Pedro
Silva Pereira* - Jornal de Notícias, opinião
Desesperado
por mostrar serviço na Oposição e proteger o seu lugar de líder partidário das
investidas dos seus mais impacientes correligionários, Passos Coelho, mais uma
vez, não olhou a meios e foi ao ponto de tentar boicotar o acordo de
concertação social para o aumento do salário mínimo, não hesitando em trocar a
coerência das suas posições pelo objetivo mesquinho de tentar criar um embaraço
ao Governo. Pelo caminho, desprezou olimpicamente o interesse nacional e a
história do seu partido, e afrontou os parceiros sociais e o próprio presidente
da República.
A
resposta que Passos Coelho merecia não se fez esperar: em vez de ficar
embaraçado, o Governo de António Costa, com tremenda eficácia e capacidade de
gestão política, foi capaz de encontrar, em apenas 24 horas, uma solução
alternativa para a redução da TSU, assegurando o apoio firme dos parceiros
sociais e da própria maioria de Esquerda. Tudo visto, o resultado não podia ser
mais catastrófico para Passos: não só viu exposta a sua incoerência e o seu taticismo
aos olhos do país inteiro, como tem agora pela frente, e contra si, uma frente
unida, política e social, que vai do Partido Comunista às Misericórdias,
passando pelo PS, o Bloco, o PEV, o PAN, os empresários de todos os setores e
até as IPSS, incluindo as ligadas à Igreja.
Se
a disponibilidade dos parceiros sociais para convergirem de forma tão expedita
no apoio à alternativa proposta pelo Governo não pode deixar de ser considerada
uma "bofetada de luva branca" no líder do PSD, no plano político o
que antes era um fator de divisão na maioria tornou-se uma nova oportunidade
para o Governo reconfirmar a solidez da maioria parlamentar que o apoia.
Pior
ainda, no decurso da controvérsia, Passos Coelho (no Parlamento) e o líder
parlamentar Luís Montenegro (à Comunicação Social, nos Passos Perdidos)
deixaram cair, e acabaram por confessar, a verdadeira razão da oposição do PSD
ao acordo de concertação social: o que o PSD verdadeiramente acha é que o
aumento do salário mínimo para 557 euros "é excessivo". É claro, já
suspeitávamos. Mas é sempre bom ver as coisas esclarecidas.
*
Eurodeputado
1 comentário:
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