quarta-feira, 23 de novembro de 2016

AMIZADE SAUDÁVEL, SEM QUALQUER MANCHA DEAMBIGUIDADE


EM NOME DUMA TRILHA LIBERTÁRIA NOS ALICERCES DA PAZ E DA HARMONIA

Martinho Júnior, Luanda 

1 – A amizade entre Angola e Cuba foi forjada na luta armada contra o colonialismo português e contra o “apartheid”, tendo início de forma expressiva a 2 de Janeiro de 1965, no informal encontro do Comandante Che Guevara com a Direção do MPLA liderada pelo camarada Presidente António Agostinho Neto, em Brazzaville e estando em vigor até aos nossos dias, quando a luta contra o subdesenvolvimento antropológico e histórico marca ainda a profunda letargia de África.

Tem sido uma amizade inconfundível nos termos mais exemplares duma política solidária e internacionalista dum país socialista que em relação a África nenhum bloqueio pôde parar e por isso forjada nos momentos mais difíceis, mas também mais decisivos da história contemporânea de África, num caminho estoico, heroico e único, resultando depois de 2002 completamente fora da órbitra neoliberal que se seguiu ao fim da Guerra Fria.
  
2 – Cuba veio reforçar em África a luta do movimento de libertação, estando presente em vários teatros operacionais, entre eles o da Argélia, o da Guiné Bissau e o de Angola, em relação aos dois últimos, contra o colonialismo português.

Contra o “apartheid” e seu cortejo de fantoches aptos para os “bantustões”, Cuba deu, com solidariedade e internacionalismo, um inestimável contributo integrando a Linha da Frente, particularmente em solo de Angola, reforçando a saga que conduziu ao fim desse flagelo que era um anátema para África e para a Humanidade, que teve seu fim no Acordo Tripartido de Nova York, a 22 de Dezembro de 1988.

O Acordo Tripartido de Nova York, no rescaldo da longa batalha do Cuito Cuanavale, consumou a independência da Namíbia da África do Sul, deu oportunidade à implantação das regras democráticas (um homem = um voto) na África do Sul e abriu espaço e oportunidade à vitória progressista na África Austral, coincidindo com o final da Guerra Fria.

O fim desse período e desde 1988 a 2002, marcou todavia, injusta e profundamente, as vidas de Cuba e de Angola, diminuindo nesses doze anos, por imperativos conjunturais da hegemonia unipolar, a ênfase do seu relacionamento bilateral: enquanto Cuba era obrigada a atravessar o “período especial” a partir de quando implodiu o socialismo real na Europa e na URSS (Cuba conseguiu superar esse período em 2002 com o apoio do governo progressista do Comandante Hugo Chavez na Venezuela), Angola por seu turno, de 1992 a 2002, viveu o impacto do choque neoliberal protagonizado pelo instrumentalizado Savimbi, em função dos estímulos das administrações estado-unidenses que seguiram a cartilha neoliberal a partir do presidente Ronald Reagan, que aliás tratava Savimbi como um dos seus diletos “freedom fighters”!

3 – O advento da paz em Angola e o relativo desafogo que Cuba começou a viver depois de ultrapassar o “período especial” (desde 2003 que o PIB cresce em Cuba), ainda que não tivesse fim o bloqueio ignóbil dos Estados Unidos à ilha, permitiu o retomar dos relacionamentos em novos moldes: privilegiando os sectores da saúde e da educação, Cuba mostrou-se disposta em dar a sua inestimável contribuição na atividades desses sectores governamentais em Angola, num momento em que o país continua a sentir a falta de quadros e de contributos em questões tão sensíveis para a vida do seu povo.

De facto reconstruir, reconciliar e reinserir revitalizando a sociedade angolana traumatizada sobretudo pelo choque neoliberal, para se tornar num processo harmónico, providenciou essa salutar reaproximação particularmente a partir de 2004.

