Soares
gostaria de ter ajudado a fomentar uma solução de paz
Não
conheci pessoalmente o falecido antigo Chefe de Governo e Presidente português
Mário Soares. Todavia, conheci pessoas que com ele privaram muito proximamente
e que diziam que muitos de nós, éramos um pouco injustos com ele. A História um
dia o dirá.
Como
se sabe, Mário Soares, enquanto Ministro dos Governos Provisórios portugueses
do pós 25- de Abril, teve um papel activo na descolonização das ex-colónias
portuguesas. Tem sido, justa ou injustamente, acusado de ter praticado uma
deficiente descolonização. Isso, a História – quando todos os documentos desta
matéria forem desclassificados – o dirá.
No
que toca a Angola, sabemos que teve sempre um papel um pouco dúbio, quer quanto
à descolonização, propriamente dita, talvez porque os protagonistas, ao contrário
de Moçambique, não lhe mereciam muito crédito, principalmente, os que
gravitavam em torno dos movimentos emancipalistas nacionais; quer quanto, e
enquanto líder governativo, no que se referia às relações entre estados e entre
membros governativos.
Sabe-se,
quem o conhecia bem, que Mário Soares, gostaria de ter ajudado a fomentar uma
solução de paz entre os irmãos angolanos desavindos e que dessa solução o País
tivesse uma mais rápida e duradoura conciliação e concórdia que lhe permitisse
sair da situação de guerra mais cedo e mais cedo ter enveredado por um caminho
de desenvolvimento e prosperidade que ainda não temos. Mário Soares via nessa
Paz mais rápida uma via para um sistema político mais abrangente e mais
distributivo. Uma democracia mais conciliável com o sistema democrático
representativo vigente, por exemplo, em Portugal.
Também
tentou reconciliar – paradoxalmente, isso só foi conseguido com partidos
conservadores portugueses – Portugal e Angola naquilo que ele considerava como
sendo – e, com a devida vénia, cito o Africa Monitor, – um “redimir Portugal
das graves responsabilidades na má sorte de Angola”. Ora como Agostinho Neto,
uma vez afirmou, era mais fácil conversar com a direita portuguesa que com os
socialistas – o MPLA é partido-irmão do PS na Internacional Socialista – devido
não sofrerem de complexos de neocolonização. E isso era algo que, como me
afirmavam, Mário Soares não sofria. Ele via o todo, não particular. Só que um
Chefe de Governo, num sistema pluralista, também tem limites nas suas decisões
governativas. Elas são de consenso, não de imposição.
Talvez
que o seu mandato enquanto Presidente não tenha sido o melhor. Factos externos
a isso contribuíram. Mas isso, de certeza, o dossier do Novo Jornal o mostrará.
Esperemos
pelos factos históricos que, um dia, nos esclarecerão de tudo o que se passou
nas relações entre os nossos dois países. Nós, angolanos, só devemos agradecer
se ter imposto a Spínola para que os três D’s (Descolonizar, Democratizar e
Desenvolver) do MPF tenham sido levados por diante. Deveria ter sido mais
cauteloso, no nosso caso, que tínhamos 3 movimentos de raiz ideológica
diferentes? Sim, deveria. E aí também nós já gozaríamos não só do primeiro “D”
como dos outros dois. Ainda vamos a tempo para o recordarmos e à sua memória
política.
Aguardemos
pela História!
Publicado
no Novo Jornal, edição 465, de 13 de Janeiro de 2017 (Análise integrada no
dossiê dedicado a Mário Soares, ex-presidente português, falecido em 7 de
Janeiro passado), página 4 com o título: «Actuação do estadista no
conflito em Angola» e sub-título «Soares gostaria de ter ajudado a
fomentar uma solução de paz» - ver pdf do artigo publicado aqui .
*Investigador
e Pós-Doutorando.
**Eugénio
Costa Almeida – Pululu -
Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em
Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo
Relações Internacionais - nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de
opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.
1 comentário:
Neste assunto, (descolonização) como na conquista da liberdade e da democracia, também os soaristas menosprezam o 25 de abril e os seus fautores... o Deus Soares fez tudo... Esquecem-se ou fazem-se esquecidos dos três DÊS do programa do MFA e que, portanto, o processo de descolonização estava inscrito no "PROGRAMA" que Soares, como outros executivos diretos "Honra seja feita a todos"... agiram de acordo com o programa dos militares...Eu, próprio, tendo sido, aqui, na então dita Metrópole, operacional na fase eminente do derrube da ditadura... parti para Moçambique em 15 de outubro 1974 e fiz parte da coordenação do processo como delegado do MFA, na Comissão da Beira cuja missão fundamental era acompanhar e coordenar o processo de descolonização mediante orientação da Coordenadora do MFA e não do D.r Mário Soares. E o processo foi complicado e fomos nós militares que estávamos no terreno, mediante orientação político-militar emanada das estruturas do Movimento, que atuamos num processo que não foi pera doce... Hoje, injustamente, num processo que foi tudo menos fácil, o que correu menos, e apenas isso, é atribuído aos militares, tudo o resto é atribuído ao Dr. Mário Soares. Processo de descolonização ou processo de ingratidão?
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