Martinho Júnior, Luanda
A
Síria, um país com 185.180 km2 situado no Médio Oriente (Ásia do Sudoeste), é
actualmente (desde a eclosão induzida da “Primavera Árabe” em 2011),
uma manta de retalhos, um labirinto onde se multiplicam os agentes de caos e de
terrorismo, que se cruzam com os mais diversos e sensíveis grupos étnicos e
religiosos que povoam toda a região, alguns dos quais desde há milénios.
Os
manifestantes, conduzidos por agitadores profissionais apoiados pelos
ocidentais e seus aliados das monarquias arábicas wahabitas, “produziram” múltiplas “praças
Maidan” em todas as cidades sírias praticamente em simultâneo em 2011 e
2012, institucionalizando a subversão a partir de então numa escalada que
obrigou a passar do estágio civil para o estágio militar, pois uma parte do
recrutamento, incluindo o recrutamento do Estado Islâmico e da Frente al-Nusra,
ficaram assim garantidos a partir de rectaguardas múltiplas: Turquia, Israel,
Jordânia e Iraque.
Por
outro lado a injecção de mercenários nos vários instrumentos da subversão,
podia-se então começar a fazer em função das necessidades e da evolução da
situação militar, na medida em que também eram fornecidos os armamentos
aferidos ao desenrolar das batalhas.
Apesar
disso o governo do Partido Árabe Socialista Baath que tem à frente Bashar
al-Assad, apoiado pela força-tarefa russa de geometria e sensibilidade
variável, assim como pelo Irão e grupos afins que se encontram espalhados desde
o Líbano até fronteira iraniana-síria, dominam no essencial do território, nas
regiões mais densamente povoadas do país e nas cidades mais cosmopolitas e
importantes, como Damasco, Alepo, Homs, Latakia, ou Tartus.
Essa
população torna muito mais densamente povoada a parte ocidental síria que
engloba a costa do Mediterrâneo Oriental, a cadeia montanhosa que se estende de
norte a sul (Jebel
an-Nusariyah) e os declives suaves a leste, cortados por alguns rios como o
Orontes (que nasce a sul, no Vale de Beqaa, cruza o território com direcção
sul-norte em paralelo à costa e entra na Turquia onde desagua em Samandag;
possui 571 km de extensão) e o Eufrates, (o maior rio da Mesopotâmia com 650 km
de extensão, nasce na Turquia e cruza com sentido noroeste-sudeste a Síria; no
Iraque junta-se ao Tigre formando o Xátalárabe).
As
forças armadas sírias, emanação do Partido Baath, vão ganhando terreno
expulsando para os desertos a leste as mais diversas organizações rebeldes,
todavia há ainda muitos escolhos no seu caminho, por que os terroristas possuem
ainda fontes próprias de financiamento, dentro e fora do território sírio,
recebendo treino e armamento praticamente das mesmas fontes e o seu “modus
operandi” esteve sobretudo dimensionado para a guerrilha urbana, na
disputa do miolo estratégico do país, mas está a ser redimensionado para uma
escalada que pode levar a um conflito de posições, com uma superior capacidade
militar.
As
últimas iniciativas das Forças Armadas Sírias, alargaram os cordões de
segurança em Damasco, Latakia, Alepo e Homs, reforçando as linhas de
comunicação com Daraa, a sul, Palmira a leste e Deir es-Zog, a bordeste,
localidade que poderá vir a ser conquistada em breve, sem contudo penetrar no
Curdistão sírio, que faz fronteira com a Turquia, a norte.
Apostadas
AS Forças Armadas Sírias numa ofensiva a norte, dão azo a que os Estados
Unidos, a partir da Jordânia (fronteira sul da Síria) e com o “guarda-chuva” de
Israel nos montes Golã, estejam a preparar em escalada as próximas acções do
Exército Livre da Síria, que responde à Coalizão Nacional Síria, apoiada pela
NATO e pelos seus aliados das monarquias arábicas.
A
Coalizão Nacional Síria e o Exército Livre da Síria, são um vaso comunicante
com organizações terroristas que incluem algumas fragmentadas franjas da
Al-Qaeda e até do Estado Islâmico.
A
Coalização Nacional Síria precisa de território mais amplo para melhor poder
negociar e por isso o Pentágono escolheu a altura para o reforçar a partir da
Jordânia e Iraque (na sequência da reconquista de Mossul), passando da fasquia
do caos e do terrorismo, para uma confrontação “mais aberta” que
inclui posições fixas e poderosos movimentos de tropas, que podem vir a incluir
forças estado-unidenses e da NATO.
A
situação está a evoluir para tornar a Síria num alvo de primeira grandeza para
poderem utilizar as bombas nucleares de recente geração, as B61-12, cujos
testes entraram em período final e em breve estarão prontas para a “nova
campanha Trump”!
A
Itália está a ser a rectaguarda remota da operação na Síria, com a
materialização do papel do“Maritim Security Program“, lançado em 2001 por
George W. Bush.
Retalhar
(ou “balcanizar”, como queiram) a Síria, poderá abrir um corredor a leste
no território onde poderão fluir poderosas confrontações alinhando com o actual
governo da Síria, a Rússia e o Irão e com os fantoches sírios da Coalizão
Nacional Síria, os Estados Unidos, a NATO, a Jordânia, Israel e as monarquias
arábicas com a Arábia Saudita e o Qatar à cabeça!
Nessa
altura poderá haver uma junção das guerras na Siria, com as que
estão em curso no Iémen, algo que poderá contaminar África, do Sudão à Somália!
A
trajectória do recente ataque dos 59 mísseis estado-unidenses à base da aviação
das Forças Armadas Sírias a sudeste de Homs, é um indicador das potencialidades
do golpe terrestre ao serviço da Coalizão Nacional Síria a partir da Jordânia e
do Iraque, num esforço militar que poderá procurar criar uma “capital
provisória” em Daraa!
Mapas:
Uma Síria a retalhos e a trajectória do recente ataque naval dos Estados Unidos
à Síria, prelúdio da escalada que se está já a preparar.
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