Os
populares da localidade de Nete, município do Mungo, na província do Huambo,
queixam-se de quase tudo: falta de água, energia, hospitais e escolas. Não há
estradas e o acesso à zona faz-se por uma picada.
Mais
de 200 quilómetros separam a localidade de Nete da sede da província do Huambo,
no centro de Angola. Chegar lá não é fácil. Não existem vias primárias nem
secundárias. E a circulação rodoviária faz-se por uma picada estreita,
atravessada por rios e riachos. Os buracos e as pontes improvisadas, feitas de
paus, dificultam a circulação de pessoas e bens.
Os
motoqueiros são os principais utentes da estrada. “Conduzo andando devagar para
fugir dos buracos”, conta o motociclista Paulino Luma. “A estrada está muito
mal com os buracos. Na tentativa de fugir de outra mota que não tinha travão,
tivemos um acidente”, conta.
A
situação complica-se ainda mais no tempo chuvoso. “Quando chove, os carros não
entram. Mesmo quando temos as nossas coisas para vender, temos de levar a nossa
gasolina e com a motorizada vamos até ao Kambwengo ou Bailundo”, relata o
morador Fernando Filipe Paulino.
Em
Nete, as casas são de adobe e cobertas de capim. E a única escola pública
que existe tem poucas condições. "Há uma escola mas não está boa. Não
está boa porque a escola é pequena, há muitas pessoas que querem estudar.
Queremos que se aumente um pouco e as cadeiras são de paus”, retrata Pedro
Katanganha.
O
jovem de 21 anos só tem a terceira classe. Desde que decidiu constituir
família, há três anos, nunca mais voltou à escola. À semelhança de outras zonas
rurais de Angola, as meninas e os rapazes casam-se muito cedo e deixam de ir às
aulas.
Pedro
Zagueu nasceu há 33 anos, em Nete, e não sabe ler nem escrever. Mas gostava de
aprender. "Nunca estudei e estou interessado".
Sem
cuidados médicos
Na
humilde localidade também não há assistência médica. “Hospital não tem. Temos
só farmácia, mas por causa desta crise não temos mesmo nada”, desabafa o
morador Fernando Paulino.
Também
não há fornecimento de luz eléctrica nem água potável. Para matar a sede,
Fernando Paulino e outros populares consomem água imprópria. “É mesmo
nestes riachos. Os homens que têm responsabilidade fizeram um poço e é nas
cacimbas [poços] onde puxamos a água. Provoca mesmo doenças, mas Deus é que nos
está a cuidar. Deus é que nos dá boa saúde”, diz Fernando Paulino que reconhece
o risco de contrair doenças devido ao consumo de água.
A
administração municipal do Mungo justifica que tomou posse há menos de seis
meses. E, por isso, ainda está em fase de levantamento dos problemas das várias
localidades que compõem a municipalidade.
Angola
vive desde meados de 2014 uma crise financeira, económica e cambial devido
essencialmente à quebra das receitas da exportação de petróleo. Na revisão
do Orçamento Geral do Estado, aprovada em 19 de setembro no parlamento, o
Governo reviu em baixo o crescimento da economia de 3,3 para 1,1% e do
défice das contas públicas, que passa de 5,5% para 6,8% em 2016.
O
endividamento do Estado angolano tem sido utilizado para colmatar a forte
quebra nas receitas com a exportação de petróleo. Em locais mais remotos como
Nete, no Huambo, a falta de investimento em infraestruturas básicas é gritante,
deixando as comunidades a viver em fracas condições.
Manuel
Luamba (Luanda) – Deutsche Welle
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