EM
NOME DUMA TRILHA LIBERTÁRIA NOS ALICERCES DA PAZ E DA HARMONIA
Martinho Júnior, Luanda
1
– A amizade entre Angola e Cuba foi forjada na luta armada contra o colonialismo
português e contra o “apartheid”, tendo início de forma expressiva a 2 de
Janeiro de 1965, no informal encontro do Comandante Che Guevara com a Direção
do MPLA liderada pelo camarada Presidente António Agostinho Neto, em
Brazzaville e estando em vigor até aos nossos dias, quando a luta contra o
subdesenvolvimento antropológico e histórico marca ainda a profunda letargia de
África.
Tem
sido uma amizade inconfundível nos termos mais exemplares duma política
solidária e internacionalista dum país socialista que em relação a África
nenhum bloqueio pôde parar e por isso forjada nos momentos mais difíceis, mas
também mais decisivos da história contemporânea de África, num caminho estoico,
heroico e único, resultando depois de 2002 completamente fora da órbitra
neoliberal que se seguiu ao fim da Guerra Fria.
2
– Cuba veio reforçar em África a luta do movimento de libertação, estando
presente em vários teatros operacionais, entre eles o da Argélia, o da Guiné
Bissau e o de Angola, em relação aos dois últimos, contra o colonialismo
português.
Contra
o “apartheid” e seu cortejo de fantoches aptos para os “bantustões”,
Cuba deu, com solidariedade e internacionalismo, um inestimável contributo
integrando a Linha da Frente, particularmente em solo de Angola, reforçando a
saga que conduziu ao fim desse flagelo que era um anátema para África e para a
Humanidade, que teve seu fim no Acordo Tripartido de Nova York, a 22 de
Dezembro de 1988.
O
Acordo Tripartido de Nova York, no rescaldo da longa batalha do Cuito
Cuanavale, consumou a independência da Namíbia da África do Sul, deu
oportunidade à implantação das regras democráticas (um homem = um voto) na
África do Sul e abriu espaço e oportunidade à vitória progressista na África
Austral, coincidindo com o final da Guerra Fria.
O
fim desse período e desde 1988 a 2002, marcou todavia, injusta e profundamente,
as vidas de Cuba e de Angola, diminuindo nesses doze anos, por imperativos
conjunturais da hegemonia unipolar, a ênfase do seu relacionamento bilateral:
enquanto Cuba era obrigada a atravessar o “período especial” a partir
de quando implodiu o socialismo real na Europa e na URSS (Cuba conseguiu
superar esse período em 2002 com o apoio do governo progressista do Comandante
Hugo Chavez na Venezuela), Angola por seu turno, de 1992 a 2002, viveu o
impacto do choque neoliberal protagonizado pelo instrumentalizado Savimbi, em
função dos estímulos das administrações estado-unidenses que seguiram a cartilha
neoliberal a partir do presidente Ronald Reagan, que aliás tratava Savimbi como
um dos seus diletos “freedom fighters”!
3
– O advento da paz em Angola e o relativo desafogo que Cuba começou a viver
depois de ultrapassar o “período especial” (desde 2003 que o PIB
cresce em Cuba), ainda que não tivesse fim o bloqueio ignóbil dos Estados
Unidos à ilha, permitiu o retomar dos relacionamentos em novos moldes:
privilegiando os sectores da saúde e da educação, Cuba mostrou-se disposta em
dar a sua inestimável contribuição na atividades desses sectores governamentais
em Angola, num momento em que o país continua a sentir a falta de quadros e de
contributos em questões tão sensíveis para a vida do seu povo.
De
facto reconstruir, reconciliar e reinserir revitalizando a sociedade angolana
traumatizada sobretudo pelo choque neoliberal, para se tornar num processo
harmónico, providenciou essa salutar reaproximação particularmente a partir de
2004.
Quando
fui a Cuba com o camarada Leopoldo Baio em Outubro de 2004 a fim de participar
na Reunião Bianual e Internacional dos Correspondentes de Guerra integrando a
pequena Delegação do semanário Actual, reclamava a necessidade evidente de se
dar continuidade à saga da Operação Carlota, nos moldes que se tornavam
possíveis nos termos da paz e dos fraternos relacionamentos bilaterais
inseridos e vocacionados na senda do Não Alinhamento ativo que caraterizava
ambos os protagonismos.
