@Verdade | Editorial
Os acontecimentos, que marcaram
esta semana, relacionados com o acidente de viação que vitimou 26 pessoas e
deixou outras com ferimentos graves no bairro Luís Cabral, em Maputo, e o
sequestro do jurista, jornalista e comentador da STV, Ericino de Salema, são
sintomáticos da precariedade da sociedade que temos estado a erguer.
Em menos de uma semana, os
moçambicanos foram surpreendidos com dois factos bastante chocantes e
indignantes. A primeira situação deu- -se no domingo último (25), quando um
cidadão, com perfil desses novos endinheirados moçambicanos que despoletam como
cogumelo depois da chuva, fazendo-se transportar numa viatura de alta
cilindrada e fugindo da Polícia de Trânsito, colheu um grupo de pessoas que
participava numa festa organizada na via pública, no bairro Luís Cabral, na
cidade de Maputo. A segunda foi o sequestro de Ericino de Salema no início da
tarde de terça-feira (27) defronte do Sindicato Nacional de Jornalistas (SNJ)
por desconhecidos que o amarraram e violentaram antes de o abandonarem nos
arredores do distrito de Marracuene, na cidade de Maputo.
Embora se trate de dois
acontecimentos distintos, ambos chamam atenção sobre o estado decadente da
nossa sociedade e do nosso Estado. Enquanto um revela a imprudência e
irresponsabilidade no volante, o outro mostra o quão podre anda a nossa
liberdade de expressão. Fazer-se ao volante embriagado e ignorar a Polícia de
Trânsito vai-se tornando numa prática comum pelo país e as autoridades
competentes continua a fazer vista grossa a essa realidade.
Em relação aos sequestros e
tortura física e psicológica aos cidadãos por expressarem publicamente as suas
opiniões, esta é mais uma prova de que ainda estamos longe de nos tornarmos
efectivamente um Estado democrático. Hoje, os moçambicanos vivem intimidados
por quem controla os meios do Estado. Infelizmente, a falta do bom senso e a
violação dos direitos humanos continua ai, aparentemente sem rosto, a decidir
sobre os destinos dos moçambicanos e da pátria. E graça aos meios de
comunicação social, especificamente os independentes, que fazem com que todos
os moçambicanos estejam a par dos acontecimentos, dos passos dados por um e por
outro e que têm contribuído de forma significativa para colocar no debate toda
essa imoralidade que grassa no país.
Portanto, toda essa situação é
reflexo do descaso do Estado moçambicano e falta de princípios e valores dos
seus cidadãos. Mas, diga-se em abono da verdade que, vale a pena lutar, para
que, um dia, tenhamos um país decente.
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