Martinho Júnior | Luanda
1- Precisamente e ao invés do
petróleo para o incremento do desenvolvimento,da integração, da solidariedade e
da paz!...
De facto o "alvo" Venezuela
tem esse "ingrediente básico de desestabilização", indexado
aos actuais meandros e subtilezas do“mercado” e os custos de exploração do
petróleo “offshore”, a que a administração de turno em Washington, a soldo
dos “lobbies”das multinacionais, tem adicionado outros, combinando-os e
interligando-os a ponto de fomentar guerra económica, psicológica e
desestabilização sócio-política!...
Essa evidência tornou-se maior
depois do desaparecimento físico do Comandante Hugo Chavez e à medida que o
Presidente Nicolas Maduro foi aprofundando a capacidade das “missões” que
visam levar por diante políticas de justiça social, solidariedade e integração,
conformes ao “socialismo do século XXI” e à Pátria Grande!
A hegemonia unipolar (o império
da doutrina Monroe), tem tudo a ver com a contínua subversão dos esforços
daqueles que procuram justiça social, equilíbrio humano e respeito para com a
Mãe Terra, numa clara fronteira entre o que é da barbárie (à qual estão
indexadas as suas acções) e o que é da civilização (aqueles que agem em
benefício directo dos povos)!...
Angola sofre também o "ingrediente
básico de desestabilização" (como é constatado no artigo do Novo
Jornal, sob o título “Angola está a ser prejudicada pelas estratégias
flutuantes da OPEP determinadas pela Arábia Saudita”), a que eventualmente essa
administração poderá ou não adicionar, em geometria variável, ingredientes
similares aos aplicados à Venezuela, às "revoluções coloridas" ou
às "primaveras árabes", em relação aos quais recursos nunca
faltaram!
A Venezuela e Angola são assim,
duma maneira ou de outra “laboratórios preferenciais” para gerar
impactos de desestabilização a partir das flutuações dos preços de petróleo,
pois os custos de exploração “offshore” são incomparavelmente
superiores aos custos onde o petróleo aflora da areia, como na península
Arábica, no Iraque e mesmo na Síria!
2- …Essa "vantagem" da
Arábia Saudita e de outras monarquias arábicas (que têm sido socialmente “imunizadas” e “petrificadas” e
por isso se tornaram ultraconservadoras e fundamentalistas) em relação a outros
produtores (entre eles a Venezuela e Angola), tem sido a base para a fomentação
da desestabilização.
Tem sido também um manancial por
exemplo ao longo do Sahel e após a destruição da Líbia e assassinato de Kadafi
em 2011, de caos, terrorismo e desagregação, conforme o Al Qaeda e suas
ramificações, o Estado Islâmico e outras iniciativas afins, financiadas por
alguns dos componentes da “coligação” (cada vez mais expostos e
visíveis no Iraque e na Síria)!...
No fundo as monarquias sunitas
arábicas promovem desse modo uma espiral de ingerências (umas relativamente
circunscritas aos artificiosos preços do petróleo, outras mais amplas e de
âmbito religioso, psicológico e sócio-político).
A esfera económica e financeira
(sincronizadas com as decisões tomadas no âmbito da via OPEP), está em muitos
casos sincronizada com autênticas intervenções geradoras de fundamentalismo
wahabita, (caos, terrorismo e desagregação), aproveitando os “bons
ofícios” redundantes do secreto Tratado Quincy (encontro do Presidente
Roosevelt com o então rei da Arábia Saudita, Ibn Saud, a 14 de Fevereiro de
1945, a bordo do cruzador Quincy, no canal do Suez, no final da IIª Guerra
Mundial).
Em função desse tipo de enredos,
África está a sofrer, desde 2011 (destruição da Líbia e assassinato de Kadafi),
a diminuição dos preços de petróleo (indexados a um mercado que tem o domínio
saudita) ao mesmo tempo que tem havido um "investimento"arábico
nos processos de desestabilização, em estreita coligação com os Estados Unidos
e algumas das potências da NATO, inscritas nas disputas inseridas numa IIIª
Guerra Mundial não declarada e com “pontos quentes” no Afeganistão,
no Iraque, na Líbia, nos Balcãs, no Cáucaso, na Somália, no Iémen, na Síria,
como em torno da Rússia e da China!...
… e quanto mais cresce o
terrorismo em África, mais garantida é a “ajuda militar” para as
combater, em especial por parte da França e dos Estados Unidos (é só constatar
a disseminação de suas forças), num processo autêntico e constante de
recolonização por via do choque neoliberal, garantindo o saque das riquezas
continentais (como por exemplo está a acontecer com o urânio do Níger)!
3- Em relação a Angola
actualmente essa é uma das bases da terapia neoliberal após o traumático choque
entre 1.992 e 2.002 protagonizado por Jonas Savimbi, instrumentalizado na
“guerra dos diamantes de sangue”, num momento que Angola tanto necessita de
investimento externo…
Em Angola a terapia neoliberal
insere também outros ingredientes, como a capacidade de assimilação traduzida
pelos governos do“arco de governação” portugueses (Portugal é um vassalo
da NATO), redundantes do 25 de Novembro de 1975, em relação a Angola, ou seja,
uma política de relacionamento spinolista, sem Spínola e recuperando de forma
secreta as redundâncias do Exercício Alcora, incluindo, por exemplo, o papel de
antigos inspectores da PIDE/DGS que se refugiaram na África do Sul, quando esse
país estava sob domínio do “apartheid” (os “homens” dos
Flechas, Fragoso Allas e Óscar Cardoso)…
Para além de alguns grupos terem
procurado tensões afins às características iniciais das “revoluções
coloridas”, é a migração clandestina ou aberta, injectada a partir do Sahel, ou
seja, proveniente de países como a Mauritânia, o Mali, o Chade, ou o Níger,
(via República Democrática do Congo), profundamente afectados pelo caos e
terrorismo fundamentalista sunita/wahabita (redes do AQMI, Boko Haram e grupos
da Al Qaeda, entre outros), que se vai fazendo sentir.
