Muito
se tem falado e criticado a decisão do Presidente norte-americano, Donald
Trump, em insistir construir um muro na fronteira entre os EUA e o México – e
bem, na minha opinião enquanto humanista e respeitador das liberdades
individuais desde que sempre respeitadoras do outro –; é um direito, como
governante, que lhe assiste e que, Trump, sempre disse em campanha eleitoral
que o faria!
Todavia,
parece que nos esquecemos que já existe uma parcela significativa de um muro
entre estes dois países, iniciada na administração George Bush, nos anos 80, e impulsionada e
implementada, em 1994,na administração Bill Clinton, com o programa
anti-imigração-ilegal ‘Operation
Gatekeeper‘ (Operação Guardião) e continuado pelas administrações
subsequentes, havendo já secções de muros nas fronteiras entre Tijuana (Baja
Califórnia) e San Diego (Califórnia) e nos estados de Arizona, Novo México e
Texas, numa extensão de cerca de 33% da fronteira entre os dois países.
O
mundo e os seus outros muros
Mas
esquecemos de outros muros – físicos ou políticos – que também existem entre
outros países, como por exemplo, um recentemente falado, entre o próprio
critico México e Guatemala (ainda que haja muitas vozes mexicanas – até porque
a foto usada para o provar é a da que separa Tijuana de San Diego – afirmarem
que é um bulo” (mentira) enquanto imprensa guatemalteca sente alguma
preocupação nessa construção; na dúvida fica o registo).
Aqui
ficam alguns
registos de outros muros e cercas que separam países e, mesmo, localidades:
de
Israel com a Cisjordânia (Palestina) e entre Israel e Faixa de Gaza
(Palestina);
entre
Ceuta e Melilla (Espanha) e Marrocos;
entre
as duas Coreias, no paralelo 38, que separa familiares;
o
“muro de Evros” que separa a Grécia e a Turquia;
dentro
de Creta, mais concretamente o muro que divide a capital Nicósia, desde 1974,
separando a parte grega e “oficial” da parte turca;
em
perspectiva a construção de uma muralha entre a Ucrânia e a Rússia;
entre
a Hungria e a Sérvia e entre esta e a Croácia, ambas pelas mesmas razões –
fluxo exponencial de imigração proveniente dos países sul mediterrânicos e do
Médio Oriente;
entre
a Índia e o Paquistão e entre a Índia e o Bangladesh;
a
cerca divisória entre a República da Geórgia e a separatista Ossétia do Sul,
criada pelos russos;
na
Irlanda do Norte (Reino Unido) um muro que divide as comunidades Católicas e
Protestantes, onde ainda hoje existem cerca de 99 barreiras em Belfast, e
outros muros na cidade de Derry;
no
Saara Ocidental, desde 1987, que separa as forças marroquinas dos separatistas
da auto-denominada República Árabe Saauri Democrática;
Mas
as mais importantes são as criadas
pela e dentro da União Europeia. Não esqueçamos as que, recentemente foram
criadas por vários estados-membros, entre si, dentro de países da União
Europeia (e em arame farpado) para conter o já citado fluxo migratório
proveniente dos países sul mediterrânicos e do Médio Oriente; ou o mais antigo
“muro”, este mais político que físico, criado sob a União Europeia, no início
desta década, na orla marítima meridional, contra o fluxo de emigrantes e
reconhecido pela muralha da “Fortaleza Europeia”, como já previamente a
identificado Uçarer, em 2007.
E
não esqueçamos que já na antiguidade, a História apresenta-nos vário muros ou
muralhas criadas para suster investidas de povos invasores: a Muralha da China,
a Muralhas de Adriano e de Antonino e a Muralha Romana de Lugo (construídas
durante o Império Romano), a Muralha de Constantinopla (Império Bizantino), a
Muralha de Óbidos (construída pelos mouros no século VIII), a Muralha
ou Cerca Fernandina de Lisboa (criada por D. Fernando).
Ora,
talvez seja, então, altura de parar um pouco para pensar e olharmos para nós
mesmos e como podemos criticar terceiros sem criticar o que se passa, em muitos
casos, intra-muros!
*Investigador
e Pós-Doutorando.
**Eugénio
Costa Almeida – Pululu -
Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em
Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo
Relações Internacionais - nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de
opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa.
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