sábado, 13 de janeiro de 2018

RELAÇÕES ANGOLA-PORTUGAL


Martinho Júnior | Luanda 

DOZE TRAÇOS VINCADOS NUMA RADIOGRAFIA EM JEITO DE SÍNTESE-ANALÍTICA

(NOTA PRÉVIA E AVISO À NAVEGAÇÃO: A PIDE/DGS CONTINUOU EM ÁFRICA APÓS O 25 DE ABRIL DE 1974, INTEGRANDO A ACTIVIDADE DE MUITOS DOS SEUS QUADROS NA PERSPECTIVA OPERACIONAL DO REGIME DO “APARTHEID” E NA TENTATIVA DESTE DE CONTINUAR A PROCURAR ROMPER COM O ISOLAMENTO INTERNACIONAL A QUE FOI VOTADO, NO SEGUIMENTO DOS PARÂMETROS SECRETOS DO EXERCÍCIO ALCORA!)

I – Isso explica:

1- A continuação dos governos portugueses do após 25 de Novembro de 1975 duma linha de interpretação doutrinária, ideológica e de acção com ligação meio clandestina e envergonhada à África do Sul, em função do segredo das potencialidades decorrentes do Exercício ALCORA, afectando os relacionamentos de Portugal sobretudo com Angola e Moçambique;

2- A persistência de correntes progressistas de interpretação dos fenómenos dentro e à volta do PCP, que soube vivenciar uma outra conduta em relação aos fenómenos que foram ocorrendo em Angola no quadro da evolução sócio-política do novo país, tirando sempre partido da legitimidade nos relacionamentos para com o Movimento de Libertação em África e seus aliados;

3- A planificada “trasladação” de Savimbi enquanto agente etno-nacionalista e oportunista do caudal de ingerências e manipulações retrógradas e de foco externo, desde logo em estreita conexão com o “apartheid” e com os mecanismos de poder em Portugal a fluírem sob o rótulo “democrático” nessa esteira, sobretudo nas projecções que foram sendo feitas pelos social-democratas (PSD, PS e CDS), com relevância para o clã Soares;

4- A persistência do tráfico ilícito de diamantes “luso-tropical”, que serviu a Savimbi de “abertura” para levar a cabo, com o suporte de retaguarda de Mobutu, da “guerra dos diamantes de sangue” (choque neoliberal) após Bicesse (assinatura a 31 de Maio de 1991);

5- A inspiração motivada pelos êxitos obtidos pelos traficantes de diamantes do 105/83, tirando partido dos fenómenos“transversais” decorrentes dos enlaces obrigatórios em função de sua actuação clandestina, ao abrigo dos quais foi vulnerabilizada a potencialidade de rigor e coerência da própria Segurança do Estado angolana em 1986;

6- O delineamento e a expansão das vias de ingerência e manipulação económica e financeira em Angola (inteligência económica), fornecendo substância de enlaces humanos ao período de terapia neoliberal com impactos social-democratas em Angola, incluindo a projecção dum quadro de “novos-ricos” (os 100 ricos que nessa perspectiva seriam necessários a Angola), desde 2002 até aos nossos dias;

7- A alimentação de correntes que alimentaram, além da “transversalidade” do tráfico ilícito de diamantes, a eclosão de sensibilidades “radicais” também consideradas de “transversais”, abrigadas nas projecções que incentivaram (e incentivam) as“revoluções coloridas” e as “primaveras árabes”, recorrendo à perspectiva dos filósofos das escolas estado-unidenses do neoliberalismo, do caos e do terrorismo, bem como dos apoios sócio-políticos existentes em Portugal incluindo em partidos como o Bloco de Esquerda e PS;

8- A gestão, mediante esses novos processos recorrentes ao modelo de assimilação colonial, de enlaces que conduzissem ao artifício duma manipulada contradição: numa das faces da moeda os “novos-ricos” angolanos quase todos eles atraídos a interesses económicos, bancários e financeiros a Portugal, da outra, os “radicais” indexados às filosofias, doutrinas e ideologias típicas dum quadro de “revolução colorida”, ou de “primavera árabe” com suportes visíveis e com força de intervenção;

9- A transmissão na super-estrutura ideológica do poder de estado, a partir de Portugal e tendo como alvo Angola, dos modelos que interessam aos métodos do capitalismo neoliberal (indexados aos enlaces económicos e humanos), das filosofias social-democratas de feição e moldagem da própria democracia burguesa instaurada em Portugal com o 25 de Novembro de 1975;

10- A amplitude e a persistência de fenómenos do âmbito do relacionamento humano num quadro oportunista de conjunturas cujo carácter recorre e prolonga a assimilação colonial, algo que se esbate até nossos dias e acomoda os procedimentos das sensibilidades sócio-políticas angolanas, incluindo as ditas “de oposição” (no fundo muito mais “clientes” da nova conjuntura do que verdadeiramente “opositores”);

11- A continuidade da projecção geoestratégica colonial que continua a ser a base da projecção geoestratégica vigente em Angola 42 anos após a sua independência;

12- A cobertura da NATO a este manancial de ingerências e manipulações neocoloniais, logo reforçadas pela instalação do USAFRICOM, quando Angola ficou sem a maior parte dos aliados naturais que a haviam socorrido em apoio às legítimas opções do Movimento de Libertação em África!

II – Duas perguntas vão subsistir:

1- Até que ponto os portugueses estão dispostos a reconhecer bilateralmente soberania, integridade e paridade de relacionamentos para com o estado, a nação e o povo angolano, livre de ditames neocoloniais decorrentes dos seus próprios e múltiplos processos de vassalagem no âmbito da “civilização judaico-cristã ocidental”!?

2- Até que ponto os angolanos serão capazes de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”!?

Martinho Júnior. - Luanda, 12 de Janeiro de 2017.

Foto: encontro entre os presidentes João Lourenço e Marcelo Rebelo de Sousa.

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