quinta-feira, 22 de março de 2018

O "EXCREMENTO DO DIABO" PARA A VENEZUELA BOLIVARIANA E ANGOLA!


Martinho Júnior | Luanda

1- Precisamente e ao invés do petróleo para o incremento do desenvolvimento,da integração, da solidariedade e da paz!...

De facto o "alvo" Venezuela tem esse "ingrediente básico de desestabilização", indexado aos actuais meandros e subtilezas do“mercado” e os custos de exploração do petróleo “offshore”, a que a administração de turno em Washington, a soldo dos “lobbies”das multinacionais, tem adicionado outros, combinando-os e interligando-os a ponto de fomentar guerra económica, psicológica e desestabilização sócio-política!...

Essa evidência tornou-se maior depois do desaparecimento físico do Comandante Hugo Chavez e à medida que o Presidente Nicolas Maduro foi aprofundando a capacidade das “missões” que visam levar por diante políticas de justiça social, solidariedade e integração, conformes ao “socialismo do século XXI” e à Pátria Grande!

A hegemonia unipolar (o império da doutrina Monroe), tem tudo a ver com a contínua subversão dos esforços daqueles que procuram justiça social, equilíbrio humano e respeito para com a Mãe Terra, numa clara fronteira entre o que é da barbárie (à qual estão indexadas as suas acções) e o que é da civilização (aqueles que agem em benefício directo dos povos)!...

Angola sofre também o "ingrediente básico de desestabilização" (como é constatado no artigo do Novo Jornal, sob o título “Angola está a ser prejudicada pelas estratégias flutuantes da OPEP determinadas pela Arábia Saudita”), a que eventualmente essa administração poderá ou não adicionar, em geometria variável, ingredientes similares aos aplicados à Venezuela, às "revoluções coloridas" ou às "primaveras árabes", em relação aos quais recursos nunca faltaram!

A Venezuela e Angola são assim, duma maneira ou de outra “laboratórios preferenciais” para gerar impactos de desestabilização a partir das flutuações dos preços de petróleo, pois os custos de exploração “offshore” são incomparavelmente superiores aos custos onde o petróleo aflora da areia, como na península Arábica, no Iraque e mesmo na Síria!


2- …Essa "vantagem" da Arábia Saudita e de outras monarquias arábicas (que têm sido socialmente “imunizadas” e “petrificadas” e por isso se tornaram ultraconservadoras e fundamentalistas) em relação a outros produtores (entre eles a Venezuela e Angola), tem sido a base para a fomentação da desestabilização.

Tem sido também um manancial por exemplo ao longo do Sahel e após a destruição da Líbia e assassinato de Kadafi em 2011, de caos, terrorismo e desagregação, conforme o Al Qaeda e suas ramificações, o Estado Islâmico e outras iniciativas afins, financiadas por alguns dos componentes da “coligação” (cada vez mais expostos e visíveis no Iraque e na Síria)!...

No fundo as monarquias sunitas arábicas promovem desse modo uma espiral de ingerências (umas relativamente circunscritas aos artificiosos preços do petróleo, outras mais amplas e de âmbito religioso, psicológico e sócio-político).

A esfera económica e financeira (sincronizadas com as decisões tomadas no âmbito da via OPEP), está em muitos casos sincronizada com autênticas intervenções geradoras de fundamentalismo wahabita, (caos, terrorismo e desagregação), aproveitando os “bons ofícios” redundantes do secreto Tratado Quincy (encontro do Presidente Roosevelt com o então rei da Arábia Saudita, Ibn Saud, a 14 de Fevereiro de 1945, a bordo do cruzador Quincy, no canal do Suez, no final da IIª Guerra Mundial).

Em função desse tipo de enredos, África está a sofrer, desde 2011 (destruição da Líbia e assassinato de Kadafi), a diminuição dos preços de petróleo (indexados a um mercado que tem o domínio saudita) ao mesmo tempo que tem havido um "investimento"arábico nos processos de desestabilização, em estreita coligação com os Estados Unidos e algumas das potências da NATO, inscritas nas disputas inseridas numa IIIª Guerra Mundial não declarada e com “pontos quentes” no Afeganistão, no Iraque, na Líbia, nos Balcãs, no Cáucaso, na Somália, no Iémen, na Síria, como em torno da Rússia e da China!...

… e quanto mais cresce o terrorismo em África, mais garantida é a “ajuda militar” para as combater, em especial por parte da França e dos Estados Unidos (é só constatar a disseminação de suas forças), num processo autêntico e constante de recolonização por via do choque neoliberal, garantindo o saque das riquezas continentais (como por exemplo está a acontecer com o urânio do Níger)!


3- Em relação a Angola actualmente essa é uma das bases da terapia neoliberal após o traumático choque entre 1.992 e 2.002 protagonizado por Jonas Savimbi, instrumentalizado na “guerra dos diamantes de sangue”, num momento que Angola tanto necessita de investimento externo…

Em Angola a terapia neoliberal insere também outros ingredientes, como a capacidade de assimilação traduzida pelos governos do“arco de governação” portugueses (Portugal é um vassalo da NATO), redundantes do 25 de Novembro de 1975, em relação a Angola, ou seja, uma política de relacionamento spinolista, sem Spínola e recuperando de forma secreta as redundâncias do Exercício Alcora, incluindo, por exemplo, o papel de antigos inspectores da PIDE/DGS que se refugiaram na África do Sul, quando esse país estava sob domínio do “apartheid” (os “homens” dos Flechas, Fragoso Allas e Óscar Cardoso)…

Para além de alguns grupos terem procurado tensões afins às características iniciais das “revoluções coloridas”, é a migração clandestina ou aberta, injectada a partir do Sahel, ou seja, proveniente de países como a Mauritânia, o Mali, o Chade, ou o Níger, (via República Democrática do Congo), profundamente afectados pelo caos e terrorismo fundamentalista sunita/wahabita (redes do AQMI, Boko Haram e grupos da Al Qaeda, entre outros), que se vai fazendo sentir.

