sábado, 22 de outubro de 2016

Falta quase tudo em Nete, centro de Angola



Os populares da localidade de Nete, município do Mungo, na província do Huambo, queixam-se de quase tudo: falta de água, energia, hospitais e escolas. Não há estradas e o acesso à zona faz-se por uma picada.

Mais de 200 quilómetros separam a localidade de Nete da sede da província do Huambo, no centro de Angola. Chegar lá não é fácil. Não existem vias primárias nem secundárias. E a circulação rodoviária faz-se por uma picada estreita, atravessada por rios e riachos. Os buracos e as pontes improvisadas, feitas de paus, dificultam a circulação de pessoas e bens. 

Os motoqueiros são os principais utentes da estrada. “Conduzo andando devagar para fugir dos buracos”, conta o motociclista Paulino Luma. “A estrada está muito mal com os buracos. Na tentativa de fugir de outra mota que não tinha travão, tivemos um acidente”, conta.

A situação complica-se ainda mais no tempo chuvoso. “Quando chove, os carros não entram. Mesmo quando temos as nossas coisas para vender, temos de levar a nossa gasolina e com a motorizada vamos até ao Kambwengo ou Bailundo”, relata o morador Fernando Filipe Paulino.

Em Nete, as casas são de adobe e cobertas de capim. E a única escola pública que existe tem poucas condições. "Há uma escola mas não está boa. Não está boa porque a escola é pequena, há muitas pessoas que querem estudar. Queremos que se aumente um pouco e as cadeiras são de paus”, retrata Pedro Katanganha.

O jovem de 21 anos só tem a terceira classe. Desde que decidiu constituir família, há três anos, nunca mais voltou à escola. À semelhança de outras zonas rurais de Angola, as meninas e os rapazes casam-se muito cedo e deixam de ir às aulas. 

Pedro Zagueu nasceu há 33 anos, em Nete, e não sabe ler nem escrever. Mas gostava de aprender. "Nunca estudei e estou interessado".

Sem cuidados médicos

Na humilde localidade também não há assistência médica. “Hospital não tem. Temos só farmácia, mas por causa desta crise não temos mesmo nada”, desabafa o morador Fernando Paulino.

Também não há fornecimento de luz eléctrica nem água potável. Para matar a sede, Fernando Paulino e outros populares consomem água imprópria. “É mesmo nestes riachos. Os homens que têm responsabilidade fizeram um poço e é nas cacimbas [poços] onde puxamos a água. Provoca mesmo doenças, mas Deus é que nos está a cuidar. Deus é que nos dá boa saúde”, diz Fernando Paulino que reconhece o risco de contrair doenças devido ao consumo de água.

A administração municipal do Mungo justifica que tomou posse há menos de seis meses. E, por isso, ainda está em fase de levantamento dos problemas das várias localidades que compõem a municipalidade.

Angola vive desde meados de 2014 uma crise financeira, económica e cambial devido essencialmente à quebra das receitas da exportação de petróleo. Na revisão do Orçamento Geral do Estado, aprovada em 19 de setembro no parlamento, o Governo reviu em baixo o crescimento da economia de 3,3 para 1,1% e do défice das contas públicas, que passa de 5,5% para 6,8% em 2016.

O endividamento do Estado angolano tem sido utilizado para colmatar a forte quebra nas receitas com a exportação de petróleo. Em locais mais remotos como Nete, no Huambo, a falta de investimento em infraestruturas básicas é gritante, deixando as comunidades a viver em fracas condições.

Manuel Luamba (Luanda) – Deutsche Welle

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