Essa migração propicia
canais “dormentes” para os fundamentalistas poderem um dia actuar à
sua maneira nas regiões-alvo.
Até lá enviam os filhos para as
escolas islâmicas e vão entesourando calmamente com diamantes e, quando
possível, divisas, em manobras de clandestinidade que os angolanos muitas vezes
não conseguem decifrar, pois é isso que melhor sabem fazer.
Os deserdados do Sahel vão
chegando e é evidente que os financiamentos arábicos de redes de
desestabilização, promovem a sua instalação e a busca incessante de parcerias,
ainda que tudo se passe de maneira pouco ou nada formal.
4- Em relação à Venezuela, à
falta de maiores potencialidades para o choque, a hegemonia unipolar tirou
partido dos sectores mais retrógrados de há longa data instalados da oligarquia
nacional e de peões externos a coberto da Organização dos Estados Americanos
(grupo de Lima, por exemplo), para além dos paramilitares agenciados na
Colômbia, a fim de promover todo o tipo de ingerências e a actual guerra
económica, financeira, psicológica e de desgaste em curso.
Na Venezuela vive-se um “estágio” crucial
dessa luta, num momento em que a sombra da doutrina Monroe reaparece com novo
vigor na América, reeditando os novos moldes da Operação Condor!
A baixa densidade populacional em
algumas das fronteiras venezuelanas a sul (como por exemplo no Estado do
Amazonas), podem um dia tornar-se um manancial para a implantação duma
guerrilha afim às conveniências dos seguidores da doutrina Monroe.
Os Andes ocidentais na fronteira
com a Colômbia, são também labirintos que afectam, particularmente no Estado de
Táchira.
Até lá a desvalorização da moeda
nacional, o Bolivar, provoca um desestabilizador aumento de corrupção, outro
factor a ter em conta, na tentativa de minar os esforços internos até à medula…
Nos dois países a desvalorização
da moeda nacional e a rarefacção de moedas fortes para câmbios, tem
caracterizado a injectada e artificiosa crise manipuladora, só possível num
ambiente global de tentativa de domínio do capitalismo neoliberal e numa altura
em que o petróleo continua a ser uma das principais fontes de energia à escala
global.
5- Quer em Angola, quer na
Venezuela, a decisão de encetar políticas de sooidariedade, de integração, de
desenvolvimento e de paz tem sido fundamental para, por via democrática (e com
o aprofundamento da democracia abrindo espaços à participação), se procurar
esbaterem traumas e choques, ainda que persistam os impactos da terapia
neoliberal, que só com o tempo e a maturidade consciente de sua existência, num
amplo e longo processo de luta, poderão os povos, as nações e os estados
neutralizar e vencer.
Sem os traumas e desgastes das
guerras, a Venezuela conseguiu mais avanços, consubstanciados em políticas
vocacionadas para o benefício dos substractos mais pobres e marginalizados de
seu povo, aqueles que foram sendo oprimidos e duramente manipulados pelas
servis oligarquias clientelistas, agenciadas pela hegemonia unipolar, pelo
império da doutrinaMonroe.
A lógica com sentido de vida, o
aprofundamento da democracia e a paz, são sinais que estimulam mais que nunca a
aproximação entre Angola e a Venezuela Bolivariana, no quadro dessa luta
alargada, necessidade fluente dos países onde as assimetrias e a mancha do
subdesenvolvimento foram por tanto tempo mantidas deliberadamente de forma
crónica, não só a nível interno de cada um dos países, mas também
respectivamente em suas regiões circundantes!
EM ANGOLA, TENDO EM CONTA O NOSSO
PROCESSO HISTÓRICO E AS NOSSAS EXPERIÊNCIAS DESDE A DÉCADA DE 90 DO SÉCULO
PASSADO, HÁ POIS TODAS AS RAZÕES PARA TODOS SERMOS VENEZUELA!
Martinho Júnior - Luanda,18 de Março de 2018
Anexo a que me reporto, a não
perder:
“Angola está a ser prejudicada
pelas estratégias flutuantes da OPEP determinadas pela Arábia Saudita” – http://www.novojornal.co.ao/economia/interior/angola-esta-a-ser-prejudicada-pelas-estrategias-flutuantes-da-opep-determinadas-pela-arabia-saudita-50289.html
Imagens:
- Encontro entre o Presidente
Roosevelt e o Rei saudita Ibn Saud, a 14 de Fevereiro de 1945 (Tratado secreto
de Quincy, a bordo do cruzador do mesmo nome);
- A primeira visita oficial do
recém-investido Presidente Donald Trump foi à Arábia Saudita;
- A “dança das espadas” na
recepção da monarquia saudita ao Presidente dos Estados Unidos, um significado
muito para além do simbolismo monárquico:
- Na OPEP há suseranos e vassalos;
- Sintonias de paz, entre o
Comandante Hugo Chavez e o Presidente José Eduardo dos Santos, para fazer face
às ingerências e manipulações de toda a ordem que Angola e a Venezuela têm
vindo a sofrer.
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