Martinho Júnior, Luanda
A
inauguração da administração republicana de Donald Trump traz muitas
interrogações e muitas inquietudes para o povo estado-unidense como para os
povos do resto do mundo:
Se
nos Estados Unidos é por demais evidente a vulnerabilidade e a distorção da
democracia dita“representativa” ao ponto do futuro presidente não conceder
conferências ou entrevistas aos “media de referência”, para o resto do
mundo, as práticas permanentes de conspiração têm sido dolorosamente sentidas
na continuidade do trauma maior que foi a IIª Guerra Mundial, que também foi
travada em nome da democracia face ao nazismo, ao fascismo e à barbárie das
potências do eixo.
Afirmando-se
como potência militar global e polícia do mundo, na sequência do assalto à
América que advém da origem dos Estados Unidos e da chegada das culturas
europeias àquele continente, com a expansão e a formação do império, o monstro
capitalista neoliberal que se gerou a partir do início da década de 90 do
século passado, por experiência própria sabe que as ingerências utilizando a
força, mesmo que seja protagonizada por terceiros em seu nome (como por exemplo
o choque neoliberal protagonizado por Savimbi com a “somalização” de
Angola entre 1992 e 2002), pode ser contraproducente, pois acarreta elevados
custos, pode-se tornar contraditória aos interesses dominantes, pode mesmo
conduzir à derrota no campo de batalha, como aconteceu no Vietname, mas também
em Angola quando a 11 de Novembro de 1975 o país e os seus aliados
progressistas e revolucionários, conseguiu chegar à independência.
A “somalização
de Angola” por via dos “diamantes de sangue”, numa sucessão de
guerras que dilaceraram África no final do século passado, foi tão contraproducente
para o cartel dos diamantes, componente histórico da aristocracia financeira
mundial desde o início da revolução industrial, que agora há que “baralhar
os dados e dar de novo” de tal forma que, até a própria família
Oppenheimer tem de alterar drasticamente o sentido de sua acção e de sua vida.
Como
a actual Constituição angolana resultou da vitória de Angola face ao choque
neoliberal de então, com a integração dos próprios salvados provenientes dos
múltiplos campos de batalha, agora é necessário para o império utilizar o “soft
power” (pelo menos numa fase inicial duma nova subversão), a fim de fazer
prevalecer sua vontade mascarada de democracia e abrir caminho aos poderes
daqueles que darão muito mais força aos abutres que vêm a África, enquanto
corpo inerte, depenicar o seu pedaço!
Então
a ingerência e a manipulação no que a Angola diz respeito, mas em conformidade
com as ementas experimentadas em dezenas de países nas mais diversas paragens
(dos Balcãs e da Ucrânia, ao Cáucaso, à Rússia de Boris Yeltsin, à América
Latina e a África, passando pela nevrálgica região do Médio Oriente), tornou-se
na evidência em relação à qual haveria de tomar partido em termos de “soft
power” e a doutrina de Gene Sharp suprime algumas dificuldades perante
isso em estrito benefício dos interesses dominantes dos 1% sobre o resto da
humanidade…
Disse
algumas dificuldades, pois ela pode em alguns casos ter êxito nas praças
públicas, na tomada de edifícios, no terremoto humano que altera uma
Constituição, mas no “the day after”, a primeira coisa a morrer pode ser o
próprio plano e perspectiva dessa doutrina e é assim que se tem instalado o
terrorismo e o caos, abrindo-se a questão doutrinária à oportunidade dos
fundamentalistas do império e dos seus mais repugnantes vassalos, por via da
doutrina dum outro “filósofo” ao serviço da aristocracia financeira
mundial, Leo Strauss com a sua “The chaos doctrine”!
A
percepção de Naomi Klein, a escritora e jornalista canadiana que tem estudado
os impactos capitalistas neoliberais depois do final da chamada Guerra Fria,
permite avaliar a íntima relação entre o choque e a terapia neoliberal, de tal
forma que o “soft power” é capaz de, a partir dos campos de batalha,
instalar os interesses dominantes, sem qualquer resistência mais ao jugo que a
aristocracia financeira mundial vai impor, particularmente no que diz respeito
aos interesses corporativos privados, num processo que todavia começa a
revelar-se como um abissal corrosivo para as vertigens de poder hegemónico
unipolar.
Donald
Trump que tudo indica está disposto a combater o Estado islâmico, vai ter de
avaliar quanto a doutrina de Gene Sharp abre, afinal de contas, caminho à
doutrina de Leo Strauss e com isso introduz caos e terrorismo num processo em
escalada de intensidade que se expande neste momento a quatro continentes e aos
próprios Estados Unidos.
