Artigo
de 05.12.2016
Presidente
gambiano foi forçado a deixar o poder depois de 22 anos. Em Angola, José
Eduardo dos Santos ocupa o cargo presidencial há 37 e as eleições estão
marcadas para 2017. Poderá haver semelhanças nestes dois casos?
O
Presidente gambiano, Yahya Jammeh, foi forçado a deixar o poder que
detinha há 22 anos no termo da eleição presidencial da semana passada. Em
Angola, José Eduardo dos Santos ocupa o cargo presidencial há 37 anos e as
eleições gerais estão marcadas para 2017. Poderá haver semelhanças nestes dois
casos?
Na
Gâmbia, a vitória do líder da oposição nas eleições presidenciais apanhou
vários observadores de surpresa - o Presidente gambiano governou o país
com mão de ferro durante 22 anos e já tinha vencido três eleições.
Mas,
desta vez, a oposição uniu-se, e os gambianos sancionaram Jammeh nas urnas,
numa altura em que ficava cada vez mais isolado internacionalmente: a
Gâmbia anunciou que se iria retirar do Tribunal Penal Internacional e cortou
laços com vários países ocidentais. O regime de Jammeh tem sido acusado de
reprimir a oposição e, simultaneamente, milhares de pessoas deixaram o país
devido a dificuldades económicas.
A
oposição, liderada por Adama Barrow, venceu com 45,54% dos votos, contra 36,66%
de Jammeh. No site Rede Angola, a jornalista Luísa Rogério descreveu a vitória
de Barrow como a "Esperança Triunfante na Gâmbia".
"O
pequeno país compreendeu que o voto popular serve para eleger projetos. E
assim, o rosto desconhecido emergiu, relegando para os compêndios académicos o
estudo das ações do homem que enfeitava retratos em todos os cantos da
Gâmbia", escreveu Rogério.
Em
Angola, o Presidente José Eduardo dos Santos está no poder há 37 anos. Será
que, à semelhança do que aconteceu na Gâmbia, a oposição angolana poderá vencer
as eleições marcadas para 2017?
Em
entrevista à DW África, o investigador do Centro de Estudos Internacionais do
ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, Eugénio Costa Almeida, duvida. As
situações são diferentes, justifica.
DW África:
Na Gâmbia, a derrota do Presidente Yahya Jammeh, e em particular o
reconhecimento da derrota, surpreendeu-o?
Eugénio
Almeida (EA): Sim, dada a exigência da governação e o facto de ele ser
claramente um autocrata, ou seja, um ditador bastante forte no país.
DW
África: Na Gâmbia, o que se diz é que o povo estava cansado e, de facto, a
oposição venceu. O Presidente Jammeh estava há 22 anos no poder; em Angola,
José Eduardo dos Santos está há 37. A situação é diferente em Angola?
EA: É
completamente diferente. O ex-Presidente gambiano tinha uma áurea de um pouco
"kibanda", como dizemos em Angola, um pouco brusco. Recordemos que
ele tinha dito que tinha inventado hipóteses de cura da SIDA, etc. etc. e,
portanto, isso cansa as pessoas. Se elas forem bem "trabalhadas", no
sentido político da expressão, por um opositor, mais depressa o cansaço se
torna evidente. Foi isso que provavelmente aconteceu na Gâmbia. Ora, em Angola
a situação não é a mesma; a situação nem sequer é comparável. José
Eduardo dos Santos está há 37 anos no poder. Inicialmente, sabemos que foi através
da política de partido único. Mais tarde, depois de 1998, começou a chamada
liberalização política [multipartidarismo] e [Eduardo dos Santos] tinha
aura de sair vencedor de uma luta fraticida.
DW
África : Mas em Angola nota-se um cansaço no seio da população?
EA: Há
um setor que está cansado e há um outro que não e o continua a idolatrar. Não
me admiraria que esse mesmo setor tentasse persuadi-lo a continuar. Mas, como
sabe, há quem tenha sempre um apoio muito forte individualmente, embora o
partido que o acompanhe possa não ter o mesmo apoio. E entre ficar no poder e
ter uma derrota política, no sentido de não ter o "score"
inicialmente desejável, o bom senso manda que se saia. É isso que, claramente,
se passa em Angola.
DW
África: Portanto, resumindo, uma situação como a que se passou na Gâmbia não
aconteceria em Angola, de acordo com o que me disse até agora?
EA: Não
me parece possível. Repare, claro que tudo é possível, desde que haja vontade e
uma necessidade de mudança imperiosa. Mas para isso seria necessário
que haja alguém que aglutine essa vontade.
DW
África: Na Gâmbia, a oposição uniu-se contra Jammeh, acreditando, no fundo, que
juntos seriam mais fortes. Isso poderá acontecer em Angola? Uma união da
oposição contra o MPLA?
EA: Acredito
que mais depressa o rio Cuanza ficaria seco. Não vejo viabilidade possível,
porque há pelo menos dois bons quadros para o poder: Isaías Samakuva e Abel
Chivukuvuku, até já foram companheiros de partido, já tiveram algum litígio
precisamente por causa do poder e, portanto, teria que haver conversações muito
fortes e prolongadas para que isso viesse a acontecer. Ora 2017 é já daqui a
27 dias.
Guilherme
Correia da Silva – Deutsche Welle – Na foto: Eugénio Costa Almeida
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