Vítor Santos* | Jornal de Notícias
| opinião
Só há duas maneiras, ambas nada
abonatórias, para justificar o facto de alguém considerar que o Serviço
Nacional de Saúde (SNS) não presta: desconhecer, em absoluto, a realidade de
outros países, ou ser político na Oposição. Mas isso não significa que o SNS
esteja isento de críticas. Bem mais grave, no entanto, é percebermos que um dos
grandes males, aparentemente, sem remédio, continue a ser a falta de
programação e antecipação de medidas para bloquear os problemas, mais, até, do
que a canalização de meios financeiros para um setor fundamental na vida das
pessoas.
A gripe, e ainda não atingimos a
fase crítica, começa a provocar o caos nas urgências dos hospitais. Quando
vamos tentar perceber como é possível não estarmos bem preparados para um surto
mais previsível do que chover no inverno vemos que, por exemplo, os hospitais
chocam com dificuldades incompreensíveis ao acionarem os planos de
contingência, designadamente na abertura de mais camas e respetivo aumento de
profissionais. As armadilhas - ou a demora na autorização para executar
despesas - são colocadas no caminho pelo Ministério das Finanças. O processo
atrasa, as unidades de saúde entopem, e o pior que pode acontecer é mesmo o
processo ficar concluído quando o período crítico passar, desperdiçando-se,
assim, meios e muito dinheiro, esse bem escasso na gestão de um país que tem a
quarta dívida mais alta entre as economias desenvolvidas. Ou seja, no poupar,
neste caso, pode estar a perda de Mário Centeno.
Mesmo sem grandes folgas
orçamentais, o acesso à saúde em Portugal deve continuar a justificar crédito e
a merecer investimento, sendo, por isso, uma inadmissível falta de respeito
António Costa esquecer-se de cumprir a promessa de criar 25 novas Unidades de
Saúde Familiar (USF) por ano durante a atual legislatura. O primeiro-ministro
contou 23 em 2017, mas apenas foram abertas cinco, num exercício de matemática
nível zero tão característico dos políticos na hora em que lhes escrutinam as
promessas.
Mais do que a preocupação com as
mordomias de sedução aos médicos para se deslocarem para fora dos grandes
centros urbanos (como seria se tivessem de viver com o ordenado dos
professores?), importa olhar com respeito uma área fundamental, sobretudo para as
pessoas cuja bolsa não permite estacionar nos hospitais privados. E isso não se
consegue com travões burocráticos de ministérios, seja por causa de cativações,
desorganizações ou outra habilidade qualquer.
*Editor-executivo-adjunto
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