sábado, 28 de outubro de 2017

BRASIL | Ingente desafio programático



Programático tanto no sentido de que é preciso ir mais a fundo na devida consideração do drama que o país atravessa, como na formulação de alternativas

Luciano Siqueira*, de Recife | Correio do Brasil | opinião

Apenas o protesto (sempre justo e oportuno) e a denúncia (também necessária) das negociatas que mantêm Temer no governo não são suficientes para converter em ação prática a insatisfação que se alastra na população.

A empreitada é muito maior e mais complexa.

Recordo-me de que à altura do terceiro ano do primeiro governo Lula, por sugestão do próprio presidente; uma dezena de integrantes da Comissão Política Nacional do PCdoB se reuniu no Palácio do Planalto com a então ministra-chefe da Casa Civil; Dilma Rousseff e o também ministro Jacques Wagner, tendo como mote as reiteradas críticas do nosso Partido à política macroeconômica.

Na ocasião, Dilma nos fez uma ampla apresentação da ações de governo, sobressaindo-se o esforço intenso; e continuado em desfazer uma gama de leis, decretos e instruções normativas que Fernando Henrique Cardoso deixara; cujo sentido era engessar o Estado brasileiro naquilo que poderia servir à indução do desenvolvimento econômico em bases soberanas. Inclusive a interdição de recursos para as Universidades públicas, para a pesquisa científica e para a manutenção e fortalecimento da rede de escolas técnicas federais, por exemplo.

A mim ficou a impressão de que Lula iria incrementar ousada tentativa de reformar o Estado. Cheguei até a comentar o assunto, na mesma noite, em telefonema a um colunista do Jornal do Comercio, do Recife.

Contratempos

Mera impressão, entretanto. Logo o governo se veria enredado nos contratempos de uma correlação de forças; quase sempre instável e abandonaria o que nos parecia compromisso com reformas estruturais. Até mesmo no período 2007-2012; quando o prestígio do presidente se elevara ao máximo e o jogo de forças no parlamento lhe favorecia francamente.

Faltou descortino estratégico, convicção e vontade política.

Agora, sob o governo ilegítimo de Michel Temer, dá-se o contrário. Sobram convicção e vontade para agir no sentido inverso e; na agenda regressiva, pontificam múltiplas iniciativas de desmonte do Estado nacional.

Nessas circunstâncias,é certo que a pretendida reforma previdenciária há de receber sempre destaque no movimento oposicionista; pois toca mais diretamente à sensibilidade da maioria da população. É uma espécie de “gancho” para mobilizar o povo.

Reformas antipopulares

A resistência às reformas antipopulares e à perda de direitos é indispensável; porém há de ter maior sustança (como diz o matuto) a defesa do Estado nacional.

E se àquela altura do governo Lula o trabalho era intenso e permanente; o que vai se consolidando com Temer é o desmonte rápido – que implica, digamos assim; num ingente desafio programático.

Ou seja: urge fundir as bandeiras de luta mais imediatas e mais sensíveis ao sentimento do povo com proposições de caráter estratégico.

Daí a real dimensão do que temos na ordem do dia: resistir de todas as formas possíveis, ampliar o debate acerca das alternativas à crise e paulatinamente forjar um “programa mínimo” de unidade das forças democráticas e progressistas, tendo a recomposição da capacidade de indução e planejamento do Estado como vértice.

* Luciano Siqueira, é médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB.

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