sábado, 13 de janeiro de 2018

SUBMARINOS À VISTA | Angola, Portugal, Alemanha e...


Paulo Baldaia* | Diário de Notícias | opinião

Justiça ou soberania? O que queremos? Se é que temos de querer apenas uma das duas coisas, não as podendo ter em simultâneo. Olhando para o desafio que ontem o presidente de Angola lançou à justiça portuguesa, temos de dizer que os angolanos querem as duas coisas. E é claro que os ofendemos quando pensamos que se lhes dermos o poder soberano de julgar o seu ex-vice-presidente pode não chegar a haver justiça. Angola também tem de perceber que há uma questão insanável: a separação de poderes que existe em Portugal não permite, pelo menos não aconselha, que este processo tenha uma decisão política.

O presidente de Angola, João Lourenço, foi de uma clareza que não admite dúvidas: Angola não quer ilibar Manuel Vicente, quer a justiça angolana a decidir que caminho dar ao processo. Sendo certo que o chefe do Estado angolano não admite, nem podia admitir, um princípio de desconfiança primário em relação ao seu país. Mal ou bem, lá como cá, não há liberdade nem justiça sem soberania.

É, aliás, por isso que a Alemanha condenou uns senhores da Ferrostaal por pagamento de coimas por suborno de funcionários públicos estrangeiros, na venda de submarinos a Portugal, e por cá não houve ninguém que tivesse sido condenado. Os justiceiros terão pensado que isto só significa que não há verdadeira justiça em Portugal e os que acreditam no Estado de direito terão dito que a justiça funcionou, num país que não abdica da sua soberania.

Estará João Lourenço, como diz ao DN Seixas da Costa, a admitir a culpabilidade de Manuel Vicente ao afirmar que não o quer ilibado em Portugal, antes quer o processo que envolve um ex-vice-presidente a seguir os seus trâmites em Angola. Do ponto de vista teórico, que é no plano em que o coloca o ex-governante português, sim. A questão é saber quem determina a culpabilidade ou a inocência, porque uma ou outra não se decide na investigação mas no tribunal. O presidente de Angola deu um passo em frente ao admitir o que admitiu e ao dar as garantias que deu. Há condições para Portugal dar o passo seguinte?

*Diário de Notícias, em 9 de Janeiro de 2018

- Com título ligeiramente alterado por PG

Sem comentários:

Mais lidas da semana