Paulo Tavares | Diário de Notícias
| opinião
O prejuízo revelado ontem pelo
Novo Banco foi classificado como "histórico" e o Estado, através do
Fundo de Resolução, vai ter de entrar com mais 450 milhões. Boa parte desse
prejuízo justifica--se com o registo de imparidades - créditos que o Novo Banco
julga não poder recuperar, à luz de novas regras definidas pela nova
administração e pelos novos acionistas.
A história, no essencial uma
limpeza de balanço semelhante à que foi operada na CGD também com dinheiro
público, não vai ficar por aqui. Agora ficaram registados 2056 milhões de
imparidades, mas "amanhã" há de ficar anotado o resto que falta até
perfazer o total da garantia estatal, de 3,9 mil milhões. Não é nada de
estranho. A Lone Star, detentora de 75% do banco bom que sobrou da resolução do
BES desde outubro do ano passado, tem todos os incentivos para proceder desta
forma. Repito. Nada do que a Lone Star está a fazer pode ser censurável. Está
apenas a beneficiar das condições de um negócio que fechou há cinco meses em
condições quase perfeitas para o comprador e perto de desastrosas para o
vendedor. Dir-me-ão: "Foi o negócio possível naquelas
circunstâncias." Certo, mas talvez fosse bom pensar no caminho percorrido
até à venda do Novo Banco naquelas condições, no acumular de erros que levaram
a esse cenário e no eventual apuramento de responsabilidades.
Nada disso acontecerá, claro, e o
fundo norte-americano age da forma mais racional. A mecânica está prevista no
acordo assinado entre a Lone Star, o Banco de Portugal e o Fundo de Resolução.
Os ativos que forem levados a imparidades passam para o Fundo de Resolução e o
Novo Banco recebe dinheiro do Fundo, limpando o balanço e ficando com os rácios
de capital mais apresentáveis. Isto poderá continuar até que se esgotem os tais
3,9 mil milhões de garantia estatal. Se parece um belo negócio, é porque é um
belo negócio.
Talvez seja altura de termos uma
longa conversa sobre a qualidade da gestão bancária em Portugal nos últimos
anos, sobretudo nos bancos que tinham capital e acionistas portugueses. Tinham.
Já não têm. Nesta semana ficámos a saber que a conta das ajudas públicas à
banca já vai nos 17 mil milhões de euros nos últimos dez anos - quase 9% do produto
interno bruto. É a medida real da qualidade da gestão que a banca portuguesa
tem tido, aparentemente com uma especialização em maus negócios e perda de
valor.
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