A
paz no seguimento do choque neoliberal, tem de estar animada duma outra
coerência, senão ela esvai-se perante os primeiros infortúnios, como acontece
em Angola.
Mesmo
que houvessem alguns a caírem na ilusão dos “jogos africanos” como (a
título de mero exemplo) os propiciados por um homem de mão do Le Cercle como Jaime
Nogueira Pinto, identificado com o CDS português e com algumas dos “generantes” (híbridos
de generais comerciantes) angolanos, esses oficiais foram solidários nos campos
de batalha a muitos outros que perseveraram no seu patriotismo resistente e
estão por patriotismo prontos a conceder-lhes a oportunidade para encontrar a
luz no fundo do túnel para onde foram atraídos pelo “soft power”,
lembrando que além do mais são eles que se encontram, entre outros, acusados
pelos instrumentos fantoches ao nível dum Rafael Marques de Morais!
A
contradição dialética da resistência angolana, por muito empobrecida que ela
esteja, por muito traumatizada pelo processo histórico que ela esteja, estende
a mão àqueles camaradas seus dos campos de batalha, que não perceberam a tempo
a armadilha que se estendia com a oportunidade da terapia neoliberal e com a
contradição manipulada e de ingerência segundo as doutrinas de Gene Sharp e Leo
Strauss, elas próprias também conducentes às vertigens de poder…
Donald
Trump sabe que os expedientes de Gene Sharp e Leo Strauss são já impraticáveis
pela sua natureza, até por que além do mais os recursos do planeta Terra são já
diminutos face à voracidade do “sistema” que os seus antecessores
representaram, entre eles Barack Hussein Obama e os Clinton… e com custos cada
vez mais elevados na tentativa de levar por diante seu maquiavelismo sem
limites, tão arriscado que não acautela sequer os “efeitos boomerang” capazes
de romper os intestinos sócio-políticos do poder nos Estados Unidos!
Sabe
por outro lado, com todas as evidências, que o “soft power” da
República Popular da China nos seus relacionamentos com os países mais pobres,
os da cauda dos Índices de Desenvolvimento Humano, está já em vantagem em
relação à bateria de instrumentos do império e dos seus mais directos vassalos
e vai ser necessário repensar tudo, refazer tudo, buscando outro caudal de
respostas, que afinal até parece irem no sentido duma harmonia universal, algo
que Angola tem protagonizado sobretudo desde 2002, a nível interno e nos seus
relacionamentos internacionais.
Trump,
tendo em atenção o seu próprio programa, procurará não cair no abismo típico
das vertigens de poder, onde se sentaram os seus antecessores, procurando
cultivar um outro carácter de domínio, tendo em conta o balanço entre os ganhos
e as perdas de hoje!
No
ano de 2017 Donald Trump assume a presidência dos Estados Unidos e em Angola há
eleições que correspondem a uma Constituição dum estado que foi reconhecido
internacionalmente, reconhecido até pelos Estados Unidos após tantas
experiências reciprocamente traumatizantes e especialmente traumatizantes para
o povo angolano.
Esperemos
que Donald Trump não insista na aposta em cavalos mortos que advêm das “revoluções
coloridas” e das “primaveras árabes”, no que em relação ao mundo e a
Angola diz respeito, nem sequer nas franjas de oposição indecisas em relação à
Constituição angolana e sempre à espera duma oportunidade para um outro
alinhamento lesa-pátria!
Ele
tem tanto que fazer, que seria muito estúpido de sua parte insuflar a quente o
maquiavélico balão das ninharias que afinal já rebentou entre bolhas de toda a
ordem e fez cair os navegantes anteriores, na queda da mais miserável das
barquinhas do poder.
Fotos:
Donald Trump e dois dos “filósofos” das grandes vertigens.
A
consultar:
Como
iniciar uma revolução, Gene Sharp – https://www.youtube.com/watch?v=jpPz3liDGZk
A
revolução sem violência – https://www.youtube.com/watch?v=HRHiHkCviSI&spfreload=10
Gene
Sharp Brazil, como iniciar uma revolução – https://www.youtube.com/watch?v=jqtTc_CMlJg
Leo
Straus, por Élcio Verçosa Filho – https://www.youtube.com/watch?v=Uj6-Yrfi6WQ
As
três ondas da Modernidade – https://www.youtube.com/watch?v=kHkCNoGNXz0
Seize the chaos – http://original.antiwar.com/dan_sanchez/2015/10/05/seize-the-chaos/
Donald Trump policies – https://www.donaldjtrump.com/policies/
Donald Trump policies – https://www.donaldjtrump.com/policies/
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