Quando fui a Cuba com o camarada Leopoldo Baio em Outubro de 2004 a fim de participar na Reunião Bianual e Internacional dos Correspondentes de Guerra integrando a pequena Delegação do semanário Actual, reclamava a necessidade evidente de se dar continuidade à saga da Operação Carlota, nos moldes que se tornavam possíveis nos termos da paz e dos fraternos relacionamentos bilaterais inseridos e vocacionados na senda do Não Alinhamento ativo que caraterizava ambos os protagonismos.

O momento era propício: Cuba superava o “período especial” e Angola punha fim ao choque neoliberal.

As duas nações, estados e povos têm tido a perceção que com a paz, os sectores da saúde e da educação são dois dos sectores mais importantes para gerar a oportunidade da sustentabilidade ao desenvolvimento, uma vez que neles é o homem que se situa no centro de todas as atenções e implicações, sem inibir (pelo contrário) o relacionamento dele no âmbito do aproveitamento dos recursos no seu espaço vital e nos acessos dele à água interior, num continente em que os desertos quentes têm, a norte e a sul, tão grande extensão.

4 – O saudável relacionamento bilateral nos moldes da paz projetada para a luta contra o subdesenvolvimento e pela implantação dum desenvolvimento sustentável, em Angola tem sido exequível no âmbito da harmonia e nela contrasta hoje, claramente, com a terapia neoliberal que dá sequência ao choque neoliberal registado entre 1992 e 2002 no nosso país.

Para além do processo histórico em comum, nos dias como hoje não há ambiguidade nos relacionamentos Angola – Cuba:

É um relacionamento tornado irmandade por que ele permite impedir qualquer tipo de ingerência e manipulação estranhas por muito poderosas que sejam, conforme é feito, na tentativa de subversão da harmonia, por aqueles que perfilham a trilha da terapia neoliberal, seja por via da tese, seja por via da antítese dos seus conteúdos, numa aparente oposição que é uma armadilha para a vida nacional.

É um relacionamento inteligente por que ainda que aceitando premissas coerentes de mercado, assume em alguns sectores uma concorrência não especulativa e por isso tacitamente reguladora.

É um relacionamento tornado irmandade, por que seu exemplo é rico de conteúdos humanos, o que reforça o papel integral do homem em todas as atividades em que se empenhe e por isso torna-se capaz de nutrir enriquecidos processos éticos e morais, incompatíveis com a podridão da terapia neoliberal.

É um relacionamento incontornável, por que se é hoje possível imaginar o renascimento africano, ele é plataforma básica nesse sentido, insuflando a lógica com sentido de vida indispensável a tão elevada aspiração!

5 – Para além do passado que desfilou na Avenida 4 de fevereiro, desde o Porto de Luanda até à Praça da Amizade Angola – Cuba e em uníssono com ele, evidencio aqui o saudável prolongamento da Operação Carlota face ao monstro da terapia neoliberal, que tantos impactos nocivos tem trazido a Angola, no seguimento do processo introdutório que foi o choque neoliberal instrumentalizado por Savimbi, arrombando as portas de Angola à nocividade do “soft power” do domínio por via da hegemonia unipolar daqueles 1% que impõem sobre os demais seus interesses exclusivistas.

Por isso parece-me justo sublinhar em função do 41º aniversário do reconhecimento de Angola pela irmã Cuba, conforme à abrangente ideia de que Pátria é Humanidade:

ESTIVEMOS HOJE NUMA PRAÇA DE GRANDE MEMÓRIA SIMBOLIZADA PELA ALIANÇA QUE UNE ANGOLA E CUBA, ONDE OS VIVOS SE ENCARREGARAM SOLENEMENTE DE IMPEDIR QUE HOUVESSEM AUSÊNCIAS!...

SOB OS NOSSOS OLHOS DESFILARAM HERÓIS E MÁRTIRES DE LONGAS DÉCADAS DE LUTA PELA PAZ, PELA DIGNIDADE E PELA SOLIDARIEDADE ENTRE AS NAÇÕES, ESTADOS E POVOS!...

VIVA O EXEMPLO DA INDESTRUTÍVEL ALIANÇA E DA IRMANDADE ANGOLA - CUBA! 

Fotos do desfile e das cerimónias.

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