O secretário-geral
do PCP, Jerónimo de Sousa, disse hoje que o governador do Banco de Portugal
(BdP) "não tem condições" para exercer as funções e que esta
instituição não pode ser "uma sucursal do Banco Central Europeu".
"Há aí um
facto que alguns descobriram agora e que o PCP afirmou desde há muito. O atual
governador do BdP [Carlos Costa] não tem condições para exercer as
funções", considerou o líder comunista, em Moura (Beja), no almoço
comemorativo no Alentejo do 96.º aniversário do partido.
Perante mais de mil
militantes e simpatizantes do PCP, segundo a organização, Jerónimo de Sousa
argumentou que o partido "tinha razão quando se opôs à recondução" de
Carlos Costa como governador do BdP "pelo anterior governo PSD/CDS".
E o PCP, continuou,
"tem razão quando afirma que é preciso recuperar a soberania e a
capacidade de decisão nacional porque, até para resolver este problema, o país
está condicionado ao Banco Central Europeu (BCE)".
"A permanência
de um governador em funções com o rasto de decisões lesivas do interesse
nacional é da inteira responsabilidade do então governo de Passos e
Portas", criticou.
Mas, para o
secretário-geral comunista, "mais importante" do que substituir o governador
do BdP, "é concluir da urgência de Portugal recuperar a sua soberania
monetária, o controlo sobre o seu banco central e o controlo público da
banca".
"Alguns pensam
que substituir a peça resolve. Adianta alguma coisa, mas, enquanto se
substituir a peça e se mantiver o molde que nos mata e que nos amarra", ou
seja, "as instituições da União Europeia, bem podemos substituir
governadores do BdP", mas "nunca mais resolvemos o problema".
O BdP, defendeu
Jerónimo de Sousa, "tem que ser o banco de Portugal e não uma sucursal do
BCE, da União Europeia".
No discurso no
final do almoço comemorativo, o líder comunista alertou para a
"vulnerabilidade" do país "face a fatores da conjuntura
externa", por estar "destituído de soberania monetária, totalmente
dependente das opções do BCE ou da chantagem das agências de notação
financeira".
Jerónimo de Sousa
avisou também que "secundarizar os problemas centrais do país", como
"a dívida insustentável que impede o investimento, consome recursos e
riquezas e o insuficiente crescimento económico", é "incompatível com
uma política de obsessão" pelo défice.
As transferências
de dinheiro para paraísos fiscais ('offshores') recentemente vindas a público
foi outro dos temas abordados pelo secretário-geral.
"Veja-se esse
escândalo da passagem de 10 mil milhões de euros para paraísos fiscais, entre
2011 e 2014, sem controlo da parte daqueles que impuseram o maior saque de
impostos de sempre em democracia aos trabalhadores e ao povo, enquanto
elaboravam listas VIP e faziam vista grossa aos movimentos financeiros do
grande capital", criticou.
O líder do PCP
defendeu que se devem apurar "a verdade" e "as
responsabilidades", mas manifestou o seu receio: "Receamos que fique
tudo em 'águas de bacalhau', enquanto existirem esquemas e mecanismos e os
próprios paraísos fiscais. Aqui é que está o problema central", não em
relação à "questão da publicitação ou da transparência".
Lusa, em Notícias
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