No
domingo (15.01.) Filipe Nyusi completa o segundo ano como Presidente de
Moçambique. O último ano foi marcado por acontecimentos negativos, o que lhe
valeu muitas críticas. Mas há também quem lhe reconheça qualidades.
Filipe
Nyusi continuou seguindo no seu segundo ano de Governação sem alcançar o bem
maior, a paz. Porém, um passo para que tal seja conseguido foi dado: a presença
de mediadores internacionais nas negociações de paz, conforme exigia o maior
partido da oposição, a RENAMO. As tréguas no conflito militar em dezembro
alimentaram a esperança de um regresso à paz.
Convidado
a avaliar a forma como o Presidente moçambicano geriu a crise política o
analista político e membro do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), a
terceira maior força política, Silvério Ronguane não hesita em tecer
críticas: "[A negociação] é uma estratégia de isolar a todos, isolar os
moçambicanos. Veja que o caso foi resumido a dois homens, de tal maneira que as
próprias comissões mistas acredito que foram apanhadas de surpresa, de que os
dois líderes [Filipe Nyusi e Afonso Dhlakama] já se entenderam e que há uma
trégua. Tudo à margem das instituições e participação mais alargada."
Já
o cientista social Elísio Macamo prefere minimizar parte das culpas atiradas
contra o Presidente moçambicano, e começa por recordar que "ele está a ter
de gerir um problema que não foi ele que criou, apesar de que foi ministro da
Defesa [no mandado anterior]. Esse é um problema que daria dores de cabeça a
qualquer Presidente em Moçambique."
E
Macamo explica: "Temos dificuldades em aceitar, mas um dos maiores
problemas que temos não é o mau funcionamento da democracia, mas sim a RENAMO.
A RENAMO seria um problema para qualquer país do mundo, então nesse aspeto ele
está a fazer o melhor que qualquer pessoa poderia fazer."
Contudo,
o académico moçambicano tem dúvidas sobre as estratégias de Filipe Nyusi e diz:
"Ele não me dá a impressão de ter alguma estratégia, falta alguma coisa
aí."
Crise
financeira: Nyusi com pouco espaço de manobra
Outro
aspeto negativo que marcou o último ano de Nyusi foi a crise financeira e
económica. A tensa relação do país com o Fundo Monetário Internacional (FMI),
que exigiu uma investigação às dívidas ocultas, as dificuldades de honrar
compromissos com credores, o corte nos financiamentos externos e a inflação são
apenas alguns dos factos que mais se destacaram no campo económico.
Fernanda
Massarongo, economista e investigadora do IESE, Instituto de Estudos Sociais e
Económicos, esclarece que essa conjuntura não deu muito espaço de manobra a
Filipe Nyusi. Ela explica que "grande parte dos desafios económicos de
Moçambique e das atitudes do Presidente foram ofuscadas pelas dívidas ilegais,
e por causa disso o país ficou sem ajuda externa, um instrumento importante
para as atividades económicas do Presidente."
E
a investigadora do IESE finaliza: "Por causa da situação político-militar
os investimentos diretos estrangeiros baixaram. Então, todas essas dificuldades
ofuscaram as atividades do Presidente. Moçambique é um país dependente de
capitais externos e quando esses capitais param de fluir na intensidade
que o país necessita há muito pouco que se possa fazer
internamente."
Já
Silvério Ronguane não relativiza as circunstâncias subjacentes a crise
financeira e económica. O analista crítica o Presidente Nyusi na gestão deste
dossier: "Avalio de uma forma muito negativa. É uma crise que herdou do
antigo Governo, mas mostrou-se totalmente incapaz de dar volta ao assunto tanto
a procurar saber como foram contraídas as dívidas e o seu fim até a encontrar
caminhos para responsabilizar os seus responsáveis."
Aumento
da criminialidade: Falta de respostas
A
criminalidade foi outra mancha bem visível durante o último ano de Nyusi. De
janeiro a dezembro de 2016 o país assistiu a assassinatos
frequentes de membros da RENAMO. Os raptos de destacados empresários,
iniciados no consulado de Armando Guebuza, não cessaram, para além do aumento
de denúncias internacionais de casos de corrupção e até assassinatos de
polícias, sem explicação.
Ronguane
mais uma vez aponta o dedo acusador ao Presidente. Ele recorda que "não
existe ninguém que tenha sido preso porque assassinou membros da RENAMO, não
têm sido apresentados os mandantes dos sequestradores nem pessoas em conexão
com a morte de polícias."
E
por isso o analista conclui: "Portanto, é uma situação tão grave e
dramática que pelo menos se há coisas positivas não são visíveis."
Mas
para o sociólogo moçambicano Elísio Macamo há sim pontos positivos a destacar
na atuação do Presidente moçambicano: "Um grande ponto positivo é ter sido
capaz de manter muita calma no meio de uma situação que herdou, o que é
extremamente complicado. O país precisa desse tipo de personalidade a frente
dos destinos, uma pessoa com essa calma e paciência."
Nádia
Issufo – Deutsche Welle
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