Chivukuvuku
está convencido de que será “governo ou parte de governo” e não descarta
coligação com MPLA de “patriotas”.
O
presidente da CASA-CE, terceira força política no país, Abel Chivukuvuku, está
convencido de que será “governo ou parte de governo” em resultado das eleições
deste ano, e não afasta a hipótese de governar com o MPLA.
“Com
este MPLA que conheço hoje não haveria possibilidade de convergência. Partimos
de bases completamente diferentes. Agora, não ponho de parte a possibilidade do
próprio MPLA também se transformar”, afirmou em entrevista à agência Lusa o
presidente da Convergência Ampla de Salvação de Angola – Coligação Eleitoral
(CASA-CE).
“Os
fenómenos humanos e políticos são mutáveis. É possível que venha uma nova
liderança do MPLA que queira também a democracia, que queira a boa governação.
Se houver esses patriotas, sim senhor! Mas com os dirigentes de hoje não temos
convergência possível”, acrescentou Abel Epalanga Chivukuvuku, 58 anos, antigo
combatente da UNITA e ex-dirigente do partido fundado por Jonas Savimbi, que
chegou a apontá-lo como o seu sucessor.
O
presidente da CASA-CE vem a afirmar há cerca de um ano a convicção de que será
“governo ou parte de Governo” em resultado das eleições do país previstas para
Agosto próximo, uma “formulação” que mantém e diz estar alicerçada em “estudos
de opinião”.
“Mantenho
essa formulação. Em primeiro lugar, temos acesso a estudos de tendências de
opinião. Não temos sido nós a requisitar, mas temos tido acesso. Se
conseguirmos realizar em Angola eleições justas, livres e transparentes, não
tenho dúvida absolutamente nenhuma de que haverá mudança em Angola, [e nós]
temos condições para ser uma força política determinante para o futuro de
Angola. E para sermos uma força política determinante teremos que ser governo
ou parte do governo”, afirmou.
Quanto
aos resultados que espera obter, Chivukuvuku foi evasivo, afirmando apenas que
está a lutar para obter “os resultados que permitam à CASA ser governo ou parte
do governo”, mas sublinhando também a convicção de que o cenário de uma maioria
parlamentar “é realizável”.
“O
importante – reforçou – é conseguirmos eleições livres, justas e
transparentes”. “A CASA-CE conseguiu transmitir confiança e esperança a vários
segmentos populacionais que já não acreditavam no jogo político angolano,
conseguiu entusiasmar segmentos que no passado eram apáticos, particularmente a
juventude. Hoje, a CASA-CE precisa só de transmitir confiança em determinados
segmentos ligados ao sistema para perceberem que, mesmo as pessoas ligadas ao
sistema têm a ganhar com a mudança. É isso que vai fazer com que se realizem os
objectivos”, concretizou Abel Chivukuvuku.
Quanto
a eventuais alianças futuras, caso os resultados eleitorais venham a dar razão
à convicção do líder da CASA-CE, Chivukuvuku não abriu o jogo. “Nas
circunstâncias presentes não determinamos que partido” ou partidos poderão
ajustar-se numa coligação governamental, disse.
“Nas
circunstâncias presentes determinamos a nossa visão, estruturamos as grandes
bases de programação da nossa governação. Depois, em função dos resultados
eleitorais e da avaliação, serão os partidos com uma identidade que se aproxime
da nossa aqueles com que poderemos trabalhar”, acrescentou.
“Não
poderemos trabalhar com um partido corrupto, quando somos contra a corrupção,
não poderemos trabalhar com um partido insensível ao sofrimento e pobreza da
população, quando o que queremos é realizar o cidadão, não poderemos trabalhar
com um partido antidemocrático, quando o que queremos é afirmar os princípios e
valores da democracia. Serão essas as bases de avaliação”, disse ainda o líder
da CASA-CE, o que, foi também claro, exclui o “MPLA de hoje”.
Chivukuvuku
indicou também que a coligação que dirige está “neste momento a absorver vários
cidadãos de vários segmentos políticos, populacionais e sociais, que se juntam
à CASA”, num “fenómeno crescente”, mas escusou-se a indicar se está a convidar
expressamente estes “segmentos” para o fazerem.
O
ex-primeiro-ministro Marcolino Moco, é um dos nomes sonantes que têm sido
identificados como em órbita de aproximação à CASA-CE, porém, instado a dizer
se tenciona convidá-lo a integrar a coligação nesta recta para as eleições,
Chivukuvuku foi particularmente lacónico. “Recebemos todos. Não temos
parâmetros de recusa. Cada cidadão é livre de optar”, disse.
“Temos
trabalhado bastante com o meu conterrâneo e amigo Dr. Marcolino Moco. Ele
esteve no nosso congresso, participou em seminários organizados pela CASA no
Huambo, em Benguela e em vários outros locais. Ele tem vontade, como cidadão,
de dar o seu contributo e é livre, se assim o entender, de dar outros passos na
vida. Colocamos isso como um acto de liberdade de cada cidadão angolano”,
acrescentou.
Perigo
de repetição da “abstenção induzida”
O
líder da CASA-CE mostrou-se preocupado com o processo do registo eleitoral e
alerta para o perigo de repetição da “abstenção induzida”, se os cadernos
eleitorais não forem publicados “com tempo”.
“Quando
é que os cadernos eleitorais vão ser afixados?”, perguntou, explicando que nas
eleições de 2012 o país viveu “o fenómeno da abstenção induzida”, e o mesmo não
pode ser acontecer nas eleições previstas para Agosto próximo.
“A
lei determinava que os cidadãos tinham que votar onde estivessem inscritos nos
cadernos eleitorais e máquina fez confusão com todos os cadernos, de modo que o
nome de um cidadão residente na Maianga aparecia no caderno eleitoral do Bié, o
nome de um cidadão residente em Cabinda aparecia no Huambo… Isso foi abstenção
induzida”, acusou o político.
O
processo de preparação das eleições, acusou ainda Abel Chivukuvuku, está desde
logo manchado pelo facto de o governo ter chamado a si a responsabilidade do
registo eleitoral dos cidadãos, em sede do Ministério da Administração do
Território – tutelado por Bornito de Sousa, eventual número dois da lista do
MPLA e candidato a vice-Presidente da República -, em vez de o deixar nas mãos
da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), como até aqui.
“No
capítulo do registo dos cidadãos, entendemos que houve violação das normas
constitucionais por parte do governo. A Constituição determina que todos os
actos ligados ao processo eleitoral são da competência exclusiva da CNE. Mas
como temos um governo que faz a interpretação casuística das normas
constitucionais e legais, forçaram o Tribunal Constitucional a suportar a
interpretação de que o registo eleitoral não faz parte do processo eleitoral”,
defendeu.
Lusa,
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