Mário
Motta, Lisboa
Hoje,
quarta-feira, 11 de janeiro, é o último dia do luto nacional decretado pelo
governo em memória e homenagem a Mário Soares. Foram quatro dias de Mário
Soares em dose excessiva, provavelmente nem o próprio, de si para si,
concordaria. Quer parecer que não.
Nas
rádios ouvimos (ainda se ouve) Soares, Soares, Soares. Nas televisões idem. Nos
jornais o mesmo fartum. Os profissionais de comunicação social quase
conseguiram fazer de um homem admirado e popular alguém indesejado que por quatro
dias, constantemente, nos entrou (ainda entra) pela casa dentro sem ser
convidado. Na morte de Mário Soares os média não encontraram meio-termo mas sim
excesso a rasar o vómito. Quase ao estilo do anúncio e cobertura da morte do ditador Salazar.
Evidentemente
que durante os quatro dias o tema esgotado levou os jornalistas a quase
entrevistarem os animais de estimação dos plebeus e, principalmente, das figuras
de Estado ou públicas. E houve até quem chamasse a Soares “pai da democracia”
quando é sabido que Soares não se considerava nada disso e já antes havia
declarado que era pai dos seus filhos e que aí parou. “Que vão chamar pai a
outro”, respondeu Soares. Mesmo assim os excessivos não perderam a oportunidade
para epitetar Soares de pai à força de uma democracia enfezada, muitas vezes
vergonhosa por ser aproveitada para ser abandalhada por cromos nefastos como
Cavaco Silva, Passos Coelho e outros do mesmo jaez.
A
grandeza de Soares não precisava de tanto fartum de manifestações espúrias ao
estilo de feira das vaidades. Pelas suas decisões e atitudes políticas
positivas e negativas demonstrou ser dotado de capacidades e personalidade
que não podíamos ignorar e muitas vezes havíamos de concordar, admirar e
apoiar. Mas só isso. Muitos preferem recordar a grandeza de Soares pela resistência
à ditadura salazarista mas passaram a ser seus contestatários após o 25 de
Abril, com razão em muitos aspetos e sem razão noutros. A política é isso
mesmo. E a democracia também… se houver tolerância e diálogo.
Uff!
Até que enfim que o dia está a acabar e os excessos praticados e baseados em
falsos pretextos soaristas da comunicação social também.
Até
sempre, Mário Soares!
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