Nicolau
Santos – Expresso, opinião
A
Procuradora Geral da República, Joana Marques Vidal, anunciou hoje o adiamento
da conclusão da investigação criminal da Operação Marquês. É a sexta vez que
tal acontece. O problema é que, na prática, Joana Marques Vidal deixa aberta a
porta para que a investigação continue para lá de Junho e o fim da Operação
Marquês passa a ser como o Natal: é quando um homem quiser. Neste caso, o homem
é o procurador Rogério Teixeira, que pode sempre invocar a necessidade de mais
investigações ou de enviar novas cartas rogatórias e aguardar pela respetiva
resposta ou de fazer novas investigações – como a que foi realizada esta semana
aos escritórios do GES onde, quatro anos depois dos factos, deve haver ainda
imensas provas para recolher…
E
é aqui que se torna irritante a maneira como o Ministério Público trata a nossa
inteligência. Quatro anos depois de iniciado processo, constituir arguidos na
última semana do prazo para concluir investigações, ou enviar novas cartas
rogatórias ou fazer buscas só pode servir para justificar o pedido de mais um
adiamento da conclusão das investigações e não para alcançar nenhum outro
objetivo.
Convém
lembrar que José Sócrates foi detido porque supostamente havia factos
suficientemente graves para o Ministério Público o determinar. Pois entretanto
o ex-primeiro-ministro foi libertado em 16 de Outubro de 2015, desde aí já
passaram 16 meses e as tais provas sólidas e robustas para acusar e condenar
Sócrates mantém-se em segredo, continuando a investigação a colecionar
documentos e arguidos e a juntar casos ao caso inicial (do Grupo Lena foi-se
para Vale do Lobo, de Vale do Lobo para o BES, do BES para a PT e agora é tudo
junto).
A
Procuradora Geral da República quis fazer um paralelo com o caso Madoff nos
Estados Unidos, dizendo que o ex-milionário foi investigado durante seis anos,
sem que ninguém tomasse conhecimento do caso; nem os próprios, nem a imprensa tablóide.
Quando foi preso, as provas eram tão avassaladoras que foi julgado e condenado
em seis meses. Compare-se com o que se tem passado na Operação Marquês e
constate-se quão infeliz foi a comparação.
Dito
isto (e recomendando fortemente a leitura do texto de opinião de Miguel Sousa
Tavares amanhã no Expresso), sublinho o que ele também escreve: eu não sei se
José Sócrates é culpado ou não dos supostos factos de que é acusado. Sei que
ele tem seguramente muitas explicações a dar sobre a relação financeira que
mantinha com o seu amigo Santos Silva. Sei que, apesar de todas as informações
que vieram de várias partes do mundo, não há uma conta em nome de José Sócrates
onde tivessem estado os tais 23 milhões que o MP diz que ele recebeu para ser
corrompido. Mas sei ainda mais: é que ele está há muito condenado pela
generalidade da opinião pública. E esse peso no julgamento será tão desmesurado
que tudo o que não seja a condenação de Sócrates em tribunal será um enorme
escândalo e uma desmesurada vergonha para o Ministério Público.
Por
outras palavras, se Sócrates for declarado não culpado, ninguém acreditará e a
voz do povo dirá o que repete sempre em casos como estes: os poderosos safam-se
sempre. Se for condenado, mesmo que só com provas indiretas ou indiciárias (o
que se começa a perfilar como uma enorme possibilidade), ninguém se importará
grandemente. Em resumo, qualquer que seja o resultado, a Operação Marquês vai
sempre acabar mal
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