terça-feira, 20 de março de 2018

Importadores de madeira de EUA e Europa alimentam destruição da Amazônia, denuncia Greenpeace


A exportação de madeiras de lei do Brasil, como a de ipê, principalmente para os Estados Unidos e Europa, alimenta um comércio ilegal que devasta a Floresta Amazônica, alertou o Greenpeace nesta terça-feira.

Uma investigação levou a uma lista de 37 companhias americanas apontadas como os principais clientes de exportadores brasileiros que vendem madeira "com indícios de ilegalidade" para fabricar mesas ou móveis de jardim.

Empresas na França, Portugal, Bélgica e Holanda são as próximas na lista de grandes compradoras de madeira suspeita, de acordo com o relatório de 27 páginas da organização, intitulado "Árvores imaginárias, destruição real".

Segundo o relatório, madeireiras e funcionários públicos corruptos brasileiros executam esquemas sofisticados que permitem cortar estas árvores muito abaixo do permitido, sem que isto as impeça de obter os documentos necessários para exportar a madeira com enormes lucros.

Compradores em países ricos deveriam estar mais atentos ao que estão importando, diz o relatório.

"Podemos dizer que é quase impossível garantir que a madeira da Amazônia brasileira tenha saído de operações legais", afirmou Rômulo Batista, da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil.

O ipê pode crescer até 30-40 metros e sua madeira é uma das mais densas e duras do mundo, chegando a afundar quando colocada na água.

Isso faz com que esta madeira seja um excelente material para móveis de áreas externas e deques, como no famoso calçadão de Coney Island, em Nova York.

Mas como o ipê está disperso na floresta, com suas exuberantes flores rosas, roxas, amarelas e brancas colorindo o verde da Amazônia, cortá-los exige uma destruição em grande escala.

"Vítimas de sua própria magnificência, os ipês podem ser facilmente avistados no meio da Amazônia", disse o relatório do Greenpeace.

Uma vez processado para pisos e outros produtos, o metro cúbico do ipê chega a custar até 2.500 dólares para exportação.

O Greenpeace diz que as companhias americanas importaram 10.171 metros cúbicos de ipê entre março de 2016 e setembro de 2017, e que 11 países da União Europeia importaram de forma coletiva 9.775 metros cúbicos no mesmo período.

"O alto valor do ipê (...) o torna lucrativo para os madeireiros ilegais que se adentram nas profundezas da floresta", aponta o Greenpeace.

"Madeireiros inescrupulosos destroem a floresta com estradas ilegais, invadindo de forma ilegal áreas protegidas e terras indígenas, degradando a floresta e às vezes cometendo atos de violência contra as comunidades" locais, afirma.

'Manipular as contas'

O governo brasileiro disse no ano passado que a taxa de desmatamento caiu 16% entre agosto de 2016 e julho de 2017, em comparação com os 12 meses anteriores.

Mesmo com essa primeira diminuição em três anos, foram destruídos 6.624 quilômetros quadrados de floresta. O desmatamento não só modifica o habitat tropical, mas também contribui significativamente para aumentar a emissão de dióxido de carbono, o principal motor do aquecimento global.

Para cortar ipês e outras madeiras duras, os madeireiros usam motosserras e escavadeiras.

No estado do Pará, por exemplo, engenheiros corruptos fazem inventários falsos em áreas florestais, inflando o número de árvores ou classificando árvores de baixo valor como se fossem de gama alta, diz o Greenpeace.

Estas árvores falsas são usadas depois para gerar créditos legais que madeireiros inescrupulosos usam para seu carregamento ilegal de ipês cortados em áreas protegidas.

"As agências estatais então emitem créditos pela colheita e traslado desta madeira inexistente", disse o Greenpeace.

"Esses créditos podem ser usados para 'manipular as contas' de serrarias que processam árvores ilegalmente extraídas de florestas em terras indígenas, áreas protegidas ou terras públicas".

AFP | Foto: AFP/Arquivos / CARL DE SOUZA

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