Pedro
Silva Pereira* | Jornal de Notícias | opinião
Quem
vai às urnas no domingo para escolher o seu presidente são os franceses, mas o
que se vai decidir é o futuro da Europa. A verdade é esta: depois de duramente
golpeada pelo Brexit, a União Europeia, tal como a conhecemos, dificilmente
resistiria à saída de um segundo peso pesado. Dito isto, que é claro como água,
não será preciso dizer mais para explicar que é também o nosso futuro que se
joga nestas eleições francesas.
A
candidatura de Le Pen, que tanto anima a extrema-direita e parece levar de
arrasto uma legião de eleitores incautos, não é apenas perigosa pelo que
significa de populismo nacionalista, xenófobo, securitário e protecionista - é
também uma autêntica ameaça de morte para o projeto europeu. Derrotá-la é, por
isso, a prioridade número um de todos os democratas e humanistas, mas também, e
de forma muito especial, de todos os que acreditam na construção europeia como
projeto notável de paz e prosperidade, capaz de contribuir, de forma decisiva,
para as causas dos direitos humanos, do desenvolvimento sustentável e de uma
globalização mais justa e mais regulada.
Enquanto
a candidatura de Le Pen se apresenta assumidamente antieuropeia, no outro
extremo do espectro político a retórica esquerdista, e crescentemente
populista, do candidato da "França insubmissa", Jean-Luc Mélenchon,
não deixa de envolver também um certo tom de ameaça para o futuro do projeto
europeu: se o seu Plano A preconiza uma profunda revisão dos tratados e acordos
europeus, de mais do que duvidosa viabilidade política, a sua verdadeira
proposta, o Plano B, incita a França a promover, em alternativa, nada mais nada
menos do que uma saída unilateral - e certamente tumultuosa - da moeda única.
Entre
os dois extremos, perfilam-se três versões europeístas: o europeísmo crítico do
socialista Benoit Hamon, o europeísmo relutante do candidato do centro-direita
François Fillon e o europeísmo reformista de Emmanuel Macron. Felizmente, e
pesar das aparências que a doentia sedução mediática pelos protagonistas do
populismo vai construindo, tudo indica que estas diferentes correntes
europeístas congregam ainda a maioria da sociedade francesa. Têm, por isso,
encontro marcado para, na segunda volta das presidenciais, unirem forças de
modo a garantir o mais importante: o futuro do projeto europeu.
*
Eurodeputado
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