na sua tribuna televisiva, e antecipando
o comício do Pontal, uma mudança de discurso, mas o líder do PSD não lhe fez a
vontade. Na verdade não se pode pedir a quem foi um mero feitor da troika que
mostre agora a criatividade e capacidade política que nunca teve. O mais certo
é que no PSD, e como alertou o ilustre comentador, se fale cada vez menos em
"mudança de agulha" e mais em "crise de liderança".
2 Há
uma expressão que diz que há apenas duas certezas na vida. É mais do que tempo
de a reformular e acrescentar uma terceira, à morte e aos impostos: o preço a
pagar pela falência de bancos. Segundo o mais recente relatório do Tribunal de
Contas, depois dos 590 milhões de euros somados no ano passado, a falência do
BPN já custou ao Estado (ou seja, aos contribuintes) mais de 3,2 mil milhões de
euros.
Um
valor provisório, uma vez que haverá pelo menos mais dois mil milhões para
somar num futuro próximo (o valor dos capitais próprios negativos das
sociedades criadas para gerir os ativos tóxicos). Ainda teremos de esperar uns
anos para que o Tribunal de Contas apresente as contas finais do BPN, mas
também para que as comece a fazer para o BES/Novo Banco, Banif e CGD. Cabem
sempre mais uns milhões neste copo meio cheio ou meio vazio.
*Editor-executivo
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