O
momento era propício: Cuba superava o “período especial” e Angola
punha fim ao choque neoliberal.
As
duas nações, estados e povos têm tido a perceção que com a paz, os sectores da
saúde e da educação são dois dos sectores mais importantes para gerar a
oportunidade da sustentabilidade ao desenvolvimento, uma vez que neles é o
homem que se situa no centro de todas as atenções e implicações, sem inibir
(pelo contrário) o relacionamento dele no âmbito do aproveitamento dos recursos
no seu espaço vital e nos acessos dele à água interior, num continente em que
os desertos quentes têm, a norte e a sul, tão grande extensão.
4
– O saudável relacionamento bilateral nos moldes da paz projetada para a luta
contra o subdesenvolvimento e pela implantação dum desenvolvimento sustentável,
em Angola tem sido exequível no âmbito da harmonia e nela contrasta hoje,
claramente, com a terapia neoliberal que dá sequência ao choque neoliberal
registado entre 1992 e 2002 no nosso país.
Para
além do processo histórico em comum, nos dias como hoje não há ambiguidade nos
relacionamentos Angola – Cuba:
É
um relacionamento tornado irmandade por que ele permite impedir qualquer tipo
de ingerência e manipulação estranhas por muito poderosas que sejam, conforme é
feito, na tentativa de subversão da harmonia, por aqueles que perfilham a
trilha da terapia neoliberal, seja por via da tese, seja por via da antítese
dos seus conteúdos, numa aparente oposição que é uma armadilha para a vida
nacional.
É
um relacionamento inteligente por que ainda que aceitando premissas coerentes
de mercado, assume em alguns sectores uma concorrência não especulativa e por
isso tacitamente reguladora.
É
um relacionamento tornado irmandade, por que seu exemplo é rico de conteúdos
humanos, o que reforça o papel integral do homem em todas as atividades em que
se empenhe e por isso torna-se capaz de nutrir enriquecidos processos éticos e
morais, incompatíveis com a podridão da terapia neoliberal.
É
um relacionamento incontornável, por que se é hoje possível imaginar o
renascimento africano, ele é plataforma básica nesse sentido, insuflando a
lógica com sentido de vida indispensável a tão elevada aspiração!
5
– Para além do passado que desfilou na Avenida 4 de fevereiro, desde o Porto de
Luanda até à Praça da Amizade Angola – Cuba e em uníssono com ele, evidencio
aqui o saudável prolongamento da Operação Carlota face ao monstro da terapia
neoliberal, que tantos impactos nocivos tem trazido a Angola, no seguimento do
processo introdutório que foi o choque neoliberal instrumentalizado por
Savimbi, arrombando as portas de Angola à nocividade do “soft power” do
domínio por via da hegemonia unipolar daqueles 1% que impõem sobre os demais
seus interesses exclusivistas.
Por
isso parece-me justo sublinhar em função do 41º aniversário do reconhecimento
de Angola pela irmã Cuba, conforme à abrangente ideia de que Pátria é
Humanidade:
ESTIVEMOS
HOJE NUMA PRAÇA DE GRANDE MEMÓRIA SIMBOLIZADA PELA ALIANÇA QUE UNE ANGOLA E
CUBA, ONDE OS VIVOS SE ENCARREGARAM SOLENEMENTE DE IMPEDIR QUE HOUVESSEM
AUSÊNCIAS!...
SOB
OS NOSSOS OLHOS DESFILARAM HERÓIS E MÁRTIRES DE LONGAS DÉCADAS DE LUTA PELA PAZ,
PELA DIGNIDADE E PELA SOLIDARIEDADE ENTRE AS NAÇÕES, ESTADOS E POVOS!...
VIVA
O EXEMPLO DA INDESTRUTÍVEL ALIANÇA E DA IRMANDADE ANGOLA - CUBA!
Fotos
do desfile e das cerimónias.
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