A
Human Rights Watch considera (já se perdem a conta às vezes que o fez) como
“deveras preocupante” a forma como está a ser vedado à oposição em Angola o
acesso aos meios de comunicação públicos (leia-se do regime/MPLA) do país, a
duas semanas das eleições gerais de 23 de Agosto.
“O acesso
aos meios estatais públicos de informação por parte dos partidos políticos
angolanos é deveras preocupante”, disse em declarações à agência Lusa Zenaida
Machado, delegada da Human Rights Watch em Joanesburgo, na África do Sul,
responsável na organização não-governamental pelos assuntos relacionados com os
países de língua portuguesa na África Austral.
Este
“problema” de “divisão” do tempo e espaço noticioso disponíveis de forma justa
entre os partidos políticos, foi “extensivamente falado dentro de Angola antes
das eleições e está a ser ainda mais grave” durante a campanha eleitoral em
curso, acrescentou a mesma responsável.
“A
HRW esteve, por exemplo, a monitorizar a actividade da imprensa no dia do
início da campanha eleitoral e verificou que nesse dia mais de 60% do tempo foi
dado ao candidato do partido no poder e ao partido no poder”, o MPLA, ilustrou
Zenaida Machado.
“O
direito à informação é um direito humano. No território angolano, a maior parte
das pessoas depende dos órgãos estatais para ter acesso à informação e os
angolanos precisam de ter esse acesso antes das eleições de dia 23 de Agosto”, reforçou
a activista.
Tendo
em conta “as restrições à liberdade de imprensa em Angola, em que infelizmente
não existem outras alternativas à informação fora de Luanda, as pessoas têm
acesso aos órgãos estatais”, reforçou ainda. Ora, “é preciso que os órgãos
estatais obedeçam à própria lei angolana, que os obriga a cobrir a actividade
dos partidos políticos da mesma forma”, concluiu Zenaida Machado.
A
HRW recebeu, por outro lado, “relatos preocupantes” de ataques contra figuras
políticas durante o exercício da campanha eleitoral, cujas investigações por
parte das autoridades angolanos estão a ser “bastante lentas”.
Reconheça-se,
contudo, que essa lentidão é compreensível. É que, para as autoridades que
deveriam ser do país mas que apenas são do MPLA, as vítimas não são
propriamente cidadãos e muito menos angolanos.
“Nós
apelamos ao Governo angolano que conclua estas investigações o mais rapidamente
possível, descubra quem são as pessoas responsáveis por estes ataques e que as
leve perante a justiça”, disse a responsável da ONG que, ingenuamente, opina
como se Angola fosse o que nunca foi nos seus 42 anos de independência: uma
democracia e um Estado de Direito.
“A
falta de uma medida efectiva contra casos como estes, que podem qualificar-se
como de motivação política, durante a campanha eleitoral intimida os candidatos
que estão a participar nestas eleições”, concluiu Zenaida Machado.
Um
dos casos reportado pela HWR aconteceu no início da semana passada, em que três
deputados da UNITA foram atacados em Benguela. Outro incidente envolveu a morte
de um membro sénior da UNITA no Huambo, falecido no dia 31 de Julho, na
sequência de um ataque durante em que outras sete pessoas ficaram feridas.
Folha
8 com Lusa
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