Martinho Júnior | Luanda
DOZE TRAÇOS VINCADOS NUMA
RADIOGRAFIA EM JEITO DE SÍNTESE-ANALÍTICA
(NOTA PRÉVIA E AVISO À NAVEGAÇÃO:
A PIDE/DGS CONTINUOU EM ÁFRICA APÓS O 25 DE ABRIL DE 1974, INTEGRANDO A
ACTIVIDADE DE MUITOS DOS SEUS QUADROS NA PERSPECTIVA OPERACIONAL DO REGIME
DO “APARTHEID” E NA TENTATIVA DESTE DE CONTINUAR A PROCURAR ROMPER
COM O ISOLAMENTO INTERNACIONAL A QUE FOI VOTADO, NO SEGUIMENTO DOS PARÂMETROS
SECRETOS DO EXERCÍCIO ALCORA!)
I – Isso explica:
1- A continuação dos governos
portugueses do após 25 de Novembro de 1975 duma linha de interpretação
doutrinária, ideológica e de acção com ligação meio clandestina e envergonhada
à África do Sul, em função do segredo das potencialidades decorrentes do
Exercício ALCORA, afectando os relacionamentos de Portugal sobretudo com Angola
e Moçambique;
2- A persistência de correntes
progressistas de interpretação dos fenómenos dentro e à volta do PCP, que soube
vivenciar uma outra conduta em relação aos fenómenos que foram ocorrendo em
Angola no quadro da evolução sócio-política do novo país, tirando sempre
partido da legitimidade nos relacionamentos para com o Movimento de Libertação
em África e seus aliados;
3- A planificada “trasladação” de
Savimbi enquanto agente etno-nacionalista e oportunista do caudal de
ingerências e manipulações retrógradas e de foco externo, desde logo em
estreita conexão com o “apartheid” e com os mecanismos de poder em
Portugal a fluírem sob o rótulo “democrático” nessa esteira,
sobretudo nas projecções que foram sendo feitas pelos social-democratas (PSD,
PS e CDS), com relevância para o clã Soares;
4- A persistência do tráfico
ilícito de diamantes “luso-tropical”, que serviu a Savimbi de “abertura” para
levar a cabo, com o suporte de retaguarda de Mobutu, da “guerra dos
diamantes de sangue” (choque neoliberal) após Bicesse (assinatura a 31 de
Maio de 1991);
5- A inspiração motivada pelos
êxitos obtidos pelos traficantes de diamantes do 105/83, tirando partido dos
fenómenos“transversais” decorrentes dos enlaces obrigatórios em função de
sua actuação clandestina, ao abrigo dos quais foi vulnerabilizada a potencialidade
de rigor e coerência da própria Segurança do Estado angolana em 1986;
6- O delineamento e a expansão
das vias de ingerência e manipulação económica e financeira em Angola
(inteligência económica), fornecendo substância de enlaces humanos ao período
de terapia neoliberal com impactos social-democratas em Angola, incluindo a projecção
dum quadro de “novos-ricos” (os 100 ricos que nessa perspectiva
seriam necessários a Angola), desde 2002 até aos nossos dias;
7- A alimentação de correntes que
alimentaram, além da “transversalidade” do tráfico ilícito de
diamantes, a eclosão de sensibilidades “radicais” também consideradas
de “transversais”, abrigadas nas projecções que incentivaram (e
incentivam) as“revoluções coloridas” e as “primaveras árabes”,
recorrendo à perspectiva dos filósofos das escolas estado-unidenses do
neoliberalismo, do caos e do terrorismo, bem como dos apoios sócio-políticos
existentes em Portugal incluindo em partidos como o Bloco de Esquerda e PS;
8- A gestão, mediante esses novos
processos recorrentes ao modelo de assimilação colonial, de enlaces que
conduzissem ao artifício duma manipulada contradição: numa das faces da moeda
os “novos-ricos” angolanos quase todos eles atraídos a interesses
económicos, bancários e financeiros a Portugal, da outra, os “radicais” indexados
às filosofias, doutrinas e ideologias típicas dum quadro de “revolução
colorida”, ou de “primavera árabe” com suportes visíveis e com força
de intervenção;
9- A transmissão na
super-estrutura ideológica do poder de estado, a partir de Portugal e tendo
como alvo Angola, dos modelos que interessam aos métodos do capitalismo
neoliberal (indexados aos enlaces económicos e humanos), das filosofias
social-democratas de feição e moldagem da própria democracia burguesa
instaurada em Portugal com o 25 de Novembro de 1975;
10- A amplitude e a persistência
de fenómenos do âmbito do relacionamento humano num quadro oportunista de
conjunturas cujo carácter recorre e prolonga a assimilação colonial, algo que
se esbate até nossos dias e acomoda os procedimentos das sensibilidades
sócio-políticas angolanas, incluindo as ditas “de oposição” (no fundo
muito mais “clientes” da nova conjuntura do que verdadeiramente “opositores”);
11- A continuidade da projecção
geoestratégica colonial que continua a ser a base da projecção geoestratégica
vigente em Angola 42 anos após a sua independência;
12- A cobertura da NATO a este
manancial de ingerências e manipulações neocoloniais, logo reforçadas pela
instalação do USAFRICOM, quando Angola ficou sem a maior parte dos aliados
naturais que a haviam socorrido em apoio às legítimas opções do Movimento de
Libertação em África!
II – Duas perguntas vão
subsistir:
1- Até que ponto os portugueses
estão dispostos a reconhecer bilateralmente soberania, integridade e paridade de
relacionamentos para com o estado, a nação e o povo angolano, livre de ditames
neocoloniais decorrentes dos seus próprios e múltiplos processos de vassalagem
no âmbito da “civilização judaico-cristã ocidental”!?
2- Até que ponto os angolanos
serão capazes de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem”!?
Martinho Júnior. - Luanda, 12 de Janeiro de 2017.
Foto: encontro entre os
presidentes João Lourenço e Marcelo Rebelo de Sousa.
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