As exonerações em Angola foram um
dos temas da primeira conferência de imprensa do novo Presidente com mais de
cem jornalistas. Lourenço espera que José Eduardo dos Santos cumpra promessa de
deixar liderança do MPLA.
Nada parece travar João
Lourenço. Nos primeiros 100 dias de governação, o novo Presidente de Angola
fez dezenas
de exonerações e afastou, por exemplo, a filha do antigo
Presidente, Isabel
dos Santos, da chefia da Sonangol, a petrolífera estatal.
Mas João Lourenço garante que não
há qualquer clima de "crispação" com o ex-chefe de Estado. O
Presidente da República defende que fez tudo em nome do interesse do Estado,
incluindo a retirada da gestão do canal 2 da Televisão Pública de Angola (TPA)
à empresa da deputada Welwitshea "Tchizé" e de José Paulino dos
Santos "Coreon Du", filhos de José Eduardo dos Santos.
"Nós não perseguimos
pessoas", disse João Lourenço, esclarecendo que o contrato recentemente
rescindido era "bastante desfavorável ao Estado" angolano. "O
contrato foi assinado numa determinada conjuntura, hoje a conjuntura é
diferente", salientou.
"Corrigir o que está
mal"
"O que nos foi orientado
fazer é corrigir o que está mal. Então, vamos continuar nessa senda de procurar
corrigir o que está mal", avisou o Presidente, assegurando que não vai
prescindir dos direitos que lhe confere a Constituição. "Nas minhas
funções de Presidente da República, eu baseio-me, sobretudo, na Constituição e
na Lei, e, em princípio, nada está acima da Constituição."
O Presidente angolano deu esta
segunda-feira (08.01) a sua primeira "entrevista coletiva", nos
jardins do Palácio Presidencial, na capital Luanda, para falar sobre os seus
primeiros 100 dias de governação. Participaram dezenas de jornalistas de órgãos
nacionais e estrangeiros, que puderam questionar Lourenço sobre vários
assuntos.
João Lourenço rompe, assim, com
uma tradição do seu antecessor, José Eduardo dos Santos, que habitualmente não
concedia entrevistas.
Saída de José Eduardo dos Santos
O novo chefe de Estado angolano
espera que José Eduardo dos Santos, o líder do seu partido, o Movimento Popular
de Libertação de Angola (MPLA), cumpra a promessa de abandonar
a vida política ativa este ano. "Só a ele compete dizer se o
fará, se vai cumprir com esse compromisso. Quando é que isso poderá acontecer,
só a ele compete dizer", declarou.
Questionado sobre a alegada
tensão que mantém com o presidente do partido no poder desde 1975, disse que
mantém com ele "relações normais de trabalho" com, negando qualquer
bicefalia na governação em Angola, até porque "nada está acima da
Constituição", ambos trabalhando em "campos distintos" e com
"cada um a cumprir o seu papel".
João Lourenço admitiu também
aplicar, nos próximos dias, medidas propostas pelo Ministério das Finanças
sobre a gestão do Fundo Soberano de Angola (FSDEA), não descartando exonerar a
administração. "Não diria que vou exonerar, mas pode vir a acontecer",
disse, informando que uma empresa idónea fez o diagnóstico às contas do FSDEA.
"Estou a analisar essas medidas e é muito provável que nos próximos dias
venham a ser implementadas", disse, sem avançar pormenores.
Caso Manuel Vicente
Outro dos tópicos abordados na
conferência de imprensa foi o bloqueio nas relações com Portugal devido ao
processo que envolve o ex-vice-presidente Manuel
Vicente, que é suspeito de ter corrompido um procurador do Ministério
Público português.
João Lourenço quer que o caso
seja julgado
em Angola. As relações com Portugal dependem do desfecho do caso, diz o
Presidente."Não estamos a pedir que ele seja absolvido, que o processo
seja arquivado, nós não somos juízes, não temos competência para dizer se o
engenheiro Manuel Vicente cometeu ou não cometeu o crime de que é acusado. Isso
que fique bem claro", sublinhou.
"Lamentavelmente [Portugal]
não satisfez o nosso pedido, alegando que não confia na Justiça angolana. Nós
consideramos isso uma ofensa", disse João Lourenço, realçando ainda que
"a intenção não é livrar o engenheiro Manuel Vicente da acusação, mas que
"o processo siga os seus trâmites".
O chefe de Estado falou ainda da
expansão do sinal da Emissora Católica de Angola, a Rádio Ecclesia, a todo o
território nacional - um processo que está parado há vários anos. Lourenço
disse que, no que depender de si, é para avançar. "Este é um velho
problema, mas eu considero-o hoje como sendo um falso problema", concluiu.
Nelson Francisco Sul (Luanda) |
Deutsche Welle
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