M. Azancot de Menezes, Díli - opinião
Candidato
da coligação CNRT/FRETILIN, Francisco Guterres Lu´Olo, venceu as eleições
presidenciais
Os
resultados das eleições presidenciais, quando faltam menos de 10% dos votos
para apurar, já são conhecidos, e apontam o candidato da coligação
CNRT/FRETILIN como vencedor, com 262 mil votos (57,42%) do total.
Em
segundo lugar ficou o candidato António da Conceição, Secretário-Geral do
Partido Democrático (PD), e ministro da educação, com cerca de 33% dos votos,
seguindo-se depois os restantes seis candidatos com valores percentuais muito
inferiores.
Os
resultados eleitorais permitem retirar algumas ilações, no campo político,
económico e social.
A
primeira conclusão, bastante óbvia, o candidato do poder, Francisco Guterres
(Lu´Olo) teve significativa vantagem em relação aos restantes candidatos em
virtude de ter recebido o apoio do Congresso Nacional para a Reconstrução
Timorense (CNRT) e da Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente
(FRETILIN), os partidos políticos que detêm há 15 anos o poder político,
administrativo e económico do país.
Efectivamente, o presidente da Região de Oécussi, Mari Alkatiri, é o Secretário-Geral da FRETILIN, o presidente do CNRT, o histórico Kay Rala Xanana Gusmão, é Ministro Coordenador do Planeamento Estratégico, e o Primeiro-Ministro, Rui de Araújo, também dirigente da FRETILIN, para citar apenas estes casos, contribuíram para que o candidato vencedor tivesse mais e melhor acesso aos meios massivos da comunicação social, nomeadamente à Rádio e Televisão de Timor-Leste (RT-TL), e a outros apoios de ordem administrativa e financeira, em clara vantagem comparativamente com os restantes candidatos.
Outra
superioridade decorre do facto dos dois únicos órgãos eleitorais também serem
controlados pelo governo, quer a Comissão Nacional de Eleições (CNE), apesar de
teoricamente ser um órgão independente, o seu presidente, Alcino de Baris, é
comissário membro da FRETILIN, e o Secretário-Executivo, Bernardo Cardoso, é
comissário membro do CNRT, quer o Secretariado Técnico de Administração Estatal
(STAE), totalmente dependente do Ministério da Administração Estatal, igualmente
tutelada por um ministro do CNRT.
Também,
com a concretização das políticas de desconcentração ocorridas no final de
2016, já a pensar nas eleições, alguns poderes estratégicos e tácticos foram
deslocados para os doze Municípios com o surgimento de autoridades municipais
da confiança política governamental, fortalecendo a máquina administrativa
junto das comunidades locais, naturalmente, em defesa das políticas traçadas
pelo governo, todo um contexto que facilitou extraordinariamente a campanha
eleitoral do candidato vencedor.
Obviamente,
todos estes aspectos aqui referidos que destacam a evidência segundo a qual o
candidato vencedor beneficiou de toda a máquina controlada pelo CNRT e pela
FRETILIN, ao nível do Parlamento, do Governo, dos Municípios e dos Sucos
(conjunto de Aldeias), não afastam mérito ao candidato, nem o diminuem, aliás,
aproveito para felicitar o novo presidente da República, e desejar-lhe os
melhores sucessos, mas, convenhamos, estava em significativa vantagem.
Um
outro aspecto que se pode adivinhar desta vitória algo reduzida, apenas 57% do
total dos votos, é que em termos de intervenção presidencial geradora de
mudanças pouco deverá haver do futuro presidente da República no sentido de
contrariar políticas erradas do domínio económico e social traçadas pelos
partidos que o colocaram no poder, políticas em vigor que muito têm prejudicado
as classes sociais mais desfavorecidas, nomeadamente os agricultores, ou seja,
não é verosímil assistirmos a vetos presidenciais a contrariar decisões do
governo CNRT/FRETILIN, nem de deliberações parlamentares adoptadas pelos
actuais partidos políticos que detêm a maioria.
Finalmente,
a pensarmos nas eleições legislativas agendadas para Julho deste ano, face a
este escasso resultado obtido pela coligação CNRT/FRETILIN, iremos assistir nos
próximos cinco meses a movimentações conducentes a várias outras alianças
partidárias e a iniciativas dos restantes candidatos presidenciais,
“derrotados”, no sentido de negociarem os seus votos conquistados nestas
eleições que poderão fazer a diferença e determinar os partidos políticos
vencedores das próximas eleições legislativas.
*
Professor Universitário e Secretário-Geral do Partido Socialista de Timor (PST)
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