As
eleições regionais realizadas ontem nos Açores demonstraram a pouca vergonha
que grassa na política portuguesa e a ausência da mesma nos políticos do país. Quase 60 por cento dos eleitores demonstraram aos políticos
açoreanos (neste caso) a sua desconfiança e recusaram passar-lhes a procuração de defesa
dos seus direitos, liberdades e garantias. Em defesa da democracia e dos
interesses por que se deviam pautar os deputados regionais. Maioritariamente,
em números alargados, os eleitores açoreanos recusaram eleger os políticos e os
partidos que os têm (des)governado ao longo de décadas – especificamente os
deputados autárquicos do PS, do PSD e do CDS.
“Porque
o voto é uma arma decidimos não votar, para não entregar a nossa arma aos que não
a merecem e ficarmos indefesos”, disseram muitos dos eleitores nos Açores.
O
desenho da democracia vigente (que muito deve à democracia de facto) permite a
abstenção eleitoral mas sem que as consequências dessa opção dos eleitores
recaia sobre os partidos políticos e os políticos que estão em concurso
eleitoral. Os eleitores manifestam claramente a sua falta de confiança nos
partidos e nos políticos mas esses mesmos que não inspiram confiança são
considerados eleitos para a tarefa de se governarem e governarem os que os
rejeitam por falta de confiança.
“Se
só 40 por cento dos deputados foram eleitos deviam ser só esses a preencher a
assembleia. Os outros 60 por cento deviam representar a abstenção, a
desconfiança e recusa dos eleitores naqueles deputados propostos pelos
partidos. As cadeiras deviam ter por significado isso mesmo e ficarem vazias. A assembleia devia ter só presentes os 40 por cento eleitos em vez fazerem batota
com a interpretação de que os eleitores não lhes enviaram a mensagem de que não
confiam neles para ali estarem. Ali e no governo, por inerência. Assim, a opção democrática de demonstrar a recusa
de eleger aqueles partidos é desvirtuada. Eles tornam-na
inconsequente. Ora digam lá que democracia é esta?” Ouvia-se com frequência
entre os que em consciência se abstiveram por não confiarem nos políticos e
partidos propostos nas listas eleitorais.
Como
se nada de anormal tivesse acontecido, a abstenção dos eleitores foi lamentada
pelos políticos mas foi inconsequente. “Até assim eles conseguem manter os “tachos”
e enganar-nos, passando comprovativo de que são eles que querem, podem e
mandam. Eleições de palhaçada, é o que é.” Desabafam alguns dos eleitores que
defendem as consequências para os partidos e os políticos que rejeitam eleger e
expressam através da abstenção do voto que lhes pertence e que em consciência foi usado na abstenção, por opção política e democrática.
Walter
Leal da Câmara, nos Açores
Abstenção
nos Açores atingiu os 59,1%, valor mais alto de sempre
A
abstenção atingiu, este domingo, 59,16% nas eleições regionais dos Açores, um
recorde absoluto nestes sufrágios, superando os 53,34% de abstenção em 2008,
que era até agora o valor mais elevado.
Dos
228.160 inscritos, apenas foram hoje às urnas 93.189 eleitores e 134.971
abstiveram-se. Nas eleições de 2012, a abstenção situou-se nos 52,14%, com
117.371 eleitores dos 225.127 inscritos a optarem por não votar.
A
mais alta taxa de abstenção de sempre nas regionais açorianas tinha-se
registado em 2008, quando 53,34% dos eleitores, 192.943, não foram às urnas.
Em
2004, a abstenção foi mais baixa, de 44%, 85.571 eleitores, e, nas eleições de
2000, foi de 46,7%.
A
taxa mais alta de participação registou-se nas eleições de 1980, com uma
abstenção de apenas 22,9%.
Quatro
anos depois, em 1984, a abstenção subiu para 37,6%, representando 64.389
eleitores. O número de abstencionistas voltou a subir em 1988, para 74.165, uma
percentagem de 41,1%.
Nas
eleições de 1992, a taxa de abstenção foi de 37,8%, 69.454 eleitores, e nas
regionais de 1996 esta taxa passou a barreira dos 40%, quando 78.184 eleitores
não foram votar.
As
primeiras eleições regionais, em 1976, já tinham registado uma taxa alta de
abstenção, de 32%, representando 52.851 eleitores em 162.677 inscritos.
Jornal de Notícias
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