segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Angola. CASA-CE ADMITE GOVERNAR COM MPLA



Chivukuvuku está convencido de que será “governo ou parte de governo” e não descarta coligação com MPLA de “patriotas”.

O presidente da CASA-CE, terceira força política no país, Abel Chivukuvuku, está convencido de que será “governo ou parte de governo” em resultado das eleições deste ano, e não afasta a hipótese de governar com o MPLA.

“Com este MPLA que conheço hoje não haveria possibilidade de convergência. Partimos de bases completamente diferentes. Agora, não ponho de parte a possibilidade do próprio MPLA também se transformar”, afirmou em entrevista à agência Lusa o presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral (CASA-CE).

“Os fenómenos humanos e políticos são mutáveis. É possível que venha uma nova liderança do MPLA que queira também a democracia, que queira a boa governação. Se houver esses patriotas, sim senhor! Mas com os dirigentes de hoje não temos convergência possível”, acrescentou Abel Epalanga Chivukuvuku, 58 anos, antigo combatente da UNITA e ex-dirigente do partido fundado por Jonas Savimbi, que chegou a apontá-lo como o seu sucessor.

O presidente da CASA-CE vem a afirmar há cerca de um ano a convicção de que será “governo ou parte de Governo” em resultado das eleições do país previstas para Agosto próximo, uma “formulação” que mantém e diz estar alicerçada em “estudos de opinião”.

“Mantenho essa formulação. Em primeiro lugar, temos acesso a estudos de tendências de opinião. Não temos sido nós a requisitar, mas temos tido acesso. Se conseguirmos realizar em Angola eleições justas, livres e transparentes, não tenho dúvida absolutamente nenhuma de que haverá mudança em Angola, [e nós] temos condições para ser uma força política determinante para o futuro de Angola. E para sermos uma força política determinante teremos que ser governo ou parte do governo”, afirmou.

Quanto aos resultados que espera obter, Chivukuvuku foi evasivo, afirmando apenas que está a lutar para obter “os resultados que permitam à CASA ser governo ou parte do governo”, mas sublinhando também a convicção de que o cenário de uma maioria parlamentar “é realizável”.

“O importante – reforçou – é conseguirmos eleições livres, justas e transparentes”. “A CASA-CE conseguiu transmitir confiança e esperança a vários segmentos populacionais que já não acreditavam no jogo político angolano, conseguiu entusiasmar segmentos que no passado eram apáticos, particularmente a juventude. Hoje, a CASA-CE precisa só de transmitir confiança em determinados segmentos ligados ao sistema para perceberem que, mesmo as pessoas ligadas ao sistema têm a ganhar com a mudança. É isso que vai fazer com que se realizem os objectivos”, concretizou Abel Chivukuvuku.

Quanto a eventuais alianças futuras, caso os resultados eleitorais venham a dar razão à convicção do líder da CASA-CE, Chivukuvuku não abriu o jogo. “Nas circunstâncias presentes não determinamos que partido” ou partidos poderão ajustar-se numa coligação governamental, disse.

“Nas circunstâncias presentes determinamos a nossa visão, estruturamos as grandes bases de programação da nossa governação. Depois, em função dos resultados eleitorais e da avaliação, serão os partidos com uma identidade que se aproxime da nossa aqueles com que poderemos trabalhar”, acrescentou.

“Não poderemos trabalhar com um partido corrupto, quando somos contra a corrupção, não poderemos trabalhar com um partido insensível ao sofrimento e pobreza da população, quando o que queremos é realizar o cidadão, não poderemos trabalhar com um partido antidemocrático, quando o que queremos é afirmar os princípios e valores da democracia. Serão essas as bases de avaliação”, disse ainda o líder da CASA-CE, o que, foi também claro, exclui o “MPLA de hoje”.

Chivukuvuku indicou também que a coligação que dirige está “neste momento a absorver vários cidadãos de vários segmentos políticos, populacionais e sociais, que se juntam à CASA”, num “fenómeno crescente”, mas escusou-se a indicar se está a convidar expressamente estes “segmentos” para o fazerem.

O ex-primeiro-ministro Marcolino Moco, é um dos nomes sonantes que têm sido identificados como em órbita de aproximação à CASA-CE, porém, instado a dizer se tenciona convidá-lo a integrar a coligação nesta recta para as eleições, Chivukuvuku foi particularmente lacónico. “Recebemos todos. Não temos parâmetros de recusa. Cada cidadão é livre de optar”, disse.

“Temos trabalhado bastante com o meu conterrâneo e amigo Dr. Marcolino Moco. Ele esteve no nosso congresso, participou em seminários organizados pela CASA no Huambo, em Benguela e em vários outros locais. Ele tem vontade, como cidadão, de dar o seu contributo e é livre, se assim o entender, de dar outros passos na vida. Colocamos isso como um acto de liberdade de cada cidadão angolano”, acrescentou.

Perigo de repetição da “abstenção induzida”

O líder da CASA-CE mostrou-se preocupado com o processo do registo eleitoral e alerta para o perigo de repetição da “abstenção induzida”, se os cadernos eleitorais não forem publicados “com tempo”.

“Quando é que os cadernos eleitorais vão ser afixados?”, perguntou, explicando que nas eleições de 2012 o país viveu “o fenómeno da abstenção induzida”, e o mesmo não pode ser acontecer nas eleições previstas para Agosto próximo.

“A lei determinava que os cidadãos tinham que votar onde estivessem inscritos nos cadernos eleitorais e máquina fez confusão com todos os cadernos, de modo que o nome de um cidadão residente na Maianga aparecia no caderno eleitoral do Bié, o nome de um cidadão residente em Cabinda aparecia no Huambo… Isso foi abstenção induzida”, acusou o político.

O processo de preparação das eleições, acusou ainda Abel Chivukuvuku, está desde logo manchado pelo facto de o governo ter chamado a si a responsabilidade do registo eleitoral dos cidadãos, em sede do Ministério da Administração do Território – tutelado por Bornito de Sousa, eventual número dois da lista do MPLA e candidato a vice-Presidente da República -, em vez de o deixar nas mãos da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), como até aqui.

“No capítulo do registo dos cidadãos, entendemos que houve violação das normas constitucionais por parte do governo. A Constituição determina que todos os actos ligados ao processo eleitoral são da competência exclusiva da CNE. Mas como temos um governo que faz a interpretação casuística das normas constitucionais e legais, forçaram o Tribunal Constitucional a suportar a interpretação de que o registo eleitoral não faz parte do processo eleitoral”, defendeu.

Lusa, em Rede Angola

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