Mariana
Mortágua | Jornal de Notícias | opinião
Apresentada
a proposta de Orçamento do Estado para 2018, é tempo de fazer contas ao que é
importante.
Impostos
sobre o trabalho. A subida do mínimo de existência determina que nenhum
trabalhador poderá ficar com um salário depois de imposto inferior a 8998 euros
anuais. A introdução de novos escalões vai beneficiar quem ganha até cerca de
40 mil euros anuais. A eliminação da sobretaxa reduzirá o imposto para os
restantes. Ao todo, são 490 milhões de alívio.
Pensões.
Fruto da aplicação da lei (descongelada após negociações para a viabilização do
Governo), todos os pensionistas serão aumentados e, nas pensões até 857euro,
acima da inflação. Reformas de 589euro vão receber mais 10euro/mês e, aquelas
que ficarem abaixo disso serão aumentadas, a partir de agosto, até perfazer
esse valor (6euro no caso daquelas mínimas aumentadas no passado). No total,
são 512 milhões.
Trabalhadores
do Estado. Verão reconhecido o seu direito à progressão na carreira, com a
respetiva atualização salarial a acontecer até ao final da legislatura. São 211
milhões. Além destas contas, está ainda a vinculação de 3500 professores
precários.
Apoios
sociais. Para além do abono, que continua a subir, é criada uma nova prestação
social dirigida às pessoas com deficiência, no valor de 72 milhões.
Valorizamos
todas estas medidas, porque são todas fruto de negociações muito difíceis e
porque correspondem ao objetivo que traçámos: recuperar rendimentos e parar o
empobrecimento.
Para
os recibos verdes, esta proposta traz algumas boas notícias: a inclusão no
mínimo de existência, a redução de IRS e a impenhorabilidade de rendimentos.
Mas traz também confusões que merecem esclarecimento. Por falta de espaço,
deixo o regime simplificado para outro texto. A proposta tem falhas e merece
uma análise cuidada, mas por agora importa esclarecer que as alterações não
afetam 90% dos trabalhadores independentes.
Nesta
como noutras matérias (fim dos cortes ao subsídio de desemprego), o Bloco não
deixará de apresentar medidas que contam.
Mas
as contas mais difíceis de fazer são outras. O Estado português dará, em 2018,
um "lucro" de 4069 milhões de euros que, depois de pagar juros, se
transforma num défice de 2034 milhões (1% do PIB). Sem reestruturar a dívida ou
flexibilizar o défice, o Governo está condenado a não poder investir onde deve
- da Saúde à prevenção e combate a incêndios - tudo aquilo que é necessário para
termos serviços públicos de qualidade e verdadeiramente acessíveis. Sem esse
investimento, há uma parte da estratégia de recuperação que não estará
completa.
Os
últimos anos mostraram que, quando se ataca direitos, salários e o Estado
social, o Excel dá sempre erro e a economia piora. Contas certas são as que
melhoram a vida de quem vive e trabalha neste país e, dessas contas, grande
parte ainda está por acertar.
*
Deputada do BE
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