Rafael
Barbosa | Jornal de Notícias, opinião
É
já no domingo que os franceses são chamados a escolher o seu próximo
presidente. É o momento político mais importante dos últimos anos, a nível
europeu. E também para os portugueses. No final da contagem dos boletins de
voto, não estará "apenas" em causa perceber se a extrema-direita
xenófoba, nacionalista e antieuropeia fica mais perto de conquistar o poder.
Está também em jogo o que os franceses querem da União Europeia, com ou sem Le
Pen, sabendo-se que o ideal europeu pode sobreviver ao Brexit, mas não
sobreviverá sem a adesão empenhada da França. Como disse por estes dias Pascal
Perrinau, diretor do Instituto de Pesquisas Políticas da célebre universidade
Sciences Po, em jeito de aviso, "nunca se esqueçam que os franceses são um
povo que corta cabeças. Nós fizemos isso. Literalmente". Ou seja, cortar
rente, seja partidos, seja políticos, seja políticas, não constituirá um
problema para os eleitores franceses. E isso é ainda mais claro por estes dias,
com o cenário inédito de quatro candidatos nada ortodoxos com possibilidade de
passar a uma segunda volta.
Umas
eleições em que parece desenhar-se um primeiro facto político notável: pela
primeira vez, podem ficar de fora, logo à primeira volta, os dois grandes
partidos do Centro que governam a França desde a II Guerra Mundial. François
Fillon, do centro-direita, atolou-se no escândalo dos empregos públicos
fictícios que criou para a mulher e os filhos. Mas tem ainda hipóteses de
sobrevivência, ao contrário do representante do centro-esquerda, o socialista Benoit
Hamon, vencedor das primárias, mas entretanto renegado, com a deserção dos
notáveis para o Centro e dos eleitores para a Esquerda.
Outro
facto político notável é que o principal favorito, Emanuel Macron, não tem
qualquer partido a suportá-lo. Aliás, procura, a todo o vapor,
institucionalizar o seu movimento En Marche (note-se o narcisismo de as
iniciais serem as mesmas do nome do candidato) para as legislativas de junho
(uma espécie de terceira volta). Acresce que Macron é, sem dúvida, o mais europeísta
dos candidatos. Defende, sem sofismas, o aprofundamento da União Europeia, seja
ao nível económico (propõe um Parlamento, orçamento e ministro da Economia e
Finanças para os países da Zona Euro), seja na partilha da soberania em matéria
de segurança e defesa.
O
oposto de dois dos seus principais adversários: Marine Le Pen (extrema-direita,
que defende o fim do euro e da Europa) e Jean-Luc Mélenchon, do movimento
esquerdista França Insubmissa (que quer uma revisão dos tratados e se assume
eurocético). A julgar pelas sondagens, há vários candidatos ao trono, como há
vários à guilhotina. E entre eles o ideal e o futuro da União Europeia. E, por
arrasto, o de Portugal.
* Editor-executivo
* Editor-executivo
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