A
equidade na cobrança de impostos é um indicador claro da Justiça social
prevalecente em cada sociedade. Para que a equidade fiscal seja uma realidade é
importante que cada um pague os impostos de acordo com a sua capacidade
contributiva. Se pagam mais os que têm menos facilmente concluiremos que o
sistema social é injusto.
O
IVA é dos impostos mais injustos que existem. Este imposto pago pelo consumidor
final incide sobre o preço de venda dos produtos independentemente do
rendimento de quem os compra.
Imaginemos
um bem como uma televisão que custe €1.000 e que pague a taxa normal de IVA que
é de 23%.
Assim
o consumidor desembolsará €1.230 pela televisão. Mil euros do produto e €230 de
IVA.
Todos
pagam o mesmo de IVA. Aparentemente a igualdade absoluta. Mas essa ilusória
igualdade cedo desaparece quando levamos em conta os rendimentos das pessoas
que pagam esse imposto.
Igualdade
ilusória
Tomemos
agora dois consumidores um que ganhe por ano €8.400 (€600 por mês, 14 vezes por
ano) e outro €100.000 (€7.143 por mês, 14 vezes por ano) O primeiro pagou de
imposto 38% do seu rendimento mensal, enquanto o segundo apenas 3,2%!
O
mais rico pagou de IVA uma fração ínfima do seu rendimento e o primeiro, o mais
pobre, uma percentagem muito significativa do seu ordenado de €600 por mês. O
mais pobre, em termos proporcionais 10 vezes mais, do que o mais rico!
Por
isso o IVA é um imposto regressivo, isto é quanto mais pobre
o contribuinte mais paga e, inversamente, quanto mais rico menor é o seu
sacrifício fiscal. Um imposto socialmente injusto.
Sob
a capa que todos pagam o mesmo esconde-se a realidade que uns são obrigados a
um esforço muito grande e outros a um esforço mínimo.
Ao
olharmos para o peso do IVA na estrutura das receitas fiscais dos vários países
da União Europeia sobressai a importância exagerada que este imposto injusto
tem em Portugal.
Outros
países europeus
Vejamos:
em França o IVA representa 15% das receitas fiscais, em Espanha 18%. Em
Portugal representa 25%! Um quarto de todas as receitas fiscais do Estado
português.
O
imposto mais injusto, introduzido em Portugal por Cavaco Silva ao tempo que era
primeiro-ministro, é o que mais receita produz para o Estado português.
Passos
Coelho, num momento em que os portugueses eram chamados a grandes sacrifícios,
reduziu de 34% para 21% o imposto sobre o lucro das empresas tornando a receita
proveniente desse imposto quase irrelevante no conjunto das receitas fiscais e
aumentou o IVA. Eis a injustiça fiscal no seu máximo esplendor.
Pais
|
Peso do
IVA nas receitas fiscais
|
Portugal
|
25%
|
Reino
Unido
|
21%
|
Alemanha
|
19%
|
Espanha
|
18%
|
França
|
15%
|
Fonte:
OCDE Revenue Statistics 2016
Sistema
fiscal insustentável
Cobrar
a quem tem menos é um sistema insustentável perante as necessidades e
obrigações constantes do Estado com as suas funções de soberania e sociais. Sem
sustentabilidade fiscal Portugal pode transformar-se num Estado frágil ou num
Estado extremamente dependente como tantos outros que vemos no mundo.
Um
sistema fiscal insustentável gera instabilidade social. Em Portugal a
instabilidade não se manifesta, historicamente, no imediato como em países mais
democráticos.
A
instabilidade em Portugal, acumula-se na sociedade e depois explode em
revoluções ou convulsões violentas, mais ou menos, inesperadas. O padrão típico
dos países em que a voz das maiorias sociais não é ouvida e os seus interesses não são levados em conta por quem detém o
poder.
Esta
é uma reforma estrutural que urge empreender em Portugal: a do sistema fiscal.
Revendo profundamente a estrutura de receitas, introduzindo mais equidade nas
taxas e, acima de tudo, tornando mais progressivos os impostos para que quem
mais pode mais contribua e quem menos pode seja aliviado do peso excessivo que
hoje paga.
O
actual governo, por iniciativa própria ou por chamada de atenção dos seus
parceiros à esquerda, devia corajosamente empreender uma extensa reforma fiscal
que desse estabilidade ao país e sustentabilidade às receitas fiscais.
Jorge Fonseca de
Almeida – Jornal Tornado, em Análise
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