Essa migração propicia canais “dormentes” para os fundamentalistas poderem um dia actuar à sua maneira nas regiões-alvo.

Até lá enviam os filhos para as escolas islâmicas e vão entesourando calmamente com diamantes e, quando possível, divisas, em manobras de clandestinidade que os angolanos muitas vezes não conseguem decifrar, pois é isso que melhor sabem fazer.

Os deserdados do Sahel vão chegando e é evidente que os financiamentos arábicos de redes de desestabilização, promovem a sua instalação e a busca incessante de parcerias, ainda que tudo se passe de maneira pouco ou nada formal.


4- Em relação à Venezuela, à falta de maiores potencialidades para o choque, a hegemonia unipolar tirou partido dos sectores mais retrógrados de há longa data instalados da oligarquia nacional e de peões externos a coberto da Organização dos Estados Americanos (grupo de Lima, por exemplo), para além dos paramilitares agenciados na Colômbia, a fim de promover todo o tipo de ingerências e a actual guerra económica, financeira, psicológica e de desgaste em curso.

Na Venezuela vive-se um “estágio” crucial dessa luta, num momento em que a sombra da doutrina Monroe reaparece com novo vigor na América, reeditando os novos moldes da Operação Condor!

A baixa densidade populacional em algumas das fronteiras venezuelanas a sul (como por exemplo no Estado do Amazonas), podem um dia tornar-se um manancial para a implantação duma guerrilha afim às conveniências dos seguidores da doutrina Monroe.

Os Andes ocidentais na fronteira com a Colômbia, são também labirintos que afectam, particularmente no Estado de Táchira.

Até lá a desvalorização da moeda nacional, o Bolivar, provoca um desestabilizador aumento de corrupção, outro factor a ter em conta, na tentativa de minar os esforços internos até à medula…

Nos dois países a desvalorização da moeda nacional e a rarefacção de moedas fortes para câmbios, tem caracterizado a injectada e artificiosa crise manipuladora, só possível num ambiente global de tentativa de domínio do capitalismo neoliberal e numa altura em que o petróleo continua a ser uma das principais fontes de energia à escala global.


5- Quer em Angola, quer na Venezuela, a decisão de encetar políticas de sooidariedade, de integração, de desenvolvimento e de paz tem sido fundamental para, por via democrática (e com o aprofundamento da democracia abrindo espaços à participação), se procurar esbaterem traumas e choques, ainda que persistam os impactos da terapia neoliberal, que só com o tempo e a maturidade consciente de sua existência, num amplo e longo processo de luta, poderão os povos, as nações e os estados neutralizar e vencer.

Sem os traumas e desgastes das guerras, a Venezuela conseguiu mais avanços, consubstanciados em políticas vocacionadas para o benefício dos substractos mais pobres e marginalizados de seu povo, aqueles que foram sendo oprimidos e duramente manipulados pelas servis oligarquias clientelistas, agenciadas pela hegemonia unipolar, pelo império da doutrinaMonroe.

A lógica com sentido de vida, o aprofundamento da democracia e a paz, são sinais que estimulam mais que nunca a aproximação entre Angola e a Venezuela Bolivariana, no quadro dessa luta alargada, necessidade fluente dos países onde as assimetrias e a mancha do subdesenvolvimento foram por tanto tempo mantidas deliberadamente de forma crónica, não só a nível interno de cada um dos países, mas também respectivamente em suas regiões circundantes!

EM ANGOLA, TENDO EM CONTA O NOSSO PROCESSO HISTÓRICO E AS NOSSAS EXPERIÊNCIAS DESDE A DÉCADA DE 90 DO SÉCULO PASSADO, HÁ POIS TODAS AS RAZÕES PARA TODOS SERMOS VENEZUELA!

Martinho Júnior - Luanda,18 de Março de 2018

Anexo a que me reporto, a não perder:
“Angola está a ser prejudicada pelas estratégias flutuantes da OPEP determinadas pela Arábia Saudita” – http://www.novojornal.co.ao/economia/interior/angola-esta-a-ser-prejudicada-pelas-estrategias-flutuantes-da-opep-determinadas-pela-arabia-saudita-50289.html

Imagens:
- Encontro entre o Presidente Roosevelt e o Rei saudita Ibn Saud, a 14 de Fevereiro de 1945 (Tratado secreto de Quincy, a bordo do cruzador do mesmo nome);
- A primeira visita oficial do recém-investido Presidente Donald Trump foi à Arábia Saudita;
- A “dança das espadas” na recepção da monarquia saudita ao Presidente dos Estados Unidos, um significado muito para além do simbolismo monárquico:
- Na OPEP há suseranos e vassalos;
- Sintonias de paz, entre o Comandante Hugo Chavez e o Presidente José Eduardo dos Santos, para fazer face às ingerências e manipulações de toda a ordem que Angola e a Venezuela têm vindo a sofrer.

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